LYA LUFT*
Neste estado de entressono em que nem
velamos nem dormimos, alinhavei há pouco o texto abaixo, que agora
arrumo como quem arma um brinquedo muito amado.
Se este mundo fosse meu, eu reinventaria a vida.
As pessoas seriam mais tranquilas e pacientes - não demais, ou seriam moles e sem graça.
Se este mundo fosse meu, eu mudaria os amores, que
seriam menos controladores, menos inseguros, menos egoístas e jamais
cruéis. Não perfeitos, pois seriam amores humanos com todos os nossos
jeitos e carências.
Se este mundo fosse meu, não haveria terras sem gentes
nem gentes sem terras mas todos teriam um lar para viver, florestas para
passear, campos para correr ou plantar, ruas para se encontrar, árvores
para admirar. Mas ninguém tentaria tirar a terra do outro, pois haveria
espaço de sobra para cada um.
Se este mundo fosse meu, haveria mais música e cantos
do que gritos e xingamentos, mais palavras ditas com afeto, ou com
sabedoria, com alegria. Mas haveria também segredos e prantos e chamados
e confidências, porque, mais uma vez, seríamos apenas humanos... mas
sem hipocrisia nem perversidade.
Se este mundo fosse meu, não haveria mães sem filhos
nem filhos sem mães... e pais também. Porque arrancarem alguém assim do
nosso lado é um horror que ninguém merece.
Se este mundo fosse meu, eu deletaria a mentira, a
hipocrisia, a pobreza, a miséria, a fome e o abandono. Mas deixaria umas
mentirinhas inocentes para depois a gente rir junto, tipo "claroooo que
eu ainda te amo!". E deixaria alguma necessidade, alguma ambição e
desejos para que sempre houvesse vontade de melhorar.
Se este mundo fosse meu, eu inventaria viagens para
conhecer todos os lugares do mundo como em mil tapetes mágicos que nunca
se chocariam nos ares porque seríamos espertos demais.
Se este mundo fosse meu, eu desinventaria a solidão e a
morte. Pois todos teríamos ao menos um amor e várias amizades, e em
lugar de adoecer e morrer, quando velhinhos mas ainda lúcidos e firmes,
iríamos nos desvanecendo devagar, cada vez mais leves e transparentes,
sem agonia ou desespero - porque todos saberiam que essa separação seria
só transitória.
E, se este mundo fosse meu, seríamos no fim como fiapos
de nuvens e novelos de cores pairando, girando ou voando em pura
beleza, reflexos de luz e formas móveis, pelo espaço afora ou perto dos
que nos amam.
Se este mundo fosse meu, seria em tudo maravilhoso e bom.
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* Escritora.
Imagem da Internet
Fonte: https://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=c02818c3649f96410d75921abb0674d4
Excelente ❤
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