Juremir Machado da Silva*
Quando foi que passamos a ter vergonha da
poesia e a rir dos poetas? Quando foi que passamos a escrever em
segredo? Quando foi que nos refugiamos na solidão? Como é possível viver
sem metáforas, sem ilusões e sem metafísica? Quando foi que tudo se
perdeu e nos convertemos em meros consumidores de objetos e de dejetos
da civilização material? Onde foram parar as imagens que cultivávamos
para salvar nossas mentes da aridez?
Entre as minhas alegrias
Uma das últimas iguarias
Está olhar a chuva
Essa chuva de verão
Com grãos platinados
Que me traz o passado
Entre os meus espantos
Está essa velha alegria
Com as chuvas do passado
E os verões do olhar
Estendo as mãos na janela
Recolho os pingos em cantos
Molho os olhos de lágrimas
Que se confundem com vozes
A chuva vem da infância
Metafísica da existência
Território dos algozes
Junto às frutas do pomar
Olho a chuva e viajo
Vejo anas e fátimas
Lírios, mel e trilhos
Olhando a chuva aprendo
Com as metáforas mortas
Sobre a nudez das paredes
Cada pingo, cada banho
Cada chuva, cada nuvem
É a narração da história
Quando enfim me recolho
Tenho os braços lavados
Com o perfume da memória.
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* Jornalista. Sociólogo. Escritor. Prof. Universitário.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2019/02/11547/por-que-rimos-dos-poetas/
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