Ruy Carlos Ostermann
Nunca entrei numa sala de aula sem um frio na barriga. Fui professor muito tempo - professor de Filosofia, o que talvez acrescentasse ainda mais receio - e só de um jeito: assim, temeroso, um pouco assustado, sem saber nada do futuro imediato. E sempre me fez bem ser assim, respeitoso e assustado. Uma sala de aula se parece com outra sala de aula, tem o mesmo formato, lida com mesas e cadeiras, mesmo essas que agora incorporam os computadores, reduzem o trânsito e se tornam salas de mesas compridas e alunos silenciosos lado a lado. A experiência de entrar nesse espaço é sempre a mesma, e sempre com o mesmo frio na barriga.
Com certo orgulho estou convencido de que essa atitude irreprimível de receio e ponderação é que faz o professor ter importância para seus alunos e dividir com eles uma alegria da descoberta, que é como se ingressa nessa levitação que é conhecimento que vai avançando sobre o vazio e armando suas pequenas pontes. É mesmo um jogo, que só a curiosidade pode oferecer as soluções parciais que vão se juntando com atenção e renovado o entusiasmo a cada conquista.
Mas é essa incerteza que fortalece as descobertas do espírito. Penso nisso no estádio Olímpico, local do segundo Gre-Nal.
Basta olhar com atenção as pessoas que vão chegando para ocupar o mesmo lugar de suas experiências comuns. O entusiasmo que irrompe é logo detido por esse frio na barriga. Não é a confiança que move o torcedor, é a incerteza que ele precisa vencer a cada passo na direção do estádio. O entusiasmo, a provocação, o desafio e o grito são as conquistas dessa atenção assustada. Não é muito, mas sempre é o começo...
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* Jornalista. Escritor. Comunicador. Cronista esportivo.
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