quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Por que rimos dos poetas?

Juremir Machado da Silva*
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Memória líquida

      Quando foi que passamos a ter vergonha da poesia e a rir dos poetas? Quando foi que passamos a escrever em segredo? Quando foi que nos refugiamos na solidão? Como é possível viver sem metáforas, sem ilusões e sem metafísica? Quando foi que tudo se perdeu e nos convertemos em meros consumidores de objetos e de dejetos da civilização material? Onde foram parar as imagens que cultivávamos para salvar nossas mentes da aridez?


Entre as minhas alegrias
Uma das últimas iguarias
Está olhar a chuva

Essa chuva de verão
Com grãos platinados
Que me traz o passado

Entre os meus espantos
Está essa velha alegria
Com as chuvas do passado
E os verões do olhar

Estendo as mãos na janela
Recolho os pingos em cantos
Molho os olhos de lágrimas
Que se confundem com vozes

A chuva vem da infância
Metafísica da existência
Território dos algozes
Junto às frutas do pomar

Olho a chuva e viajo
Vejo anas e fátimas
Lírios, mel e trilhos

Olhando a chuva aprendo
Com as metáforas mortas
Sobre a nudez das paredes

Cada pingo, cada banho
Cada chuva, cada nuvem
É a narração da história

Quando enfim me recolho
Tenho os braços lavados
Com o perfume da memória.
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* Jornalista. Sociólogo. Escritor. Prof. Universitário. 
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2019/02/11547/por-que-rimos-dos-poetas/ 
Imagem da Internet

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