domingo, 8 de maio de 2011

Lady Gaga em perspectiva teológica


Em meio a todas as coisas importantes que estão acontecendo na Igreja e no mundo, há espaço para mais uma palavra sobre Lady Gaga? Se as influentes teorias da cultura popular estão corretas, há mais razões do que nunca, porque a cultura da mídia popular – para melhor e para pior – contribui para criar uma "base" aurática, visual e tátil para muitas pessoas (inclusive para muitas pessoas religiosas).

A nota é de Tom Beaudoin, professor de teologia da Fordham University, em Nova York, publicada no sítio da revista America, dos jesuítas dos EUA, 04-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em um post recente [disponível aqui, em inglês: http://www.americamagazine.org/blog/entry.cfm?entry_id=3969l  ], perguntei quem estava pensando teologicamente sobre Lady Gaga. Fico feliz em compartilhar com vocês, com a permissão dos escritores, três respostas atenciosas.
Para aqueles leitores que são de gerações mais jovens, ou que trabalham ou têm relação com as gerações mais jovens, talvez estas reflexões provoquem um debate.

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Jessica Coblentz está atualmente concluindo um mestrado em estudos teológicos em Harvard. Ela planeja iniciar um doutorado em teologia no Boston College ainda este ano:
"A different lover is not a sin" [Um amante diferente não é um pecado] – a mensagem afirmativa sobre a sexualidade na música Born This Way de Gaga é bastante sensível às opiniões da maioria dos jovens adultos católicos que eu conheço. Com isso, o real impacto teológico da sua obra reside não no conteúdo da sua posição sobre a sexualidade, mas sim em sua disposição de proclamá-la.
Como evidenciado pela letra de Born This Way e por este recente videoclipe, é o seu ethos de "autenticidade" que comanda Gaga a dizer isso. E ela não hesita em articular essa "autenticidade" em linguagem teológica também.
Pelo fato de minha geração se envolver com a performance ousada da "autenticidade" de Gaga, ouvindo o seu imperativo de reverenciar isso nos outros e de responder ao seu mandato para ir e fazer o mesmo, eu me pergunto como os nossos debates teológicos – sobre sexualidade e qualquer outros temas – vão mudar.

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Maggi Van Dorn cursa atualmente um mestrado em teologia na Harvard Divinity School, com interesse em arte, espiritualidade e justiça social:
Você não pode negar que, em toda as suas roupagens de cair o queixo, Lady Gaga faz você olhar e pensar duas vezes. Os fãs respondem à sua arte performática porque ela traz uma mensagem que as pessoas estão famintas para ouvir – "você é bonita em toda a sua estranheza" – da forma com que elas precisam ouvi-la: em ações, performatizada e ritualizada.
Enquanto a Igreja alega uma tradição de amor incondicional e de prática ritual integrada, os fãs explosivos de Lady Gaga revelam um grande déficit pastoral na forma pela qual nós praticamos o amor e a aceitação, especialmente por aqueles que são continuamente marginalizados pela Igreja e pela sociedade. Se esperaria que nossos esforços para compreender, celebrar e amar fossem tão provocadores.

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Dra. Rachel Bundang, é professora de ética da faculdade de estudos religiosos da Marymount School, em Nova York:
Mãe Monstro, Nossa Senhora (Gaga) dos Excêntricos
Eu gosto de Gaga e tenho uma apreciação crítica por ela. É verdade, suas raízes estéticas encontram-se em Madonna, na cultura disco e em Warhol, mas ela tem habilidades reais na performance musical. Em contraste, Madonna veio do mundo da dança (no início da sua carreira, muito se falou do fato de ela ter estudado com Martha Graham e Alvin Ailey), e por isso suas noções de performance estão enraizados na ideia do corpo como espetáculo expressivo, visível e físico.
Trazer a noção de encarnação como o Pe. Martinez fez em relação às questões LGBT é falar da própria corporificação em Gaga de suas crenças, experiências e esperanças aos seus fãs. Sua autoapresentação, sua astúcia midiática e sua sensibilidade visual-performativa tornam-na às vezes fantástica e maior do que a vida, provavelmente às custas de sua música: a música é simplesmente um veículo para a fama, para que ela se torne um ícone (ídolo?) vivo e suspirante da excentricidade intencional.
Mas, para pensar a encarnação de outra forma, imagine Gaga se apresentando em versão acústica e sem maquiagem, assim como o seu "eu" natural. Ela seria, então, não a Gaga santificada e adorada como a "Mãe Monstro" no pedestal (da mídia), mas sim a Gaga-que-caminha-entre-nós, aquela que conhece e entende a dor de ser excêntrica, pária e rejeitada.
O mais próximo a que ela chega disso é em sua performance solo acústica de Speechless [assista ao vídeo aqui]. O fato de ela estar sempre "plugada" em público e por isso almejar a fama é uma insistência para não ser ignorada ou esquecida, embora alguns pensem que isso também sugira uma falta de humildade ou uma tentativa de compensar algumas outras necessidades ou desejos desconhecidos.
A questões subjacentes (e não estritamente teológicas) são: a encarnação aqui tem a ver com se tornar/ser o "eu" máximo de si mesmo ou o "eu" mais simples e mais essencial de si mesmo? Uma leitura (teológica feminista) generosa embora cuidadosa do seu trabalho poderia ser que todos nós somos responsáveis pelo nosso florescimento.
Eu dou aulas a alunos com formação muito parecida à dela, e os aspirantes a artistas dentre eles consideram-na um modelo. Mais do que seus ritmos ou letras – independentemente se desejam ser progressivos ou inclusivos para difundir o evangelho da dignidade e do respeito, que são a espinha dorsal da Doutrina Social da Igreja –, o que eles parecem responder mais fortemente nela é a sua "performance" de absoluta força de vontade – sua habilidade visualmente impressionante de arrebatar e dominar, em toda a sua extravagância.
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Fonte: IHU, 08/05/2011

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