Mário Faustino*
Que faço deste dia, que me adora?
Pegá-lo pela cauda, antes da hora
Vermelha de furtar-se ao meu festim?
Ou colocá-lo em música, em palavra,
Ou gravá-lo na pedra, que o sol lavra?
Força é guardá-lo em mim, que um dia assim
Tremenda noite deixa se ela ao leito
Da noite precedente o leva, feito
Escravo dessa fêmea a quem fugira
Por mim, por minha voz e minha livra.
(Mas já de sombras vejo que se cobre
Tão surdo ao sonho de ficar — tão nobre.
Já nele a luz da lua — a morte — mora,
De traição foi feito: vai-se embora.)
Postado por Conceição Freitas, Correio Braziliense, 30/07/2009
*O piauiense Mário Faustino foi jornalista, tradutor, critico literário (feroz) e poeta (dos melhores). Morreu jovem, aos 32 anos, quase numa premonição de uma vidente e dele mesmo, num poema. Deixou apenas um livro publicado, O homem e sua hora.
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