Roberto Dias*
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Venda de ebooks dá sinais de estagnação, ao passo que cresce o uso de smartphone. | ||
SÃO PAULO - Começa nesta semana a 24ª Bienal do Livro de São
Paulo, feira dedicada àquele que encapsulou a transmissão do
conhecimento num "objeto perfeito": grande resistência, alta resolução,
fácil de carregar, "bateria" inexaurível.
A despeito disso, os números do setor que o produz não são animadores. Estudo da Fipe mostra que a indústria de livros colhe desempenho inferior ao do PIB brasileiro. Há queda de preço médio e volume.
Pior, não é exclusividade daqui —nos EUA também se registra retração.
Pior ainda, o que pintava como solução não se mostrou tão promissor. A
venda de ebooks dá sinais de estagnação nos EUA e na Europa; no Brasil
tem dificuldade em decolar. Um dia vistos como a pista de início desse
novo voo, os tablets vão sendo engolidos pelos smartphones.
Se não for pelos livros atuais, como se dará a transmissão massificada
do conhecimento? É impossível responder a isso por ora, mas parece
inegável que formatos em vídeo vão ficando cada vez mais populares.
Exemplo são as Ted Talks,
que resgatam a transmissão oral de ideias num pacote mais, digamos,
industrializado. Os títulos das 20 apresentações de maior audiência bem
poderiam figurar numa estante de livraria.
Nas plataformas de ensino à distância, vídeos que misturam aula e
gráficos fazem as vezes dos ebooks como fonte didática de consulta. A
realidade virtual pode crescer muito no ensino profissional.
A única coisa que continua inelástica é o tempo das pessoas. Se elas
optarem por dedicar esse bem escasso a um meio que não o livro
tradicional, o destino dele estará dado.
Essa substituição não seria inconsequente. Existe muito debate sobre a
absorção do conhecimento num meio eletrônico, que nem sempre leva a
imersão e sequência linear.
Entre os vários sentidos que atribui a "livro", o Houaiss admite que a
palavra signifique, figurativamente, "fonte de conhecimento, de
instrução". Para quem teve o papiro como berço e conheceu sucessivas
transformações tecnológicas, transmutar-se em vídeo pode ser, quem sabe,
uma questão de dicionário.
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*Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998.
Escreve às quintas.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/robertodias/2016/08/1806647-o-futuro-do-livro-pode-ser-uma-questao-de-dicionario.shtml
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