Ruth Manus*
Existe uma coisa chamada humildade. Uma coisa chamada espírito de
equipe. Uma coisa chamada maturidade. E daqui a pouco eles chegam aos 30 anos
sem fazer nenhuma ideia do que essas coisas significam.
Há quem diga que millennial é quem nasceu nos anos 80 e 90. Há quem diga
que são os dos anos 2000. Há bastante discussão sobre isso, mas enfim, nesse
texto, estou, de fato, me referindo, em média, aos nascidos a partir do começo
dos anos 90. Uma curiosa geração que nunca tem dúvidas acerca do seu
superestimado valor.
Parece que assim que os anos 90 chegaram, surgiu uma estranha geração de
jovens intocáveis, que parece ter certeza de que sua presença no planeta terra
é uma grande honra para todos. Já ouvi, mais de uma vez, millennials dizerem
coisas como “eu não pedi para nascer” para justificar seus comportamentos de
criança de 5 anos, quando já estão na casa dos 25. É claro que há exceções, mas
são tantos com esse perfil, que a generalização se torna inevitável.
Eu sinceramente não entendo. Parece que até o fim dos anos 80 nos
ensinaram a estudar, trabalhar duro e tentar ser feliz. Uma lógica bem simples
para a vida. Nos ensinaram a respeitar hierarquias e, acima de tudo, nos
ensinaram o significado da palavra “oportunidade”. Aprendemos a agarrar as
oportunidades, a suar para merecê-las e a sermos gratos por elas.
Mas de repente apareceu uma geração que acha que são as empresas que têm
a “oportunidade” de contratá-los. Ou seja, que é aquela tal grande honra para
todos, o fato de poder contar com a presença deles. Chegam em entrevistas de trabalho
e, em vez de tentarem mostrar seu melhor, começam a questionar o que empresa
tem para lhes oferecer. Se enxergam sempre como os titulares dos direitos e
nunca como os devedores de nada.
Nunca acham que são valorizados o bastante. Deveriam ganhar mais.
Deveriam trabalhar menos. Frases como “não estudei tanto para ficar carregando
papel” ou “aquela vaga não é compatível com as minhas ambições” são ditas por
gente de 22 anos, sem qualquer tipo de experiência, ainda vivendo às custas dos
pais. Eles selecionam, analisam, criticam e concluem que nada é bom o bastante
para eles.
A noção de cooperação também é bastante remota na cabeça dos
millennials. Se encontram um papel amassado no chão, não cogitam pegá-lo e
jogá-lo no lixo. O raciocínio é “não fui eu que joguei, não tenho que pegar”,
exatamente como fazem as crianças de 5 anos. Mas facilmente se sentem ofendidos
se ninguém se habilita a ajudá-los com seus prazos e suas crises.
Nos dias em que uma bomba explode e é preciso trabalhar até um pouco
mais tarde, recorrem a filosofias carpe diem e vão embora no seu horário
normal. Nos dias em que atrasam um relatório e precisam ficar até mais tarde,
consideram-se os grandes injustiçados da história. Dois pesos, duas medidas.
Sou a primeira a defender as jornadas de trabalho justas e não
excessivas, assim como concordo que todo profissional deva ser valorizado. Mas,
antes disso, existe uma coisa chamada humildade. Existe uma coisa chamada
espírito de equipe. Uma coisa chamada maturidade. E daqui a pouco eles chegam
na casa dos 30 anos, sem fazer nenhuma ideia do que essas coisas significam.
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