O cérebro humano é quase infinitamente maleável.
Por Nicholas Carr
Minha mente agora espera assimilar informação
da mesma maneira que a internet a distribui
Ao longo dos últimos anos, eu tenho tido um sentimento desconfortável de que alguém, ou algo, está mexendo com o meu cérebro, remapeando os circuitos, reprogramando a memória. Não estou mais pensando como antes.
Eu acho que sei o que está acontecendo. Por mais de uma década eu tenho ficado muito tempo na internet, procurando e navegando e às vezes acrescentando alguma coisa à grande base de dados. Para mim, assim como para outros, a internet está se tornando o meio universal, o canal para a maior parte da informação que flui através dos meus olhos e ouvidos para dentro de minha cabeça.
Como o teórico da comunicação Marshall McLuhan assinalou na década de 1960, os meios não são simplesmente canais passivos de informação. Eles fornecem a substância do pensamento, mas também moldam o processo do pensar. E a internet parece estar dilapidando a minha capacidade de concentração e reflexão. Minha mente agora espera assimilar informação da mesma maneira que a internet a distribui: numa rápida corrente de partículas. Antigamente,0 eu era um mergulhador no mar das palavras. Agora eu deslizo pela superfície da água como um cara num jet ski.
Graças à onipresença do texto na internet, sem mencionar a popularidade de mensagens de texto de telefones celulares, possivelmente estamos lendo mais hoje do que na década de 1970 ou 1980, ou quando a televisão era o meio de comunicação por excelência. Mas é um tipo de leitura diferente, e por trás dela existe um tipo de raciocínio diferente – talvez até uma nova noção de individualidade. “Não somos o que lemos,” diz Maryanne Wolf, uma psicóloga do desenvolvimento da universidade Tufts e a autora de Proust e a Lula: A História e Ciência Por Trás do Cérebro Leitor. “Somos como lemos.” Wolf receia que o estilo de leitura promovido pela internet, um estilo que põe “eficiência” e “urgência” acima de tudo, possa estar enfraquecendo a nossa capacidade de leitura profunda que apareceu quando outra tecnologia mais antiga, a imprensa, tornou longas e complexas as obras em prosa lugar-comum.
A leitura, explica Wolf, não é uma habilidade instintiva para humanos. Não está gravado em nossos genes como a fala está. Temos que ensinar nossas mentes como traduzir os caracteres simbólicos que nós vemos em linguagem compreensível. E a mídia ou outras tecnologias que usamos no aprendizado e ofício da leitura têm um papel importante em moldar os circuitos neurais dentro de nossos cérebros. A internet promete ter efeitos de alcance particularmente longos sobre a cognição.
Googleplex
O quartel-general do Google, em Mountain View, Califórnia – o Googleplex – é o templo maior da internet. O Google, diz o seu executivo-chefe, Eric Schmidt, é “uma companhia fundada em torno da ciência da medição,” e está se empenhando para “sistematizar tudo” o que faz.
A companhia declarou que sua missão é “organizar a informação mundial e torná-la universalmente acessível e útil.” Ela procura desenvolver “o mecanismo de busca perfeito,” o que define como algo que “entende exatamente o que você quer dizer e retorna exatamente o que você quer.” Na visão do Google, a informação é uma espécie de mercadoria, um recurso utilitário que pode ser explorado e processado com eficiência industrial. Quanto mais pedaços de informação nós consigamos “acessar” e quanto mais rápido consigamos extrair o seu sumo, tanto mais produtivo nos tornaremos como pensadores.
Aonde acaba? Sergey Bin e Larry Page, os talentosos jovens que fundaram o Google enquanto faziam um doutorado em ciência da computação em Stanford, falam com frequência de sua vontade de transformar o seu mecanismo de busca em uma inteligência artificial, que talvez esteja conectada diretamente aos nossos cérebros
A ideia de que nossas mentes devem operar como uma máquina processadora de dados de alta velocidade não só está inscrito no DNA da internet, é também o modelo de negócios predominante na rede mundial. Quanto mais rápidos navegamos pela internet – quanto mais clicamos em links e vemos páginas – mais oportunidades o Google e outras companhias ganham ao coletar informação sobre nós e nos retornar anúncios.
Ao dependermos de computadores para mediar o entendimento do nosso mundo, é a nossa própria inteligência que se equipara à inteligência artificial.
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Fontes: The Atlantic - Is Google making us stupid
http://opiniaoenoticia.com.br 15/05/2011
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