segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Sobre Jacarandás e ipês

 Juremir Machado da Silva*
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Um especialista diz que a educação deve servir não para acumular conhecimentos, mas para melhorar o mundo. Eu faço parte de uma categoria de pessoas que tem vivido para acumular conhecimentos e para sonhar com um mundo melhor. Desanimo quando vejo o conhecimento aumentar e o mundo permanecer o mesmo ou até piorar. De repente, olhei para cima e uma visão majestosa me fez pensar: o que eu sei? Claro que sei muito pouco. Esse pouco que eu sei, no entanto, pode ser muito em relação a pessoas que não tiveram e não terão oportunidade de conhecer mais. O Brasil continua a ser o país da ignorância programada. O importante, contudo, não é o que sei, mas o que eu não sei.

O que eu sei?

Sei que Pedro Alvarez Cabral não foi o primeiro europeu a pisar no Brasil.

Sei que Dona Maria era louca. Sei que César atravessou o Rubicão.

Sei que José do Patrocínio foi o maior jornalista brasileiro de todos os tempos e que Garrincha foi o herói da Copa do Mundo de 1962. Eu sei estes versos do grande peruano Cesar Vallejo:  “Hay golpes en la vida, tan fuertes… ¡Yo no sé!” Ainda sei o valor do Pi e a fórmula de Bhaskara. Sei que em qualquer triângulo retângulo o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos. Sei que a melhor defesa pode ser o ataque e que Capitu não traiu. Sei que os quadros de Claude Monet me tocam tanto quanto certos poemas de Charles Baudelaire.

Sei que minha vida se enche de sentidos quando te aproximas e que minha alma padece quando te sente distante. Sei que meu olhar te segue na rua ou mesmo em casa quando regas as plantas e isso me enche de uma súbita e incomensurável alegria que me renova a vontade de ser eterno. Sei que Sócrates teria dito esta sábia frase: “Só sei que nada sei”. Sei que me comovo com certos crepúsculos e que me levanto às vezes para comemorar o alvorecer enchendo os pulmões de brisa e os olhos de luz.

Sei que O IDH dos negros no Brasil é inferior ao dos brancos. Sei que mal dissimulamos nosso racismo e nossa homofobia. Sei que me sinto como todos tão pequeno diante do universo e tão grande quando sonho que me transformo em borboleta e voo até me findar.

Sei ler números romanos, sei quem foram os gregos clássicos e os invasores bárbaros da Europa, sei quem eram os incas, os maias e os astecas. Sei quem foram Dom Quixote, Jean Valjean e Policarpo Quaresma. Sei que os negros foram traídos em Porongos. Nem tudo o que sei é o mesmo que outros sabem. Sei que há controvérsias. Sei que me demoro olhando o horizonte em busco do meu Norte.
O que, porém, neste meu oceânico desconhecimento, descobri não saber quando, faz alguns dias, caminhando pelas ruas ensolaradas de Porto Alegre, ergui a cabeça para contemplar as árvores maravilhosa e precocemente floridas? Descobri que sei coisas importantes e outras nem tanto. Soube que eu não sei o essencial: não sei a diferença entre um jacarandá e um ipê.

Sei apenas que se expressam como primaveras impressionistas colorindo o cinza do concreto.
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* Sociólogo. Escritor. Prof. Universitário.
Fonte:http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2017/08/10134/sobre-jacarandas-e-ipes/
Imagem da Internet

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