A ansiedade é ubíqua à condição humana e está presente atualmente
dentro do contexto das pressões, demandas e estresses flutuante do
cotidiano humano. É um sentimento como outro qualquer que se apresenta
em diferentes escalas, pode ser considerada saudável em condições
normais. No entanto em escalas maiores pode ser extremamente prejudicial
tanto para a saúde mental do indivíduo quanto para a física devido aos
seus vários sintomas (RANGÉ, 2005). Mas, então, o que é afinal
ansiedade? Como ocorre a exacerbação desse sentimento? Tem causa
fisiológica e, portanto, tratável com medicamentos, ou psicológica e
tratável com psicoterapia? Essas e outras perguntas serão respondidas ao
longo do texto.
Para o Nacional Institute of Mental Health (NIMH, 2001), 19
milhões de adultos norte-americanos apresentando um transtorno de
ansiedade, estima-se que 20% a 30% da população mundial venha a
desenvolver transtornos relacionados pelo menos uma vez na vida sendo
que a prevalência é em mulheres, portanto é um assunto de muita
relevância para estudos. Os medicamentos utilizados para o tratamento
desses transtornos são da classe antidepressivos e estabilizadores do
humor e são a terceira classe de remédios mais prescrita no mundo,
movimentando mais de 19,5 bilhões de dólares por ano. Os transtornos de
ansiedade são a forma mais prevalente dentre os distúrbios de ordem
psicológica, a Organização Mundial da Saúde Mental (OMS, 2004) constatou
que é o transtorno mais comum em todos os países, exceto na Ucrânia e
China. Portanto, milhões de pessoas no mundo inteiro travam uma batalha
diária contra a ansiedade clínica e é um assunto de grande importância
(CLARCK E BECK, 2012).
A natureza emocional humana faz parte do psicológico em que, no
modelo cognitivo-comportamental, a emoção precursora da ansiedade é o
medo, o qual surge como uma resposta adaptativa e saudável a situações
de ameaça à integridade física do sujeito, garantindo a segurança e
sobrevivência dele. O medo é importante, presente em todos os seres
normais e saudáveis. No entanto, esse sentimento pode ser mal adaptativo
quando ocorre em uma situação não ameaçadora que é interpretada de
maneira errada como perigosa. São essas situações geradoras de estresse
como trabalho, estudos, falar em público, entre outras que não põem a
vida da pessoa em risco, mas capazes de gerar ansiedade em demasia. Já
os sintomas fisiológicos posteriores à percepção de situação ameaçadora
provocam ativação do sistema nervoso simpático e parassimpático, que
geram hiperexcitação como a constrição dos vasos sanguíneos, tônus
aumentado dos músculos, frequência e contração cardíaca aumentadas,
dilatação dos pulmões, dilatação das pupilas, cessação na atividade
digestiva, aumento no metabolismo basal e secreção aumentada de
epinefrina e norepinefrina no cérebro, ou seja, prepara o indivíduo para
fugir, lutar ou congelar (BRADLEY, 2000). No entanto as situações que
causam ansiedade na contemporaneidade não representam real risco de
vida, todas as reações fisiológicas terminam por inutilmente prejudicar o
funcionamento do organismo.
Nesse sentido, a ansiedade pode ser considerada uma resposta
emocional provocada pelo medo, se constituindo do estado desagradável
evocado quando o medo é estimulado com uma série de sintomas
fisiológicos que surgem por consequência desse estado emocional, e não
como causa. A ansiedade num estado mais permanente de ameaça ou
apreensão ansiosa que inclui outros fatores cognitivos denominados de
crenças, como a incontrolabilidade, incerteza, vulnerabilidade,
desamparo, e incapacidade (RANGÉ, 2005). Partindo do pressuposto de que
um sujeito apenas avalia uma situação não ameaçadora como uma ameaça
real quando possui algumas crenças disfuncionais, elas se tornam
fundamentais para diagnóstico dos transtornos, como exemplo dessas:
acreditar que o futuro é incontrolável e o pior pode acontecer, ou não
ser capaz de encontrar respostas adequadas para seus problemas
cotidianos, ainda se considerar despreparado para lidar com qualquer
situação se tornando vulnerável. Nesse sentido sujeitos psicologicamente
amparados, seguros e saudáveis geralmente tem mais capacidade de lidar
com adversidades da vida sem sentirem-se demasiadamente ansiosos, sendo
considerados mais preparados, maduros, seguros, emocionalmente estáveis,
independentes e até mesmo mais confiáveis pelas pessoas.
É importante separar o que é normal de todos os seres humanos do que
não é. Se livrar totalmente do sentimento de ansiedade é tarefa
impossível já que é inerente a uma emoção tão rudimentar dos seres vivos
que é o medo. No entanto, pode-se tratar sua exacerbação que prejudica a
qualidade de vida bem como a saúde psicológica das pessoas. Segundo
Clark e Beck (2012), para que a ansiedade seja considerada clínica se
faz necessário imprescindivelmente a presença de cinco critérios de
ordem estritamente psicológica, o que sugere que os sintomas físicos não
especialmente definem o diagnóstico. Dentre eles estão a cognição
disfuncional, ou seja presença das crenças disfuncionais citadas
anteriormente; funcionamento prejudicado em que a vida do sujeito está
claramente afetada de maneira negativa pelas ameaças irreais percebidas;
a clara manutenção que o sujeito faz para a permeação da ansiedade como
antecipação da ameaça que pode ser constatada diariamente, presença dos
chamados alarmes falsos (pânico ou medo excessivo sem qualquer presença
de estímulo, o estado ocorre sem nenhum evento causal e a pessoa pode
ficar sob constante alerta), e, por fim, a hipersensibilidade a
estímulo. A última diz respeito às situações irreais consideradas
ameaçadoras que geram excesso de sentimentos negativos: pessoas com
aversão à andar de elevador, por exemplo, têm respostas fisiológicas e
alteração emocional apenas em pensar sobre o assunto.
Portanto, a ansiedade é de causa psicológica que possui efeitos tanto
mentais como físicos como resposta a uma avaliação de perigo eminente,
provavelmente por uma crença individual de impotência para lidar com os
problemas adversos e também de vulnerabilidade generalizada. A ansiedade
está presente em todos os indivíduos e é importante para a
sobrevivência em situações de perigo real, mas que exacerbada pode gerar
prejuízos inicialmente psicológicos e posteriormente físicos, devendo
ser tratada com psicoterapia e, em casos mais graves, como é o caso de
transtornos diagnosticados por profissionais competentes, tratados
também com o auxílio de medicamentos prescritos por psiquiatras.
BIBLIOGRAFIA-----------------
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5ªed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BRADLEY, S.J. Affect regulation and the development of psychopathology. Nova York: Guilford Press, 2000.
CLARK, D. A. e BECK, A. T. Terapia Cognitiva para os Transtornos de Ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2012.
NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTH (NIMH). The numbers cont: Mentals disorders in America, 2001.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Conferência internacional sobre cuidados primários de saúde (declaração de alma-ata, 1978). Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
RANGÉ, B. Terapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2005.
* PAULA CAROLINA CARDOSO BRENNEISEN é Psicóloga Clínica Especialista em Terapia Cognitivo-comportamental pela UNIFIA – SP. CRP: 12/15040. E-mail: paulabrenneisen@gmail.com Facebook: https://www.facebook.com
Fonte: https://espacoacademico.wordpress.com/2016/08/22/a-origem-da-ansiedade-psicologica-ou-fisiologica/
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