sábado, 28 de agosto de 2010

8 tendências do trabalho

Das tarefas em equipe à autonomia,
da flexibilidade ao padrão de comportamento,
como será o emprego da próxima década
A tecnologia é a principal responsável por mudanças no mundo do trabalho. Mas quem espera que o avanço tecnológico nos livre de suar, como sugerem algumas obras de ficção científica, vai se decepcionar. Não que a tecnologia vá estacionar. Ao contrário. Só que a revolução que se espera – a comunicação instantânea e colaborativa à frente – deverá aumentar, e não diminuir, as responsabilidades.
Essa é uma das tendências do futuro do trabalho, segundo os relatórios de grandes consultorias e a avaliação de gente que lida com o mundo dos recursos humanos, consultados por ÉPOCA. Há outras: a flexibilização do horário de trabalho, por exemplo. Porém, ela virá acompanhada de desafios tão instigantes que o tempo livre total poderá diminuir, em vez de aumentar (leia a reportagem sobre o Google). Uma terceira: as empresas lançarão desafios para qualquer pessoa, e as melhores respostas ganharão prêmios ou um contrato para realizar a ideia.
Todas essas tendências já são notadas, em pequena escala, no mundo de hoje. Algumas já são anunciadas há mais de uma década – caso da flexibilidade dos contratos de trabalho, que no entanto esbarra na legislação brasileira. Entendê-las é crucial para quem quiser estar preparado para o mercado de trabalho da próxima década.
O trabalhador dos próximos anos será ainda mais exigido, tanto do ponto de vista técnico como em comportamento profissional e na vida privada. Num país mais rico, de mercado mais maduro, haverá um prêmio para o conhecimento. Essa tendência ganha corpo há décadas e deverá se fortalecer. Paralelamente, os trabalhos serão feitos coletivamente. Saber trabalhar em equipe (liderar ou discordar construtivamente) será um imperativo.

A seguir, as oito principais tendências do mercado de trabalho.

1. Decisões nas extremidades

Não é questão de ter alma democrática. As empresas de hoje precisam que seus funcionários tomem decisões sozinhos. Por causa da competição extrema, das demandas urgentes e do trabalho colaborativo, não há mais tempo para burocracia e consultas a diversos chefes antes de tomar uma decisão. Na maior parte das vezes, o conhecimento para tomar a decisão está nas mãos apenas do funcionário que tem contato com aquela realidade – o vendedor, o técnico, o operador. Segundo o professor americano Peter Malone, do Massachusetts Institute of Technology, estudioso do futuro do trabalho, descentralizar as decisões traz três benefícios: estimula a motivação e a criatividade; leva a mais ideias; traz flexibilidade e individualiza cada tarefa.
2. Pequenos e espertos

As grandes empresas serão cada vez maiores, mas haverá bem menos delas. O empregão clássico, com carteira assinada e benefícios, será proporcionalmente menor. Num mercado em expansão, vários profissionais talentosos deverão tentar carreira solo – prestar serviço para diversos patrões, e assim ganhar mais. Esse deverá ser um ambiente fértil para pequenas empresas criadas por empreendedores qualificados. Daí tendem a vir serviços especializados e produtos de alto valor agregado. Vão proliferar os autônomos, os consultores e os microempresários. Por causa de suas estruturas enxutas e flexíveis, esses negócios vão se adaptar melhor às condições do mercado. Justamente por terem menos a perder, eles tendem a ser inovadores e atentos ao cliente.

3. Liberdade com responsabilidade

Antigamente, o relógio de ponto era o principal mecanismo de controle das empresas sobre seus funcionários. se ele tivesse marcado seu cartão, era sinal de que estava produzindo. Mas cada vez menos as horas passadas no trabalho serão símbolo de produtividade. O horário flexível deverá ser a regra (já é em várias empresas desta lista das 100 melhores). O funcionário poderá escolher quantas horas vai trabalhar por dia e quantos dias irá ao escritório. Mas terá metas duras. Mesmo o funcionário normal de uma grande empresa terá cada vez mais um comportamento parecido com o de um empreendedor. Para que isso vire realidade, são necessárias novas métricas de eficiência. O difícil é conciliar essas medidas individuais com a tendência de trabalho em equipe.

