terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O tempo não para

TOSTÃO*
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Ronaldo foi um dos maiores de todos
os tempos. Se não fossem as contusões,
 seria ainda melhor

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O ATLETA RONALDO, triste e aliviado, despediu-se do futebol. Aliviado por não precisar fazer mais o que não consegue fazer bem.
Ronaldo afirmou o que já tinha sido dito na Itália, que é portador de hipotireoidismo (baixa produção de hormônios da tireoide), que não usava hormônio por causa de exames antidoping, que por isso teve problemas com o peso e que o Corinthians sabia de tudo ao contratá-lo. Segundo informação do médico Eduardo de Rose, da Agência Mundial Antidoping, ao site globoesporte.com, esse hormônio não consta da lista de substâncias proibidas.
Nenhum repórter perguntou a Ronaldo o que realmente aconteceu antes do jogo final da Copa da França, em 1998, se foi uma convulsão ou um problema emocional. Provavelmente Ronaldo também não sabe. O mistério continua.
Em 1993, por causa de elogios que fiz a Ronaldo em seus primeiros jogos pelo Cruzeiro, repórteres o levaram à minha casa para fazer uma reportagem. Ronaldo me perguntou se eu tinha comprado o apartamento com o dinheiro que ganhara no futebol. Ele não imaginava que, em pouco tempo, ia ganhar, a cada semana, o suficiente para comprar o imóvel.
"Para ser um atacante fenomenal,
como foi Ronaldo,
é preciso, além de excepcionais qualidades técnicas,
 mapear, em um piscar de olhos,
tudo o que está à sua volta,
perceber os movimentos dos
companheiros e adversários e
 calcular a velocidade da
 bola e dos marcadores.
No dia da reportagem, tinha saído uma foto de Ronaldo no jornal, de cueca, em seu modesto apartamento. Disse a ele que deveria ter cuidado. Ele não deu bola para a observação. Como quase todas as celebridades, Ronaldo não separou o que é público do privado.
Ronaldo foi um dos maiores jogadores de todos os tempos. Se não fossem as graves contusões, seria ainda melhor. Ronaldo foi tão espetacular, tão diferente, que fez pouquíssimos gols da maneira usual, antecipando-se aos zagueiros nos cruzamentos.
Para ser um atacante fenomenal, como foi Ronaldo, é preciso, além de excepcionais qualidades técnicas, mapear, em um piscar de olhos, tudo o que está à sua volta, perceber os movimentos dos companheiros e adversários e calcular a velocidade da bola e dos marcadores.
Os especialistas médicos chamam isso de inteligência cinestésica. Os psicanalistas falam que é um saber inconsciente, que antecede ao pensamento lógico. Ele sabe, mas não sabe que sabe. Fernando Pessoa escreveu que as coisas não têm explicação, têm existência. Todos estão certos, principalmente o poeta.
Podemos analisar as características e qualidades técnicas de Ronaldo, dizer o número de gols que fez na carreira, quantos e quais os títulos conquistados, quantas vezes foi eleito o melhor do mundo, mas é impossível quantificar a grandiosidade de seu talento.
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* Colunista de futebol da Folha
Fonte: Folha online, 15/02/2011

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