segunda-feira, 9 de maio de 2011

Qualquer fraqueza é admissível, desde que seja uma qualidade

Lucy Kellaway*


No último ano e meio, o "Financial Times" fez semanalmente 20 questões a líderes empresariais. Entre elas estava: "Quais são suas três piores características?"
Martha Stewart cita a impaciência. Pierre Yves Gerbeau declara ser "brutalmente honesto". Barbara Stocking, da Oxfam, descreve seu pior defeito assim: "Vou muito rápido". E David Giampaolo, da Pi Capital, tem as imperfeições mais nauseantes de todo o lote. É "muito crédulo e acessível".
Ao estudar as respostas, acumulei um tesouro de dados, que servem para sustentar uma de minhas teorias favoritas. Os três piores traços dos CEOs são a falta de autoconhecimento, a falta de autoconhecimento novamente e a extraordinária disposição de se conceder o benefício da dúvida.
No que se refere a descrever seu lado negativo, 58 dos 60 líderes se mostraram atados pela mesma regra: qualquer fraqueza é admissível, desde que seja uma qualidade. Quase todos citam impaciência, perfeccionismo e demasiada exigência- o que, no fim das contas, é bastante recomendável para um executivo-chefe.
"Estudando-os nos últimos 15 anos,
elaborei uma lista dos
sete pecados mortais mais comuns.
São fanáticos por controle.
São vãos. Agem de forma hesitante e confusa.
Não ouvem. São intimidadores.
Têm medo de conflito.
Não conseguem ter conversas casuais."

Um ou dois mencionaram defeitos verdadeiros para depois neutralizá-los. Sean Parker, o empreendedor de internet, admite que seu maior problema é o atraso - um crime hediondo, que mostra que ele considera seu tempo mais precioso que o dos demais. E explicou: "Às vezes, você precisa aproveitar o momento de inspiração", fazendo sua grosseria parecer admirável.
O interessante sobre essa efusão de falsas fraquezas é que não há diferença entre homens e mulheres, nem entre americanos e europeus. Será que pessoas altamente bem-sucedidas têm menos defeitos? Essa teoria foi apresentada por Teruo Asada, da Marubeni. "Não devo ter nenhum ou não poderia ser executivo-chefe, certo?" Mesmo levando em conta o que pode ter se perdido na tradução, presumo e espero que fosse brincadeira.
Qualquer um que passe cinco minutos conversando com um CEO pode dizer que eles têm mais falhas que os demais, pois são versões extremadas da humanidade. Estudando-os nos últimos 15 anos, elaborei uma lista dos sete pecados mortais mais comuns. São fanáticos por controle. São vãos. Agem de forma hesitante e confusa. Não ouvem. São intimidadores. Têm medo de conflito. Não conseguem ter conversas casuais.
Tendo em vista que a maioria dos entrevistados provavelmente tem pelo menos um desses pecados, por que ninguém admitiu isso? Suspeito que o verdadeiro problema é que eles não sabem quais são suas falhas. Dez anos de psicologia barata, técnicas de "coaching" e avaliação de 360º não fizeram diferença. Não mudou a verdade mais básica: as pessoas nunca falam a verdade para o poder.
Essa negação de defeitos é alarmante. Se os problemas não são mencionáveis, não podem ser solucionados. Mas também é uma pena: gostamos mais das pessoas quando elas vestem suas falhas abertamente. Os faz parecer mais humanos.
Dos 60 líderes, apenas dois admitiram grandes defeitos. Marcus Wareing não ouve. Mas ele é um chef e não precisa ouvir, apenas se certificar que as "ilês flottantes" sejam levadas para a mesa seis - agora!
Meu prêmio pela honestidade vai para Jon Moulton, o magnata dos fundos de investimentos em participações acionárias, que ganhou dinheiro suficiente para pode dizer o que realmente gosta. Sua fraqueza declarada é um tabu absoluto, mas é uma consequência lógica dos altos cargos. De fato, é uma falha que os outros líderes também demonstraram por meio das respostas que deram em causa própria. Seu defeito declarado: "excesso de ego".
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*Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira
Fonte: Valor Econômico online, 02/05/2011

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