Laura Meyer da Silva*
O filme Cisne Negro é uma ótima oportunidade de observar e compreender como se desencadeia um processo psicótico. A relação mãe e filha, provável responsável pela construção da personalidade obsessivo-compulsiva da bailarina, vai gradualmente nos dando o tom doentio que foi sendo construído entre as duas ao longo da vida.
A bailarina é obrigada a reprimir seus instintos mais primitivos, que são o sexo e a agressão. Reforçado por uma constante mensagem de que ela é uma menina boazinha, tratada pela mãe como se ainda fosse uma criança que precisa ser alimentada e colocada para dormir todas as noites, ao som de uma caixinha de música, onde rodopia uma pequena bonequinha bailarina. Tal qual aquela bonequinha, a filha também é tratada ao ser desta forma manipulada pela mãe, bailarina frustrada que deixou de dançar por ter engravidado daquela filha. Se a filha não se comporta como a mãe quer, a mãe fica muito braba e passa a agredi-la. A fragilidade da bailarina é evidente, mas ela mantém o equilíbrio utilizando as defesas obsessivo-compulsivas que têm como objetivo controlar esses instintos.
"Fora das telas, muitas vezes,
sem se darem conta,
as mães fazem exigências às suas filhas.
Passam mensagens de que esperam delas
a perfeição que elas
não conseguiram atingir."
Ao ser convidada para interpretar O Lago dos Cisnes, objetivo de sua vida ter o papel principal no corpo de dança, vai iniciar processo de ruptura entre a realidade e a fantasia. O papel exige que ela dance primeiro como cisne branco. Para ela é fácil, pois é o papel que já desempenha bem, o lado bonzinho de sua personalidade. Difícil é colocar em prática o outro lado, ou seja, sua agressão e sexualidade, pois, pela repressão, ela não tinha a liberdade de utilizá-las. A pressão exigida torna-se cada vez mais insuportável, rompendo-se a frágil estrutura e com isto passando a ter alucinações de despersonalização, pois não reconhece esses sentimentos como sendo dela. O esforço exigido para alcançar a perfeição revela um sofrimento intenso. São horas intermináveis de treino e comportamento bulímico, provocado por constantes vômitos.
Fora das telas, muitas vezes, sem se darem conta, as mães fazem exigências às suas filhas. Passam mensagens de que esperam delas a perfeição que elas não conseguiram atingir. Estas, para não decepcionarem suas mães, acabam acatando e desenvolvendo comportamentos doentios. É cada vez mais frequente se observarem jovens que sofrem de bulimia e anorexia nervosa. Através de dietas e plásticas infindáveis, elas procuram o corpo perfeito. Quando, na verdade, o mais importante seria proporcionar à filha sentir-se amada e aceita pela pessoa que ela é.
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*PsicólogaFonte: ZH online, 19/02/2011
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