O encanto-feitiço
O autor inicia sua descrição dos fenômenos naturais evolutivos assim:
"Observe uma formiga em um prado, laboriosamente subindo por uma folha de capim, cada vez mais alto, até que cai, depois sobe outra vez e mais outra, como Sísefo rolando sua pedra, sempre tentando chegar ao topo. Por que ela faz isso? Que benefício estará buscando para si própria nessa estranha e extenuante atividade?” então ele conclui a história cientificamente: “[...] é que o cérebro da formiga foi dominado por um parasita minúsculo, Dicrocelium dendriticum, que precisa entrar no estômago de um carneiro ou de uma vaca para completar seu ciclo reprodutivo. Esse verme cerebral é que dirige a formiga a uma situação que beneficia sua progênie, e não a da formiga (id. p. 14)."
De fato, o verme cerebral se beneficia. Esses parasitas manipuladores infectam peixes e camundongos entre outras espécies. Esses caronas fazem com que seus hospedeiros se comportem de modo bizarro - até mesmo suicidas – para benefício do parasita, não do hospedeiro. Dennett transporta essa ideia para os seres humanos que também não poucas vezes deixam família, saúde, oportunidades positivas na vida, para promoverem uma ideia que se fixou em seu cérebro. Essas pessoa morrem por essas ideias que não invadem os cérebros humanos mas são criadas por cérebros, o que nos diferencia, nós humanos, dos outros animais. Somos criadores de idéias e a religiões têm mantido, nós, seres humanos, enfeitiçados há milhares de anos. Em síntese, na formiga, é o verme que invade o cérebro. No homem, o cérebro cria a ideia-verme-manipuladora (o meme – replicador cultural), que o faz agir, matar, alegrar-se [...]. Entre eles, há os tóxicos, e é onde ele inclui a religião e a conseqüente metáfora: Palavra de Deus é um Dicrocelium dentriticum (o parasita).
Esse encanto-feitiço ou parasita-divino só será quebrado mediante o estudo científico da religião, é o que Dennett anuncia.
(Excerto do Artigo escrito por Agemir Bavaresco e Zelmar Antônio Guiotto:
Religião como fenômeno natural em Daniel C. Dennett, no prelo.)
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