sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Deus dos ateus

Átrio dos Gentios discute sobre o Deus dos ateus

Os ateus, sejam eles conscientes ou não, também deixam em sua vida um espaço para Deus, segundo se discutiu na primeira reunião realizada pelo Átrio dos Gentios, um espaço (não físico) para o diálogo entre crentes e ateus, promovido pelo Conselho Pontifício para a Cultura, por sugestão de Bento XVI.
Diante as 1.500 pessoas que lotaram o auditório da Universidade de Bolonha, em 12 de fevereiro, tomaram a palavra pensadores que se consideram ateus ou crentes, em um diálogo presidido pelo cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, e por Ivano Dionigi, reitor desta instituição universitária, a mais antiga do mundo em funcionamento ininterrupto.
"Acho que falar do homem é equivalente a falar de Deus; e falar de Deus equivale, sobretudo, a falar do homem", disse Dionigi em seu discurso.
"Ser homens de verdade significa levantar questões últimas e interpretar a vida como um contínuo interrogante e uma busca dessa verdade que nunca é cômoda nem consoladora", acrescentou o reitor.
Entre aqueles que tomaram a palavra, encontrava-se o ex-prefeito de Veneza, Massimo Cacciari, professor de Estética na universidade daquela cidade, que tratou da questão do "Ateísmo na cristandade".

Deus no ateísmo
"Quando vocês ouvem Bach,
veem o nascimento de Deus...
Depois de um oratório, uma cantata
ou uma Paixão,
Deus deve existir...
E pensar que tantos teólogos e
 filósofos desperdiçaram dias e noites
à procura de provas da existência de Deus,
esquecendo-se da única!"

(Cioran)


O cardeal Ravasi, em seu discurso, comentou as palavras do filósofo de Veneza para falar sobre "Deus no ateísmo" ou sobre o que poderia ser definido como a espiritualidade de um ateu.
E, para fazer esta reflexão, utilizou o pensamento de Emil Cioran (1911-1995), escritor e filósofo romeno, que viveu a maior parte de sua vida em Paris: ele se considerava da "raça dos ateus" e, no entanto, "vivia com o anseio do seguimento do mistério divino", constatou o cardeal italiano.
"Eu sempre dei voltas ao redor de Deus como um delator: ao não ser capaz de invocá-lo, eu o espiei", dizia.
Cioran se declarava ateu e agnóstico e, no entanto, chegou a sugerir aos teólogos um caminho "estético" particular para provar a existência de Deus. Ele escreveu: "Quando vocês ouvem Bach, veem o nascimento de Deus... Depois de um oratório, uma cantata ou uma Paixão, Deus deve existir... E pensar que tantos teólogos e filósofos desperdiçaram dias e noites à procura de provas da existência de Deus, esquecendo-se da única!".
Para o escritor, "o homem faz você perder toda a fé, é uma espécie de demonstração da inexistência de Deus". "Mas, felizmente - e essa é a grande contradição - existe também, como dissemos antes, Bach...", concluiu o cardeal Ravasi.
"Eu sempre dei voltas ao redor de Deus
como um delator:
 ao não ser capaz de invocá-lo,
eu o espiei"
(Cioran)
A Dra. Gaia Zanini, assistente do Átrio dos Gentios, explicou a ZENIT o espírito desta iniciativa, observando que "hoje, mais que nunca, a Igreja se sente chamada a uma dimensão de confronto, de abertura, de contínua revitalização dos seus fundamentos, precisamente por meio desse recurso inesgotável que é o diálogo".
E para que o diálogo seja frutífero, acrescenta Zanini, não é necessário somente encontrar a linguagem adequada e a profundidade dos argumentos em si, mas também a "fidelidade às próprias posturas, a continuidade e a renovação".
O próximo encontro do Átrio dos Gentios se realizará nos dias 24 e 25 de março, em Paris, com discussões na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), na Sorbonne, no Instituto da França e no Colégio dos Bernardinos. A reunião terminará com uma noitada de festa, aberta a todos, sobretudo aos jovens, sobre o "Átrio do Desconhecido", a ser realizada no átrio da Catedral de Notre Dame de Paris (cf. 26 de janeiro de 2011).
 (Jesús Colina)
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Primeira sessão na Universidade de Bolonha
BOLONHA, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) -
Fonte: Zenit.org. 17/02/2011
Imagens da Internet

Um comentário:

  1. Penso que um dos principais caminhos para evangelização é abrir à discussão assuntos pertinentes à meneira como vemos Deus em nossa religião. Isso promove, sem dúvida alguma, inclusive o fortalecimento e desenvolvimento de nossas crenças.

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