domingo, 27 de fevereiro de 2011

Estamos mais pobres

Rosane de Oliveira*
Fui acordada no meio da madrugada pelo plantão de zero hora.com a notícia da morte do escritor Moacyr Scliar. Mesmo sabendo há vários dias que a situação dele era crítica, custei a assimilar a notícia, talvez porque seja muito forte na minha cabeça a idéia de que Scliar era imortal. Era, não. É ainda, pela obra que deixa.
Conheci Scliar pessoalmente na redação de Zero Hora, muitos anos depois do primeiro contato com sua obra. No início, não tinha coragem de me aproximar — como não tinha de chegar perto do Luis Fernando Verissimo, do Décio Freitas e de outros deuses do texto. Foi o Scliar que na sua simplicidade puxou conversa, falou de assuntos da política com conhecimento de causa e passou a idéia de que era apenas um de nós.
Quando chegou à Academia Brasileira de Letras já era tão próximo de todos nós na redação de Zero Hora que foi uma festa vê-lo envergar o fardão.
De todas as lembranças que Scliar nos deixa, a mais forte é a da sua capacidade incomparável de trabalho. Se o editor de qualquer área precisasse de um texto de qualidade para apoiar uma matéria sobre os mais diversos assuntos recorria a ele, a sua lucidez de analista e a seu conhecimento enciclopédico. Não tenho notícia de que alguma vez tenha dito não. As duas perguntas que fazia eram sempre as mesmas: em quanto tempo precisava entregar a tarefa e qual era o tamanho do texto.
Não é de se estranhar, pois, que nesses anos todos de ZH ele tenha sido presença regular no Segundo Caderno, na Opinião e no Vida e colaborador bissexto na Política, na Geral e no Mundo, além de dar palpites sobre basquete, o esporte que praticava, e o Cruzeiro, seu time do coração.
Nós aqui vamos sentir saudade do Scliar. Ainda não nos acostumamos com a ausência dele neste início de 2011. Como é período de férias, uns chegam, outros saem e a gente tem a impressão de que em março nos reencontraremos todos. Antes que março chegasse, o cavalheiro Scliar nos deixou no início desta madrugada. A redação de ZH está mais pobre.
Um abraço ao Beto e à Judit, seus afetos mais caros. Se para nós, colegas, a sensação de vazio é imensa desde que soubemos do AVC, posso imaginar o que significa para a família.
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* Colunista da ZH
Fonte:
http://wp.clicrbs.com.br/rosanedeoliveira 27/02/2011

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