Migração
Livro mostra que migração poderia
reduzir a pobreza global e que, no futuro,
os 'trabalhadores móveis' podem salvar
os países ricos
Cuidar de uma sogra mandona, trabalhar pesado na cozinha e ver o marido apenas algumas semanas ao ano. E, para isso, ter que se mudar da sua casa. São circunstâncias nada agradáveis e que quase nenhuma mulher gostaria de vivenciar. Mas é isso que acontece quando homens bengalis precisam trabalhar em construções no Oriente Médio, e suas esposas passam a morar com sua família. É certo que o dinheiro que eles recebem chegam à casa em abundância, mas, muitas vezes para seus pais e não suas esposas. O fato é que a migração cria vencedores tanto quanto cria perdedores.
Ian Goldin, Geoffrey Cameron e Meera Balarajan tentam mostrar, em seu livro “Exceptional People” (Pessoas excepcionais), que os ganhos superam os prejuízos.
Se os países ricos pudessem receber migrantes suficientes de países pobres, expandindo sua força de trabalho em apenas 3%, o mundo seria cerca de US$ 356 bilhões mais rico por ano. Com as fronteiras completamente abertas, cerca de US$ 39 trilhões seriam acrescidos na economia global dentro de 25 anos. A migração é, segundo várias estimativas, a ferramenta mais eficaz para reduzir a pobreza global. A diferença salarial entre países pobres e ricos é muito maior do que há um século, e os custos emocionais de deixar o lar são muito mais leves.
Por isso, não é espantoso que o número de migrantes intenacionais tenha dobrado no último quarto do século, passando dos 200 milhões. Aumentar a mobilidade e combinar isso com comunicações mais baratas é um indício de que, no futuro, o mundo estará conectado de uma maneira nunca antes vista. Mas esse ponto de vista foi pouco explorado pelos autores. Entretanto, este é um livro de ambições ousadas e habilmente cumpridas.
"A demanda por trabalhadores
qualificados irá crescer.
Os países irão competir ferozmente
pelo talento móvel.
A migração irá definir o futuro do mundo.
Ao menos é assim que
os autores pensam."
Aula de história
Os autores oferecem aos leitores a história da migração, desde as primeiras movimentações na África até os dias de hoje. As modernas técnicas de decodificação genética permitiram que Goldin desenhasse um mapa de como seus antepassados saíram do leste da África 31 mil anos atrás. Após traçar um pano de fundo histórico, os autores fornecem um guia rigoroso sobre os custos e benefícios da migração nos dias de hoje.
Os países mais pobres podem sofrer quando perderem seus melhores profissionais, mas a perspectiva de migração estimula as pessoas a buscar mais conhecimento sobre o mercado. Muitos podem acabar decidindo não migrar. Outros voltam ao seu país de origem com novas competências e um novo saldo bancário. Sob a ótica global, a “fuga dos cérebros” ajuda os países pobres, e, obviamente, beneficia os migrantes.
“Pessoas excepcionais” é um livro surpreendente. Os autores preveem um futuro de escassez de mão-de-obra nos países ricos, que apenas a migração poderá resolver. Conforme EUA e Europa envelhecem, os países precisam cada vez mais de mão-de-obra jovem. Os robôs não podem fazer tudo, nem mesmo no Japão. A demanda por trabalhadores qualificados irá crescer. Os países irão competir ferozmente pelo talento móvel. A migração irá definir o futuro do mundo. Ao menos é assim que os autores pensam. E, provavelmente, eles estão certos.
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* Exceptional People: How Migration Shaped Our World and Will Define Our Future. Por Ian Goldin, Geoffrey Cameron and Meera Balarajan
Fontes: The Economist - The future of mobility
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