Luis Fernando Veríssimo*
Na Olimpíada, ganharia quem fizesse as melhores figuras com o ioiô, inclusive mantê-lo girando sem parar rente ao solo
Acho que deveria haver Olimpíada infantojuvenil, com modalidades que se
perdem quando as pessoas crescem e esquecem. De quatro em quatro anos, teríamos
competições, por exemplo, de cuspe à distância. Um esporte que depende da
direção do vento e requer um conhecimento apurado de balística, além de uma boa
produção de saliva. Importante, também, na modalidade, é a correta postura do
cuspidor ao disparar seu projetil, já que um meneio da cabeça pode significar a
diferença entre uma cuspida no próprio sapato e uma cuspidela triunfante.
Guerra de travesseiros. Equipes de, digamos, três atletas de cada lado
trocariam travesseiradas até que uma equipe desistisse, ou pedisse penico, como
se dizia antigamente. Não haveria regras rígidas nas batalhas de travesseiros,
valendo tudo, menos usar um para sufocar um adversário.
Bola de gude. Existem várias maneiras de se jogar bola de gude. Como
modalidade olímpica, as partidas seriam de singles
ou de duplas. Ao contrário dos jogos de rua, que podem ser “à brinca” ou “à
vera”, a combinar, na Olimpíada, os jogos seriam sempre à vera.
Abafa. O jogo consiste em abafar uma pilha de figurinhas com a palma da mão.
Ganha quem virar mais figurinhas num certo espaço de tempo. Na Olimpíada, os
juízes examinariam as mãos dos competidores antes de cada encontro para evitar
o uso de cola na palma. Procedimento recomendado principalmente no caso de
jogadores russos.
Ioiô. Ganha quem consegue fazer as melhores figuras com o ioiô, inclusive
mantê-lo girando sem parar rente ao solo, uma técnica chamada, pelo menos no
meu tempo, de “cachorrinho”.
Futebol de rua. Jogam de três a 17 jogadores de cada lado. As goleiras podem
ser peças de vestiário, mochilas ou o que estiver à mão, inclusive irmãos
menores. A bola pode ser qualquer coisa, mas o Comitê Olímpico exigiria que
fosse uma coisa mesmo vagamente esférica, e proibiria o abacaxi. Futebol de rua
não tem juiz. Só há falta quando acertam a canela de um adversário, mas
convencionou-se que, dos pés à cintura, tudo é canela.
Mamãe posso ir. Os contendores ficariam alinhados, esperando as ordens de um
juiz, que, de costas para eles, ditaria quantos passos deveriam dar, e que
espécie de passo: formiga, elefante, guarda da rainha etc. O jogador que fosse
flagrado em movimento ou dando um passo errado quando o juiz se virasse seria
eliminado. Talvez a modalidade mais excitante dos Jogos.
---------------------
* Jornalista. Escritor.
Fonte: Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/jogos-19868250#ixzz4Gdu7hOb6
Nenhum comentário:
Postar um comentário