domingo, 15 de maio de 2011

Robô nepotista dá duro pela 'família', revela estudo suíço

REINALDO JOSÉ LOPES*

Pesquisa usou pequenos autômatos
para simular como a evolução
pode favorecer o
altruísmo entre parentes
Ao longo de centenas de 'gerações' robóticas,
eles passavam a dividir recurso
quando grupo tinha
 muitos 'primos'


Conta-se que um político brasileiro, criticado por instalar familiares em cargos públicos, teria se saído com esta: "Já que todo mundo é parente de alguém, melhor que seja parente meu, ora".
Os robozinhos criados por um trio de pesquisadores na Suíça só têm 33 "neurônios" artificiais e, portanto, são incapazes de realizar o prodígio de lógica acima. Mas, sob condições favoráveis, viraram adeptos inconscientes do nepotismo -dando peso, de quebra, a uma ideia central da biologia evolutiva.
Estamos falando da seleção de parentesco. Grosso modo, o conceito explica o porquê de seres vivos serem altruístas, às vezes a ponto de sacrificar a própria vida, quando o bem-estar da família está sob ameaça.
A seleção de parentesco pode ser favorecida no jogo da evolução porque, a rigor, os parentes de um indivíduo são "pedaços" dele próprio. Se uma espécie se reproduz por meio do sexo, cada filho carrega 50% do DNA de cada um dos pais (e 25% dos genes dos avós ou dos tios). Ajudar um parente, portanto, equivale a ajudar a si mesmo quando se leva em conta as gerações seguintes.

A REGRA DE BILL

A expressão matemática das ideias acima foi bolada pelo biólogo britânico William "Bill" Hamilton (1936-2000), ganhando o nome de regra de Hamilton. Os cientistas suíços queriam demonstrar, ao longo de centenas de gerações observadas em laboratório, se a regra de fato funciona dessa maneira. Para isso, Markus Waibel, Dario Floreano e Laurent Keller usaram os simpáticos robozinhos modelo Alice, que cabem na palma da mão de seus criadores.
Em grupos de oito "indivíduos", os robozinhos tinham de carregar "comida" e dividi- la ou não com seus companheiros. Ao fim de uma "geração", a programação dos autômatos- equivalente ao seu DNA- era passada adiante de acordo com seu sucesso na tarefa.
"O estudo, que saiu na revista científica
"PLoS Biology", pode inspirar robôs
que saibam cooperar entre si,
dizem os pesquisadores."
Ou seja, os mais eficientes se reproduziam mais. A pegadinha é que, nos grupos iniciais, podia ou não haver robôs aparentados. E essa frequência podia variar no tempo de acordo com o sucesso dos autômatos na hora de conseguir comida e se reproduzir graças a isso.
Após 500 gerações, com 1.600 robôs cada uma (a maioria simulada com precisão em computador, porque não dava para construir tanto robô, explica Waibel), ficou claro que o altruísmo surgia com o parentesco. Havia um ponto de virada, sempre que o custo de ser "bonzinho" era superado pelo benefício de dar uma mãozinha aos 'primos'.
O estudo, que saiu na revista científica "PLoS Biology", pode inspirar robôs que saibam cooperar entre si, dizem os pesquisadores.
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* EDITOR DE CIÊNCIA
Fonte: Folha online, 15/05/2011
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