4. Relações fluidas

Imagine o cenário: grandes empresas lançam desafios. os autônomos colaboram em rede. os pequenos empreendedores estão em busca de oportunidades promissoras. nesse panorama, as relações não serão engessadas. os profissionais vão trabalhar mais por empreitada, em contratos de curta e média duração. pequenos grupos podem se formar, realizar uma tarefa, dissolver-se e reagrupar-se para o trabalho seguinte. nas empresas, as equipes também serão móveis. o profissional precisará ter liderança para montar equipes e executar projetos de emergência. no brasil, as relações flexíveis vão esbarrar na consolidação das leis do trabalho. mas há maneiras de não ferir a legislação. esses trabalhos deverão ser realizados por consultores e autônomos.

5. Desafios ao vento

Para lançar produtos ou serviços, as grandes empresas vão promover uma espécie de competição aberta. Elas vão lançar desafios e tarefas. Os que tiverem as melhores ideias ganharão prêmios ou a possibilidade de realizar aquela tarefa. Isso já tem ocorrido em algumas campanhas publicitárias e deverá se espalhar. O benefício para as empresas é a redução de custos e a possibilidade de contar com ideias vindas de um universo mais amplo. Para os profissionais independentes, é a chance de valorizar seu portfólio. É provável que os desafios lançados pelas empresas incentivem a formação de grupos de profissionais. “a especialização vai gerar um aumento das redes de trabalho colaborativas”, afirma um relatório da consultoria PricewaterhouseCoopers.

6. Diversidade extrema

O discurso da diversidade no trabalho não é novo. Mas vai se intensificar. “Sceitar a variedade sexual, religiosa e étnica já era uma obrigação. agora os funcionários terão de aprender a interagir com pessoas com atitudes e valores completamente diferentes”, afirma Rolando Pelliccia, diretor da consultoria de RH Hay Group. As empresas vão incentivar profissionais com diferentes padrões de comportamento para reunir talentos com variadas formas de trabalhar, filosofias distintas e até pontos de vista conflitantes. Tudo para obter soluções diferentes e atingir novos tipos de público. “A habilidade mais importante será pensar abertamente, e não se limitar com preconceitos”, diz o futurologista inglês Ian Pearson.

7. Estímulos para agir

São cada vez mais comuns nas empresas programas para conscientizar os funcionários da importância de uma vida saudável, poupar dinheiro, fazer trabalho solidário. A perspectiva é que as pessoas devam se alinhar às políticas da empresa. “As empresas querem que seus funcionários sejam embaixadores da marca”, diz um estudo da consultoria Euromonitor sobre o futuro do trabalho. Os estímulos, apesar de bem-intencionados, podem criar mal-estar. Além de oprimir os discordantes, eles podem enraizar certos padrõesde comportamento. Bem-sucedido será o funcionário que souber se alinhar ao pensamento da empresa e filtrar os estímulos positivos das intromissões inadequadas.


8. Os próximos emergentes

Quem já estudou a etiqueta chinesa pode começar a pensar na da indonésia. As oportunidades não estão só nos Brics – sigla das quatro potências emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China. Outros países estão no radar de bons negócios. Os Next 11, ou próximos 11, são uma lista de países com futuro promissor. Além de exportar para esses países, as empresas brasileiras deverão investir em diversos setores deles. Dos 11 eleitos, sete têm maioria muçulmana. Conhecer a cultura, mais que nunca, será um diferencial. Nossos vizinhos latino-americanos também não podem ser esquecidos. Além do Mercosul e do Chile, o Peru é visto como um futuro prodígio: seu crescimento mensal tem padrão chinês, em torno de 10%.
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Reportagem por Thiago Cid
Foto:Um operário da Electric Time Co. limpa o mostrador de um relógio Wegman de 2 metros de diâmetro (AP Photo/Elise Amendola)
Fonte: Revista ÉPOCA  online Nº 640 - 20/08/2040

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