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Nosso cérebro foi desenvolvido para ser mais facilmente estimulado do que satisfeito. O que teve uma lógica evolutiva: as criaturas que se contentam com pouco tendem a se acomodar sobre a busca de comida ou um abrigo melhor e, assim, ter uma expectativa de vida menor. A natureza nos presenteou, então, com a insaciável capacidade de descobrir, explorar, querer mais. Jaak Panksepp, neurocientista da Universidade de Washington, passou décadas mapeando cérebros de animais para concluir que aquilo que conhecíamos como sistema de prazer não produzia tanto prazer assim. No livro Affective Neuroscience (Neuorociência Afetiva, sem edição no Brasil), Panksepp afirma que o motor da nossa motivação está muito mais em buscar do que se realizar. É um impulso que nos faz sair todo o dia da cama – ou da toca. Em seus estudos, ele comprovou que mamíferos preferem procurar comida a encontrá-la de uma forma fácil. E que os seres humanos, muitas vezes, sentem mais excitação antes do que durante o sexo. Chamar de “prazer” esse estado que rege nossas motivações parecia inadequado; Panksepp então adotou a expressão “busca”.
A palavra tem ainda mais sentido agora que nos acostumamos a ver barras de busca em todas as telas. Outro fator que acentua a necessidade de checar a rede de 5 em 5 minutos é o que os estudiosos do comportamento virtual chamam de Fomo (sigla para Fear of Missing Out), síndrome do medo de ficar por fora do que acontece. “Fomo é um grande motivador do comportamento nos dias de hoje”, diz a co-fundadora da rede social de fotos Flickr, entre outros sites, Caterina Fake – o nome dela é esse mesmo. Na ânsia de saber o que os amigos estão fazendo ou o que estão comentando na rede, agimos como os ratos do estudo que abriu o texto.
A verdade é que a tecnologia alterou muitos dos comportamentos humanos. “Coloque uma criança para jogar videogame durante a manhã e, à tarde, a leve para a aula bem tradicional. Não é de se estranhar que se sinta entediada”, diz o neurologista Marco Antônio Arruda, diretor do Instituto Glia e especialista em déficit de atenção. A busca pela recompensa diante dos olhos em vez do ganhos mais para a frente explica a troca compulsiva de faculdades, a flutuação de empregos, a “crise dos 25 anos”. A vida moderna, como os entorpecentes e o estresse, motiva muito mais o querer do que o gostar. Com tantas opções disponíveis, fica mais difícil saber qual é o seu caminho. Para nossa sorte, o mundo moderno trouxe rotas alternativas.
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Isso não significa que dinheiro tenha deixado de ser importante. Ele continua sendo a principal recompensa das horas de trabalho e dedicação. “A questão é que esse tipo de recompensa, sozinha, pode acarretar uma espécie de alquimia comportamental: ela pode transformar uma tarefa interessante em um fardo, converter lazer em trabalho. E, ao diminuir a motivação intrínseca, derruba a performance, a criatividade e o engajamento como dominós”, diz Pink. (Daniel Pink, autor do livro Motivação 3.0, lançado no início do ano no Brasil).
Pegue um designer que ama seu trabalho e faça a remuneração dele depender da venda de um produto. A tendência é que ele trabalhe como um maníaco no começo, mas perca o interesse a longo prazo. Porque, com o passar do tempo, a recompensa (seja ela em dinheiro ou não) se incorpora à tarefa. E a pessoa não vê mais desafios para conquistá-la, o que a faz perder todo o interesse. “Muitos usam recompensas como forma de aumentar a motivação das pessoas. Mas isso tem um custo: minar a motivação intrínseca para aquela atividade”, escreve o cientista Jonmarshall Reeve no livro Understanding Motivation and Emotion (Entendendo a Motivação e a Emoção, sem edição no Brasil). Isso porque a recompensa faz as pessoas ficarem tão focadas no prêmio que elas falham justamente em mostrar e desenvolver suas melhores aptidões, como a criatividade. As motivações extrínsecas podem parecer eficazes. Mas só no começo. Depois de um tempo, acabam tendo um efeito contrário, negativo. “Fixar em uma recompensa imediata pode afetar a nossa performance a longo prazo”, diz Pink.
Isso não significa que o modelo baseado em recompensa seja totalmente falho. Há situações, como aquelas que exigem um trabalho mecânico, e não tão cognitivo, em que é eficaz. A questão é que, sozinho, ele não abarca os fatores necessários para fazer as pessoas trabalharem com anseio. “É inconcebível achar que somos motivados somente por incentivos externos. Temos motivações maiores”, afirma Pink, que, por meio de seus estudos, chegou ao que ele considera os três grandes fatores motivacionais: independência, conhecimento e engajamento.
Por isso, cada vez mais as empresas que estimulam esses fatores intrínsecos de seus funcionários são mais valorizadas pelos profissionais, principalmente os da Geração Y.
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(Excerto do texto produzido por RAFAEL TONON e LUCAS LIMA: O QUE NOS MOTIVA? – Revista GALILEU impressa, nº 239 – junho/2011, pg.34-43)
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