Paul Harris*
Redes como o Facebook mais isolam
do que unem, segundo um número
crescente de estudiosos
O modo como as pessoas se comunicam freneticamente on-line através do Twitter, do Facebook e das mensagens instantâneas pode ser considerando uma forma de loucura moderna, segundo uma importante socióloga americana.
“Um comportamento que se tornou típico ainda pode expressar os problemas que antes nos faziam considera-lo patológico”, escreve Sherry Turkle, professora do MIT, em seu novo livro, Alone Together (Sozinhos Juntos), que está liderando o ataque contra a era da informática.
O livro de Turkle , que será publicado no Reino Unido no mês que vem, causou sensação nos Estados Unidos, país geralmente mais obcecado pelos méritos da redes sociais. Ela participou na semana passada do programa cômico de TV de Stephen Colbert, The Colbert Report. Quando Turkle disse que esteve em enterros em que as pessoas verificavam seus iPhones, Colberto retrucou: “Cada um tem sua própria maneira de dizer adeus”.
A tese de Turkle é simples: a tecnologia ameaça dominar nossa vida e nos tornar menos humanos. Sob a ilusão de permitir uma melhor comunicação, na verdade nos isola das verdadeiras interações humanas, em uma ciber-realidade que é uma pobre imitação do mundo real.
Mas o livro de Turkle não é a única obra do tipo. Uma reação intelectual nos Estados Unidos pede a rejeição de alguns dos valores e métodos das comunicações modernas. “É uma enormes revolta. Os diferentes tipos de comunicação que estamos utilizando tornaram-se algo que assusta as pessoas”, disse o professor William Kist, especialista em educação na Universidade Estadual de Kent, em Ohio.
A lista de ataques à mídia social é longa e vem de todos os cantos do mundo acadêmico e da cultura popular. Um best seller recente nos EUA, The Shallows (Águas Rasas ou Os Baixios) de Nicholas Carr, sugeriu que o uso da internet estaria modificando nosso modo de pensar, para nos tornar menos capazes de digerir quantidades de informação grandes e complexas, como livros e artigos de revista. O livro baseou-se em um ensaio que Carr escreveu na revista Atlantic. Era igualmente enfático e se intitulava O Google Está nos Tornando Idiotas?
Menos humanos.
Para a socióloga Sherry Turkle,
a tecnologia ameaça nos isolar das
interações mais verdadeiras.
Outra linha de pensamento no campo do ciberceticismo encontra-se em The Net Delusion (A Ilusão da Rede), de Evgeny Morozov. Ele afirma que a mídia social produziu uma geração de slacktivists (ativistas frouxos). Ela tornou as pessoas preguiçosas e consagrou a ilusão de que clicar com o mouse é uma forma de ativismo equivalente às doações em dinheiro e tempo no mundo real.
Outros livros incluem The Dumbest Generation (A Geração mais Idiota), de Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory, que afirma que “o futuro intelectual dos Estados Unidos parece sombrio” – e We Have Met the Enemy (Encontramos o Inimigo), de Daniel Akst, que descreve os problemas de autocontrole no mundo moderno, dentre os quais um componente-chave é a proliferação das ferramentas de comunicação.
A reação atravessou o Atlântico. Em Cyburbia, publicado na Grã-Bretanha em 2010, James Harkin investigou o mundo tecnológico moderno e encontrou algumas possibilidades perigosas. Embora Harkins não seja um “cibercético” puro, encontrou muitos motivos de preocupação, assim como de satisfação, na nova era tecnológica. Em outra frente, o filme de sucesso A Rede Social tem sido considerado um ataque ligeiramente velado à geração da mídia social, sugerindo que o Facebook foi criado por pessoas que não conseguiam se encaixar no mundo real.
“Nós inventamos tecnologias inspiradoras
e potencializadoras,
mas permitimos que
elas nos reduzissem”.
O livro de Turkle, porém, provocou mais debates até agora. É um grito de alerta para que se ponha de lado o Blackberry, se ignore o Facebook e se evite o Twitter. “Nós inventamos tecnologias inspiradoras e potencializadoras, mas permitimos que elas nos reduzissem”, ela escreve.
Outros críticos apontam diversos incidentes para reforçar seus argumentos. Recentemente, a cobertura na mídia da morte de Simone Back, em Brighton (Inglaterra), concentrou-se em um bilhete de suicida que ela havia “postado” no Facebook e que foi visto por muitos de seus 1048 “amigos” no site. Mas nenhum deles tentou ajuda-la – em vez disso trocaram insultos na página de Back no Facebook.
O livro de Turkle também agradou, porque suas obras anteriores, The Second Self (O Segundo de Si Mesmo) e Life on the Screen (Vida Tela), pareciam mais abertas ao mundo tecnológico. “Alone Together parece ter sido escrito pela gêmea maligna de Turkle”, brincou Kist.
Mas hoje até a reação tem uma reação, e muitas pessoas saltam em defesa da mídia social. Elas indicam que e-mails, Twitter e Facebook geraram mais comunicação e não menos – especialmente para pessoas que podem ter dificuldades para se encontrar no mundo real devido à distância física ou à diferença social.
Os defensores dizem que sua forma de comunicação é apenas diferente, e algumas pessoas podem ter dificuldade para se adaptar. “Quando você entra em um café e todo mundo está em silêncio sobre seus laptops, compreendo o que ela diz sobre não conversar uns com os outros”, disse Kist. “Mas ainda é comunicação. Eu discordo dela. Não vejo a coisa tão preto e branco.”
Alguns especialistas acreditam que o debate está tão acirrado porque as redes sociais são um novo campo que ainda precisa desenvolver regras de etiqueta que todos possam respeitar, e que por isso incidentes, como a morte de Simone Back, parecem tão chocantes. “Sejamos francos, não vejo sinais de alguém se desligando”, disse Kist. “Mas talvez precisemos desenvolver uma ´netiqueta´para lidar com tudo isso.
Ele também indicou que o “mundo real” a que muitos críticos da mídia social se referem nunca existiu realmente. Antes que todo mundo viajasse no ônibus ou no trem com as cabeças enterradas em iPads ou smartphones, geralmente apenas ficavam em silêncio. “Não víamos as pessoas conversar com estranhos espontaneamente. Elas se voltavam para si mesmas”, disse Kist.
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*The Observer
*The Observer
Por Paul Harris
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Revista CARTA CAPITAL, 02/02/2011
Fonte: http://www.brasilianasorg.com.br/blog/gilberto
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