quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Da Olimpíada às eleições: e agora?

Juremir Machado da Silva* 
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Mordendo cadarço

      Os Jogos Olímpicos, por óbvio, não mudarão o Brasil. A colheita de medalhas não resultou numa safra espetacular, mas foi melhor do que as anteriores. Quem ganhou e quem perdeu? Perderam os vira-latas nacionais que passam o tempo louvando as glórias estrangeiras e esculhambando o gigante tido por patético e visto como eternamente adormecido. Depois do ouro do futebol masculino contra a supostamente imbatível Alemanha, o vira-latas anda mordendo cadarço de sapato alheio de tanta raiva. Ainda mais que essa também foi a Olimpíada da chinelagem americana, a dos nadadores dos Estados Unidos que inventaram um assalto, com imaginação rasteira de Hollywood, e tiveram de desculpar-se, lamber o chão, pagar multa e mico.

Ganharam aqueles que acreditam nas superações do esporte e em nossas poucas, mas adoráveis, qualidades de improvisação. Há muito que eu só torço pela seleção brasileira. Meu critério é transparente. O que faz um grande clube de futebol? O dinheiro. Quem tem mais dinheiro, compra os melhores jogadores e faz o grande time. É o Barcelona. É o Bayern de Munique. Seleção é diferente. O que faz a melhor seleção? O local de nascimento.

O mais rico não pode comprar os melhores para formar a melhor equipe. A Espanha não pode comprar Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar para o seu ataque. Não pode comprar nem a naturalização deles para formar o trio ofensivo dos sonhos. Ao menos, por enquanto. O capital tende a se apropriar de tudo, até do nascimento.

Quando o dinheiro fala mais alto numa seleção, com a escolha de jogador ruim para valorizá-lo, a derrota é muito provável. Não funciona. Um país de três milhões de habitantes pode ter uma grande safra de craques e vencer potências com populações muito maiores. Futebol continua sendo a articulação do coletivo com individualidades excepcionais. Um coletivo sem craques é um deserto sem encantamento. Um craque sem coletivo é um Dom Quixote lutando contra zagueiros com pés de moinhos de vento. O Brasil que venceu a Alemanha é, antes de tudo, o de Neymar, com auxílio de Luan, Gabigol, Gabriel Jesus e outros guris bons de bola e de drible. Futebol sem drible é sexo sem penetração. Tem que goste. Mas para a maioria sempre falta algo, esse algo que faz a diferença.

O vira-latas está babando no cadarço do próprio sapato de tanto ódio: os Jogos Olímpicos deram certo. Não houve atentado. A Vila Olímpica não desabou. Estrangeiros não foram massacrados por hordas de assaltantes. A festa correu solta. Teve mais diversão do que conflito. Como disse alguém, foi um desperdício que deu certo. Não era para ter sido feito, na medida em que falta dinheiro para escola e hospital, mas já que fizeram, deu certo. A imprensa internacional, inicialmente catastrofista, rendeu-se. As festas de abertura e de encerramento foram maravilhosas.

O vira-latas pensa em se matar.

O fiasco ficou por conta de Michel Temer, que tomou vaia na abertura, embora tenha tentado ficar escondido a maior parte do tempo, e fugiu do encerramento. O vira-latas uiva para a lua de tanta amargura. Sabe que tudo isso começou com Lula. Em dois anos, o Brasil organizou dois megaeventos, Copa do Mundo e Olimpíada, sem qualquer tragédia. Salvo, certamente, a das propinas e superfaturamentos. O vira-latas não sabe onde meter o focinho.
Resta balançar o rabo. 

E agora, candidatos?

      Foi-se a Olimpíada. O intervalo entre nossas crises acabou. Estamos de volta à realidade. Bem-vindos ao cotidiano. Vivemos grandes emoções delegadas. As celebridades existem para nos representar na utopia. Muita gente se arrepiou ao ver Neymar escalar o muro para abraçar Bruna Marquezine no meio do público depois da conquista da medalha de ouro do futebol. Eram príncipe e princesa se encontrando depois de muitos obstáculos. As melhores histórias quase sempre obedecem a três passos: encontro, desencontro e reencontro. Muitas vezes o reencontro se dá na velhice para um balanço tardio.

O nosso jogo agora é com o impeachment da presidente Dilma. O encontro foi nas eleições. O Brasil viveu um clima de romance proibido. A esquerda chegou ao poder, depois da ditadura, e adotou políticas de inclusão social. A direita anunciava o caos. O país viveu alguns anos de superação. Lula foi tão bem que elegeu a sua sucessora, uma mulher que jamais havia disputado uma eleição. Depois, veio o desencontro. A corrupção apareceu como um vírus minando a felicidade provisória. A aliança com o PMDB virou um caso público de traição. Algo que pode ser condensado nesta afirmação de um amigo:

­ – Numa situação extrema, eu votaria no DEM, no PP, no indigesto Jair Bolsonaro, no Donald Trump, na Marine Le Pen, mas jamais no PMDB.

O reencontro com o impeachment será no tribunal da história. Pode-se imaginar um encontro entre o PT e o PMDB dentro de 50 anos. Velhinhos, os dois revisam o passado e confessam os seus crimes.
– Eu não tinha escolha – diz o PMDB.

– Você escolheu o poder pelo atalho – ressente-se o PT.

– Não se escolhe deixar o poder passar encilhado.

– Não se apeia o aliado como se fosse um inimigo.

– Você fez por merecer, petralha.

– Quem falando, metralha.

– Chega de acusações.

– É, passado é passado. Que tal uma nova aliança?

Será certamente uma conversa sem futuro. Servirá para afagar a nostalgia e simular um acerto de contas impagáveis. Em 1964, a imprensa apoiou o golpe. O STF avalizou a tomada de poder. Um jurista jurou que a Constituição fora violada para ser preservada. Passados 49 anos, o jornal O Globo se arrependeu. A Folha de S. Paulo ainda acha que foi só uma “ditabranda”. No presente, o buraco é mais embaixo. Depois da queda anunciada de Dilma Rousseff, restarão as eleições municipais e as estratégias federais para 2018. Há uma pergunta parada no ar poluído: quem tem um projeto para a cidade?

Um projeto que não dependa de qualquer pretexto para ser executado. Os megaeventos disponíveis já foram realizados. Esqueçam a Fórmula 1. É coisa de retardatário. Saiu da linha de frente. Um projeto que melhore a cidade em quatro anos. Um plano que não seja igual ao de todo mundo. Uma ideia que valha ouro. Um programa que não seja apenas para iludir a audiência. Uma meta que leve e mantenha o candidato no alto do pódio.

Agora, candidatos, é tudo com vocês.

Apresentem algo que preste, por favor!
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* Jornalista. Sociólogo. Escritor.
Fonte: 
Imagem da Internet http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2016/08/8973/da-olimpiada-as-eleicoes-e-agora/

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