Joaquim Zailton B. Motta*
Um comercial bastante divulgado na mídia atual traz o recado de um dos maiores bancos brasileiros, em que se critica o excesso consumista do nosso tempo.
O consumismo tem circulado pelas nossas cabeças e pela sociedade sem que tenhamos uma noção adequada de sua importância. Foco frequente dos holofotes na mídia, destacadamente pela oneomania (compulsão de compras) mais comum nas mulheres, permeia o anedotário da atualidade como um vício feminino.
Ao longo da evolução econômico-financeira, desde que o ser humano aprendeu a fazer trocas comerciais, com os primeiros escambos, as classes sociais se diferenciaram pela capacidade de compra. Os aristocratas esnobavam seus gastos, os emergentes de hoje podem comprar cada vez mais.
Entretanto, no sistema capitalista, a pirâmide social segue contemplando pouca gente. O topo é fruído por uma pequena minoria e a grande maioria sustenta as bases. Essa situação não é responsabilidade do capitalismo, apenas. O próprio homem negocia com poucos escrúpulos, envolve-se em corrupções e más políticas.
Para melhor aproveitarmos as oportunidades do sistema, os homens teriam que se relacionar com trocas proporcionadas e mercado justo. Isso seria possível à medida que conseguissem aprimorar o amor, a ética e a dinâmica da democracia.
Desde as primeiras relações com os membros de sua família original, o homem foi criando um dever de amar ou de aparentar amor. Não observou experiências suficientes na interação familiar e na História que lhe avalizassem como um efetivo e competente exemplo ético e amoroso.
As fraquezas e temores do homem o impediram de amar mais e melhor e o induziram a impostar aparências amorosas. Além do prejuízo emocional, a hipocrisia disfarçou a insegurança afetiva e precisou buscar outras defesas consideradas politicamente corretas.
A segurança veio a ser encontrada principalmente no poder material. O homem passou a se entusiasmar pelo argentarismo. Empenhou-se na luta para enriquecer, como se os recursos materiais o defendessem das desgraças e até da finitude.
No entanto, apesar do corpo ser matéria, ele não se reforça com poder material. Muito menos se conseguiria reforço para o espírito com esse tipo de riqueza. A cultura cristã, especialmente na perspectiva da religião católica, despreza os bens tangíveis.
A contradição da própria Igreja, que se consolidou através de um enorme pecúlio, deve ter contribuído muito para a ilusão da segurança material.
"...o medo supera o amor,
pois o dinheiro pressupõe
segurança."
Jacques Ellul, sociólogo e teólogo francês, anarquista e cristão, afinou-se com ideias marxistas e foi militante da Resistência Francesa. Em seu livro O Homem e o Dinheiro, ele defende que o dinheiro é um poder com moral própria que determina a forma do ser humano viver.
O Pe. Júnior Vasconcelos Amaral, um dos novos destaques do clero nacional, escreve: “... cristãos se deixaram conduzir pelo abominável pecado da idolatria do dinheiro, do deus Mamon... nome de um deus sírio, o senhor das riquezas, do dinheiro. Trocando em miúdos, aquele que serve ao dinheiro na Comunidade Cristã deixa de agradar a Deus”.
As religiões indicam Deus como o referencial definitivo do Amor, e Mamon como a referência essencial oposta, o Dinheiro.
Voltando para a nossa natureza, independentemente de critérios divinais, é possível que tenhamos essas duas potencialidades a explorar. Somos amorosos e argentaristas, mas o segundo traço tem predominado sobre o primeiro. Corresponde ao conflito das nossas emoções basais: o medo supera o amor, pois o dinheiro pressupõe segurança.
Para inverter isso, devemos nos empenhar por uma reforma amorosa. Ou então, seguir a ironia do ex-futebolista e ator Eric Cantena, polêmico francês que sugeriu: “Para falar de revolução [ .... ] há uma coisa muito simples de se fazer: você vai ao banco da sua cidade e retira o seu dinheiro”...
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* Médico psiquiatra, psicoterapeuta e sexólogo. Escritor, já publicou 07 livros, o mais recente em maio de 2007. Fonte: http://www.blove.med.br 29/01/2011
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