sexta-feira, 27 de maio de 2011

COGNIÇÃO

Mariana Pizarro*

Mariana Costa/UnB Agência

Treino, equilíbrio e erros:
a fórmula para se tornar um expert

O expert em expertise Karl Anders Ericsson mostra que não é a genética nem o número de anos trabalhando que torna alguém expecional em determinado assunto, mas sim muito treinamento

Dom, genética e experiência não são suficientes para transformar alguém em um expert na sua área profissional. Para se tornar excelente em determinado assunto é necessário muito treino, dedicação, equilíbrio emocional e alguns erros no meio do caminho. É o que defende o expert em expertise Karl Anders Ericsson, da Universidade de Tallahassee, nos Estados Unidos, em palestra apresentada nesta terça-feira, 25, no Beijódromo da Universidade de Brasília (UnB).
O professor define como expert alguém capaz de reproduzir repetidas vezes uma performance excelente em determinada área do conhecimento. Uma capacidade que, segundo o professor, exige um treinamento específico. Nesse tipo de treinamento, que Karl Anders chama de estudo deliberado, a pessoa que deseja se tornar expert deve ter a instrução de um professor, que irá definir uma tarefa específica para ser completada com perfeição. Após várias semanas de treinamento solitário para atingir o máximo da atividade, o aluno volta ao professor para ser analisado e receber uma nova tarefa. “Ser um expert não depende dos genes da pessoa, mas sim do tempo dedicado ao treino e estudo. Em alguns casos, depende também de quando começou o treinamento”, afirmou.
Como exemplo, Karl Ericsson citou estudo que avaliou como alcançar a expertise no piano. “O aluno é instruído a tocar o mesmo fragmento de uma partitura até conseguir repeti-lo exatamente da mesma forma, e de forma superior aos demais pianistas”, disse durante a palestra institulada Aprendizagem de Alto Nível Para a Expertise, proferida durante o VII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais, na UnB.

ERROS
– Karl Ericsson explicou ainda que, ao alcançar a expertise em certa área de conhecimento, o expert deve continuar praticando e, ao praticar, deve errar. “Se você é um expert, tem de ter a chance de errar para poder aprender”, afirmou o professor, voltando à ideia do estudo deliberado.
Ele citou uma pesquisa realizada entre médicos formados que se consideravam profissionais acima da média e estudantes de Medicina. Na pesquisa, ambos os grupos realizaram a auscultação cardíaca de pacientes, processo de escuta de sons internos do corpo, e os estudantes apresentaram resultados melhores que os médicos. “Isso aconteceu porque os médicos já não praticavam mais”, explicou o professor em meio a risos da platéia, que se divertia com os exemplos citados. “Claro que com algumas semanas de treino, os médicos serão capazes de conseguir melhorar seus resultados e superar os estudantes novamente”, completou o professor.
As principais diferenças entre um expert e um não-expert, na opinião de Karl, são adquiridas no longo período de treinamento e estudo, como a escolha das melhores opções em jogadas de xadrez, ou a habilidade para tocar uma mesma música duas vezes exatamente da mesma forma. Mas essas diferenças incluem também fatores emocionais. “Ser um expert é ser capaz de controlar suas emoções para que você as use para o seu benefício”, explica. “Em algumas performances de esportes, como levantamento de peso, é possível usar as emoções para ficar nervoso”, exemplifica o professor, lembrando que, no caso de jogadores de xadrez, o uso das emoções não é interessante. “Mestres de xadrez procuram não ter emoções no momento em que jogam”. Karl cita ainda outro estudo que avaliou músicos bons e excelentes de uma orquestra. Aqueles considerados excelentes tiravam uma soneca depois do almoço, enquanto os bons relaxavam menos.
Para Ericsson, a expertise pode influenciar até mesmo no nível de desenvolvimento dos países. “Investir em expertise é fundamental. Assim que as pessoas enxergarem que é possível atingir um potencial muito maior do que se espera, ocorrerá uma diferença. Uma diferença nas universidades, lugares em que pessoas podem receber algum tipo de prática, treinamento, ou uma chance de fazer o que querem”, conclui o professor.

MAIS MÚSCULOS
– Além de formar um expert, o estudo deliberado pode também provocar modificações no corpo. É o caso de jogadores de tênis, que apresentam ossos mais grossos no braço que segura a raquete. “Isso se dá pelas vibrações do impacto quando acerta a bola, sem contar outros processos biológicos que irão deixar o osso mais forte”, explicou Karl.
Outro exemplo citado é a flexibilidade nas bailarinas de balé. Karl explica que, neste caso, a idade faz também uma grande diferença. “As ‘mudanças adaptáveis’ ao corpo, como a flexibilidade e a estrutura óssea que permita movimentos mais ousados, devem ocorrer até os 10 anos de idade, que é quando os ossos se calcificam. Se a bailarina não tem isso, obviamente estará em desvantagem”, ilustra o sueco.
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*Da Secretaria de Comunicação da UnB
Fonte: http://www.unb.br/ 26/05/2011

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