segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Boicote à missa pode ser o início de uma ''revolução na Igreja Católica''


Uma revolução "pode já ter começado" na Igreja Católica da Irlanda.
Essa foi uma afirmação ouvida na Humbert Summer School,
em Castlebar, no condado de Mayo,
na Irlanda, na noite da última quinta-feira.


O comentarista religioso norte-americano Robert Blair Kaiser (foto) disse em um discurso que as notícias da última semana sobre a convocatória de Jennifer Sleeman, 80 anos, a um boicote da missa dominical do dia 26 de setembro em protesto contra o tratamento do Vaticano para com as mulheres sugere que "essa avó de Cork" pode "já ter começado uma revolução".

"Ela obviamente acredita no que eu acredito, que vocês podem ter voz e voto em sua própria Igreja e ainda serem católicos e, ao mesmo tempo, irlandeses", disse.

Autor de 13 livros, muitos sobre a reforma da Igreja Católica, Kaiser foi homenageado com um um prêmio Overseas Press Club pela sua cobertura do Concílio Vaticano II como correspondente da revista Time.

Ao falar na noite dessa quinta-feira sobre o tema "Reforma da Igreja Católica: Tronos nunca mais", ele disse que, "até a revolução copernicana, os monarcas exerceram o controle absoluto sobre seus súditos por direito divino. Mas quando os povos do mundo, informados sobre uma nova cosmologia, colocaram o direito divino dos reis na lixeira da história, eles se esqueceram de também jogar no lixo o direito divino dos papas".

E enfatizou: "Não estou atacando a nossa fé católica. Estou falando sobre a tirania especial e corrosiva que os papas têm exercido sobre os católicos em todos os lugares".

O primeiro cardeal da Irlanda, Paul Cullen, no século XIX, e o arcebispo de Dublin, John Charles McQuaid, no século XX, "estabeleceram a cultura clerical na Irlanda, que a juíza Yvonne Murphy identificou como a causa central dos escândalos irlandeses que fizeram com que vocês e o seu país vacilassem".


Ele disse que "durante mil anos, os papas promoveram uma Igreja clerical em vez de uma Igreja de Jesus. Os Padres do Concílio Vaticano II trabalharam durante sérios quatro anos para dar a Igreja novamente para o povo. E os papas João Paulo II e Bento XVI passaram os 30 anos seguintes anulando seus trabalhos e permitindo que a corrupção reinasse, um movimento que deixou a nossa Igreja, que é o corpo de Cristo na terra, despedaçada".

"Vocês podem ajudar a criar uma Igreja do povo?", questionou. "Sim! Vocês podem, se quiserem. Nesse contexto, eu gostaria de citar o Papa João Paulo II. Em 1978, ele viajou para Varsóvia e disse a milhões de poloneses: 'Vocês podem pegar o seu país de volta se exigirem isso'. Vocês poderiam dizer a mesma coisa: 'Nós podemos tomar de volta a nossa Igreja se exigirmos isso'".

"Os poloneses estavam lutando contra todas as possibilidades – o próprio poderio militar da União Soviética. Mas venceram a batalha".

"A passividade e a dependência
 são a sina dos leigos".

Ele disse que "as notícias da última década sobre a nossa Igreja em ruínas e que abusa de sua autoridade podem querer nos dizer que a mudança já está acontecendo, e acontecendo mais rápido do que se pensa".

Em resposta, o vice-editor do jornal Irish Catholic, Michael Kelly, disse que o clericalismo na Igreja "foi o cerne do escândalo dos abusos sexuais". Por "clericalismo", ele se referia a "uma mentalidade elitista, junto com estruturas e padrões de comportamento correspondentes a ela, que consideram como dado que os clérigos são intrinsecamente superiores aos outros membros da Igreja e merecem deferência automática. A passividade e a dependência são a sina dos leigos".
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A reportagem é de Patsy McGarry, publicada no jornal Irish Times, 20-08-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU online, 23/08/2010

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