segunda-feira, 20 de julho de 2009

Educação: limites versus liberdade

Fábio Toledo*
Na semana passada falamos da importância da liberdade na educação. Naquela oportunidade, dissemos que não há formação sólida se o educador não tem em conta esse atributo inerente à natureza humana. No último domingo, dia 12, o Correio Popular trouxe uma entrevista com o psiquiatra Ivan Capelatto, intitulada, Infância sem limite abre caminho para o jovem agressor, na qual se ressalta a necessidade de se impor limites às crianças e adolescentes, sem o que lhes causará sérios danos. A matéria é muito interessante e deveria ser lida por todo educador. Porém, pode ficar uma aparente contradição: ao se impor limites aos filhos e alunos não se está desrespeitando a sua liberdade?
Essa contradição, como dissemos, é apenas aparente. É que tem na sua origem um falso conceito de liberdade. Liberdade não é fazer tudo o que se quer. Fazer sempre e em qualquer situação o que se tem vontade é um desvirtuamento da liberdade, em uma palavra, converte-a em libertinagem. A verdadeira liberdade está na possibilidade de optarmos em cada situação pelo verdadeiro bem, nosso e das demais pessoas nas quais refletem nossas decisões e ações.
Assim, o grande desafio do educador é fazer com que aqueles a quem educa façam bom uso da liberdade. Isso, embora seja relativamente simples de ser dito numa argumentação teórica, nem sempre é tão fácil de ser implementado na prática. Trata-se de fazê-los compreender em cada situação o que é bom e o que não é, de modo a tomarem a decisão certa e, sobretudo, que tenham a fortaleza necessária para agir de acordo com a decisão tomada, inclusive contrariando as suas vontades, se necessário.
Certa vez pude notar como um pai soube convencer seu filho de dois anos a não brincar com uma faca pontiaguda e perigosa. Enquanto dizia ao filho a conhecida frase “isso não é brinquedo”, pegou o objeto e pressionou a ponta contra mão da criança, com uma força tal que não a feria, mas que lhe causava certa dor necessária para noção do perigo. A criança voltou uma e outra vez em busca da faca, e o pai repetiu os mesmos gestos e palavras. E venceu. O filho rendeu-se aos argumentos que pode constatar.
Evidentemente os desafios vão crescendo conforme os filhos ou alunos vão ficando maiores. Chegará um momento em que a decisão não será brincar ou não com uma faca ou chupar um pirulito antes do almoço, mas dizer sim ou não a um colega que o convida a fumar um cigarro de maconha. Embora a decisão seja aparentemente mais complexa e difícil, o princípio que norteia é sempre o mesmo. Há de se perguntar: isso é bom para mim e é bom para os demais? Se fizer ou não fizer isso ou aquilo serei verdadeiramente mais livre e feliz?
Os limites não cerceiam a liberdade. Ao contrário, aperfeiçoam-na e permitem que o bom uso dela nos conduza à felicidade. Um jovem uma vez se queixou a um amigo mais velho de que os pais não lhe davam liberdade. O sábio conselho desse amigo merece ser meditado por todo educador. Disse ele: “Será que seus pais ao não permitirem que faça tudo o que quer estão desrespeitando sua liberdade? Pensemos com o que ocorre com um rio. Poderá ele se queixar de que as margens o comprimem, impedindo-o de ser livre? Mas são exatamente as margens que permitem que o rio que seja um rio e não um amostrado de águas que correm sem rumo. E veja o que acontece nos locais em que as margens são mais frágeis: a água transborda e apodrece num charco, perde a vida e não chega ao seu destino que é imensidão do mar. De fato, quando o rio vai ficando maior, também é maior a distância entre as margens. Assim também ocorre com as pessoas. Conforme vão crescendo e demonstrando que têm responsabilidade, os pais devem lhes dar mais autonomia. Chegará um dia em que as águas desembocarão num mar sem margens. Também dos filhos se espera que um dia não mais dependam dos pais. Mas assim como o rio não chega ao mar sem as margens que o ‘comprimem’, o filho ou a filha não se tornarão um homem ou uma mulher de verdade se lhes faltar os limites que os pais lhe demarcam em cada fase da vida, por amor”.
*Fábio Henrique Prado de Toledo é juiz de Direito em Campinas.
http://cpopular.cosmo.com.br/mostra_noticia.asp?noticia=1643810&area=2190&authent=01243BB81BFBB239B6032A23698AAB

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