quinta-feira, 19 de maio de 2011

Stephen Hawking no The Guardian

''O céu não existe, é um conto de fadas'',
afirma Stephen Hawking
Imagem da Internet
Em uma entrevista exclusiva ao jornal The Guardian, o cosmólogo compartilha seus pensamentos sobre a morte, a Teoria-M, o propósito humano e o destino da nossa existência.
A crença de que o céu ou a vida após a morte nos espera é um "conto de fadas" para as pessoas com medo da morte, disse Stephen Hawking. Em uma recusa que salienta a sua firme rejeição do conforto religioso, o cientista britânico mais eminente disse que não há nada além do momento em que o cérebro palpita pela última vez.
Hawking foi diagnosticado com a doença do neurônio motor aos 21 anos. Esperava-se que doença incurável iria matar Hawking dentro de alguns anos, devido aos sintomas decorrentes, uma perspectiva que fez com que o jovem cientista se voltasse para Wagner, mas finalmente o levou a gozar mais a vida, disse ele, apesar da nuvem que paira sobre o seu futuro.
"Eu tenho vivido com a perspectiva de uma morte prematura pelos últimos 49 anos. Eu não tenho medo da morte, mas não tenho pressa de morrer. Tenho muita coisa que quero fazer antes", disse.
"Eu considero o cérebro como um computador que vai parar de trabalhar quando seus componentes falharem. Não existe céu nem vida após a morte para computadores quebrados. Isso é um conto de fadas para as pessoas que tem medo do escuro", acrescentou.
Os últimos comentários de Hawking vão além daqueles proferidos em seu livro de 2010, The Grand Design, no qual ele afirmou que não há necessidade de um criador para explicar a existência do universo. O livro provocou a reação de alguns líderes religiosos, incluindo o rabino-chefe britânico, Lorde Sacks, que acusou Hawking de cometer uma "falácia elementar" da lógica.
O físico de 69 anos adoeceu gravemente depois de um ciclo de palestras nos EUA em 2009 e foi levado ao hospital Addenbrookes em um episódio que desencadeou sérias preocupações pela sua saúde. Ele já voltou ao seu departamento em Cambridge como diretor de pesquisa.
As observações do físico traçam uma linha rígida entre o uso de Deus como metáfora e como crença em um criador onisciente cujas mãos orientam o funcionamento do cosmos.
Em seu best-seller de 1988, Uma Breve História do Tempo, Hawking recorreu ao dispositivo tão amado por Einstein ao descrever o que significaria para os cientistas desenvolver uma "teoria de tudo" – um conjunto de equações que descrevam cada partícula e força em todo o universo. "Seria o triunfo final da razão humana – pois então conheceríamos a mente de Deus", escreveu.
O livro vendeu 9 milhões de cópias e impulsionou o físico ao estrelato instantâneo. Sua fama o levou a papéis como convidado nas séries Os Simpsons, Star Trek: The Next Generation e Red Dwarf. Uma de suas maiores conquistas na física é uma teoria que descreve como os buracos negros emitem radiação.
Na entrevista, Hawking rejeitou a noção de vida além da morte e enfatizou a necessidade de cumprir o nosso potencial na Terra, fazendo bom uso de nossas vidas. Em resposta a uma pergunta sobre como deveríamos viver, ele disse simplesmente: "Devemos buscar o maior valor da nossa ação".
Ao responder outra pergunta, ele escreveu sobre a beleza da ciência, como a requintada hélice dupla do DNA na biologia, ou as equações fundamentais da física.
Hawking será um dos conferencistas do encontro Google Zeitgeist de Londres, em que irá abordar a questão: "Por que estamos aqui?".
Na conferência, ele irá argumentar que as minúsculas flutuações quânticas do universo muito primitivo tornaram-se as sementes a partir das quais as galáxias, as estrelas e, finalmente, a vida humana surgiram. "A ciência prevê que muitos tipos diferentes de universo serão espontaneamente criados do nada. É uma questão de sorte que estejamos aqui", disse ele.
Hawking sugere que, com os modernos instrumentos baseados no espaço, como a missão Planck da Agência Espacial Europeia, pode ser possível detectar impressões digitais antigas na luz restante dos primeiros momentos do universo e descobrir como o nosso lugar no espaço veio a surgir.
Sua conferência vai se focar na Teoria-M, um amplo quadro matemático que engloba a teoria das cordas, que é considerada por muitos físicos como a melhor esperança até agora para desenvolver uma teoria de tudo.
A Teoria-M demanda um universo com 11 dimensões, incluindo uma dimensão do tempo e as três dimensões espaciais familiares. As restantes estão enroladas em um tamanho muito pequeno para que possamos vê-las.
As provas em apoio à Teoria-M também poderão vir do Large Hadron Collider - LHC, do CERN, o laboratório europeu de física de partículas perto de Genebra.
Uma possibilidade prevista pela Teoria-M é a supersimetria, uma ideia que afirma que as partículas fundamentais têm gêmeos pesados – e ainda desconhecidos – com nomes curiosos como selectrons e squarks.
A confirmação da supersimetria seria uma injeção de ânimo para a Teoria-M e ajudaria os físicos a explicar como cada força em funcionamento no universo surgiu de uma superforça na aurora do tempo.
Outra descoberta potencial do LHC, a do evasivo bóson de Higgs, que, conforme se pensa, dá massa a partículas elementares, podem ser menos bem-vindas para Hawking, que aposta há muito tempo que essa entidade muito procurada nunca será encontrada no laboratório.
Hawking irá se somar a outros conferencistas no evento de Londres, incluindo o chanceler George Osborne, e o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz.
Nesta entrevista ao jornal The Guardian, o cosmólogo britânico compartilha seus pensamentos sobre Deus, a morte, a existência humana, a beleza da ciência e o nosso futuro sobre a Terra.


