Frei Betto*
Já que tudo indica que Temer permanece à frente do governo até
dezembro de 2018, dado que a sua base aliada no Congresso decidiu
obstruir a Justiça, fica a pergunta:
a quem eleger para sucedê-lo?
Pesquisas eleitorais que já tiveram início destacam uma dúzia
de prováveis candidatos. E os eleitores reagem de diferentes formas. Há
os que já decidiram não votar. É a turma do Partido Ninguém Presta.
Atitude meramente emocional. Quem tem nojo de política é governado por
quem não tem. E tudo que os maus políticos querem é que viremos as
costas à política para dar a eles carta branca.
Há os que votarão no próprio umbigo em defesa de seus
interesses corporativos, como os eleitores da bancada do B: boi, bala,
bola, bancos e Bíblia. Esses escolherão candidatos afinados com o
latifúndio, o desmatamento da Amazônia, o extermínio dos indígenas, o
mercado financeiro, a homofobia, a privatização do patrimônio público e o
Estado mínimo.
Um contingente de eleitores votará em quem seu mestre mandar. É
o rebanho eleitoral, versão pós-moderna do coronelismo, agora
substituído por padres e pastores, figuras midiáticas e chefes de
organizações criminosas.
Há ainda o eleitor que se deixará levar pela propaganda
eleitoral. Votará em quem lhe parecer mais simpático, sem sequer
conhecer os projetos políticos do candidato.
E há os que votarão em candidatos progressistas, ou naqueles
que assim se apresentarão nos palanques, na esperança de resgatar os
direitos cassados pela atual reforma trabalhista e corrigir os desmandos
do governo Temer, para que o país volte a crescer e ampliar seus
programas sociais.
Ora, devemos votar no Brasil que sonhamos para as futuras
gerações. Isso significa priorizar programas e projetos, e não
candidatos. Um país no qual coincidam democracia política e democracia
econômica. De que vale o sufrágio universal se não repartimos o pão?
Votar no Brasil que requer profundas reformas estruturais,
como a tributária, com impostos progressivos; a agrária, com o fim do
latifúndio e do trabalho escravo; a política e a judiciária. Brasil que
promova os direitos das populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
Brasil de democracia participativa e no qual o Estado seja o principal
indutor do desenvolvimento, com distribuição de riqueza e preservação
ambiental.
Votar é importante, mas não suficiente. Porque no Brasil
tradicionalmente nós votamos e o poder econômico elege. Em 2018, porém,
será a primeira eleição para o Congresso e a presidência da República na
qual as empresas não poderão financiar campanhas políticas, como faziam
as que estão denunciadas pela Lava Jato. Isso não significa que o caixa
dois será extinto.
Por isso, é um erro jogar nas eleições todas as fichas da
nossa esperança em um Brasil melhor. O mais importante é investir no
empoderamento popular. Reforçar os movimentos sociais e sindicais,
intensificar o trabalho de formação política e consciência crítica,
dilatar os espaços de pressão, reivindicação e mobilização. Só
conseguiremos mudanças significativas se vierem de baixo para cima.
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* Religioso dominicano. Autor de 58 livros,no Brasil e exterior,estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia.
Fonte: http://hojeemdia.com.br/opini%C3%A3o/colunas/frei-betto-1.334186/vote-brasil-2018-1.550977
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