Eis a entrevista.

Qual é o valor em saber "por que estamos aqui"?
O universo é governado pela ciência. Mas a ciência nos diz que não podemos resolver as equações, diretamente no abstrato. Precisamos usar a teoria eficaz da seleção natural darwiniana daquelas sociedades com maior probabilidade de sobreviver. Nós lhes atribuímos um valor superior.

Você disse que não há razão para invocar Deus para acender o pavio. Nossa existência está totalmente entregue à sorte?
A ciência prevê que muitos tipos diferentes do universo espontaneamente serão criados do nada. É uma questão de sorte que estamos aqui.

Então, aqui estamos nós. O que devemos fazer?
Devemos buscar o maior valor da nossa ação.

Você teve um susto com a sua saúde e passou um tempo no hospital em 2009. O que você teme da morte – se é que teme?
Eu tenho vivido com a perspectiva de uma morte prematura pelos últimos 49 anos. Eu não tenho medo da morte, mas não tenho pressa de morrer. Eu tenho muita coisa que quero fazer primeiro. Eu considero o cérebro como um computador que vai parar de trabalhar quando seus componentes falharem. Não há céu nem vida após a morte para computadores quebrados. Esse é um conto de fadas para as pessoas que têm medo do escuro.

Quais são as coisas que você acha mais bonitas na ciência?
A ciência é bela quando se dá explicações simples a fenômenos ou conexões entre observações diferentes. Exemplos disso incluem a dupla hélice na biologia e as equações fundamentais da física.
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A reportagem é de Ian Sample, publicada no sítio The Guardian, 15-05-2011. Fonte: IHU, 19/05/2011
A tradução é de Moisés Sbardelotto e revisada pela IHU On-Line.

2 comentários:

  1. A ciência pode aproximar ou afastar uma pessoa de Deus. Já eu afirmo (não acho apenas) que a Ciência deve aproximar o homem de Quem a criou. O cérebro é como um celular: o aparelho pode quebrar, mas as ondas continuam existindo. Nesta Hawking não foi infeliz apenas, ele foi cego. A doença não lhe ensinou nada. Leiam um texto interessantissimo sobre o NADA, que explica o quão absurda é esta colocação dele: http://estudosbiblicosmeyer.blogspot.com/2013/01/o-nada-e-o-todo.html
    E acrescento que:
    Só se pode falar sobre o que se conhece, sobre o que se experimentou. Se Hawking acha que Deus não existe, e que a vida após a morte também não, ele já deveria ter experimentado tal coisa. Ora, como ele ainda não morreu, não pode falar. É o caso do cachorro mordendo o rabo.

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  2. Sua breve história é, na verdade uma longa e extraordinária de superação, desafio e otimismo sobre a condição humana. Ele mesmo nos define como “uma mera coleção de partículas fundamentais da Natureza”, mas lembra que temos o poder de buscar sentido para tudo o que existe.
    Hawking, ao falar sobre sua vida, refletiu que é um “tempo glorioso para se estar vivo”, e afirmou estar feliz de ter feito uma “pequena contribuição” para o entendimento do universo.

    “Lembre de olhar para estrelas e não para seus pés. Tente encontrar sentido para o que você vê e imaginar o que faz o universo existir”, afirmou o professor aos 70 anos.
    “Seja curioso. E não importa o quão difícil a vida pareça, sempre há algo em que você pode ter sucesso. O que importa é não desistir”.

    Somos, no mínimo, senhores de nossas próprias histórias. Nem todos vieram ao mundo munidos de talentos e habilidades que possam nos diferenciar de nossos semelhantes. Nem todos seremos famosos, admirados e reconhecidos em nossa breve passagem pelo planeta. Mas todos somos dotados daquela faísca chamada curiosidade, que nos faz vencer o medo de sair de nossa caverna segura e nos levou à Lua. Ele afirmou para colegas, alunos e toda a Humanidade: “SEJAM CURIOSOS”.
    Impulsionados por ela, domesticamos animais, atravessamos oceanos, inventamos a roda, edificamos cidades e construímos equipamentos impensáveis, que nos permitem dar a volta ao mundo em minutos.

    SEJAM CURIOSOS! – recomenda o homem que precisa de dois minutos inteiros para dizer isso. É tempo suficiente para relatar um acontecimento, contar um causo, escrever uma mensagem de amor.

    Confio que os crentes no seu criador e na crença mística, que sempre sabem tudo do mundo, não leiam apenas lendas, mitos e “milagres”, mas leiam também assuntos que nos trazem mais provas do nascimento do Universo.

    “Fé significa não quere saber o que é a verdade”

    “Homens convictos são prisioneiros”

    Nietzsche

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Stephen_Hawking

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