HENRIQUE RATTNER*
FEA/USP
O desejo de “envelhecer” ou alcançar a vida eterna é próprio da humanidade, desde a época de Gilgamesh, o mitológico rei da Suméria, há uns cinco mil anos atrás. A Bíblia fala de Metushalem, que teria vivido 960 anos, e a maioria das diversas religiões oferece a imortalidade da alma até a ressurreição no dia do juízo final. Na Idade Média, os alquimistas procuraram a pedra filosofal que asseguraria o rejuvenescimento e, na idade industrial, muitos charlatães enriqueceram ao vender o elixir da juventude. Na sociedade globalizada, as indústrias de cosméticos fazem sucesso e enriquecem com a venda de loções e poções para a eterna juventude.
Há poucas pesquisas sobre as causas do envelhecimento que segundo os biólogos, não seria inevitável: o DNA, hormônios e a glicose merecem ser mais estudados quanto ao seu impacto no envelhecimento.
Curiosamente, o “jejum” em animais de laboratórios aumenta sua vida em até 40% e melhora sua saúde, ao mesmo tempo. Se esses resultados forem conseguidos em seres humanos, seria possível aumentar a expectativa de vida até 130 anos. Existe certo consenso sobre o poder da dieta e o uso de produtos químicos que reduzem o nível de açúcar no sangue. O baixo número de calorias na dieta reforça mecanismos de correção celular (drogas que restringem calorias) e alimenta as pesquisas para prolongar a vida. Seria mais uma ilusão pensar que a imortalidade é próxima, mas a redução de doenças é possível mediante o uso de produtos farmacêuticos. De tudo isso segue que a geriatria tem se tornado uma disciplina respeitada e ensinada nas escolas de medicina.
Mas, o fenômeno de envelhecimento tem também dimensões cultural, social, econômica, demográfica e psicológica. O que nos ensinam as estatísticas? O Censo de 2010, atualmente em execução, evidenciará a alteração da pirâmide etária: mais pessoas passam de 65 anos e no Japão, terra dos macróbios, a média é de 86 anos de idade.
A expectativa de vida ao nascer mostra grandes diferenças quando a do Japão é comparada à dos países africanos, com média de 40-50 anos, e evidencia o atraso e o subdesenvolvimento do continente africano. Na Europa, os dados de 2010 e as projeções de 2030 e 2050 mostram a redução da população em idade de trabalhar, que será 20 milhões menor, enquanto o número de pessoas acima de 65 anos aumentará em 40 milhões. A previsão de problemas fiscais e orçamentários levou os governos da Holanda e do Reino Unido a propor a elevação da idade de aposentadoria para 67 e 70 anos, respectivamente.
A cultura e as tradições têm papel importante nos cuidados aos idosos. Durante a maior parte da História, as sociedades foram dominadas pelo sistema patriarcal. No Japão, na era pré-industrial e ainda no início do século XIX, costumava-se levar a mulheres velhas para uma montanha, onde eram abandonadas, para não pesar na alimentação precária da família. Cultura e necessidade de sobrevivência podem determinar uma prole numerosa, como entre os árabes e a população religiosa em Israel. As taxas de fecundidade nas famílias judias na Europa pré-guerra eram de cinco ou mais filhos; hoje é de 1,9, menor do que a reposição, causando graves preocupações aos governantes de Israel quanto à natureza judaica no futuro do Estado.
Os problemas da velhice começam com a aposentadoria compulsória, justificada para dar lugar ao emprego dos mais jovens. Devido à crise econômica que assola a Europa, os jovens que não encontram empregos permanecem nas casas dos pais onde têm abrigo e alimentação. Mas, na maioria dos casos, os aposentados se sentem inúteis, experimentam a solidão e carecem de atividades que confiram sentido a suas vidas. Com a inatividade, seu estilo de vida muda e, com isto, seu relacionamento com a sociedade.
Por isso, é necessário repensar e reprogramar as atividades de pessoas idosas e sua reintegração social, através de atividades recreativas e produtivas, mesmo em tempo parcial. A participação em atividades culturais, recreativas, educacionais e de cultura física, bem como trabalhos manuais, como costura, pintura ou cerâmica, aulas de canto, dança, teatro e música podem enriquecer a vida, sem limites de idade.
A freqüência em cursos (vide o exemplo de Israel) sobre História, arqueologia, bíblia, a ida a concertos, shows e trabalho voluntário junto a outros idosos, ouvir e contar histórias de vida e a participação em eventos públicos, religiosos, políticos e culturais são de grande significado para o dia a dia dos idosos. Outra área importante para a saúde física e mental é constituída por atividades físicas: ginástica, hidroginástica ou simples caminhadas, de preferência coletivas.
No aspecto emocional, para superar o sentimento de abandono, será importante resgatar a história contada da vida de cada idoso que é única!
O problema é universal, (vide matéria de The New York Times, de 2/8/10): “New York se adapta aos idosos” através de planejamento urbano, que visa atender as necessidades de locomoção e recreação de pessoas idosas, sem dúvida, sinal de maturidade e de visão esclarecida e humanista da administração da maior cidade norte americana, que reconhece e valoriza a contribuição dos mais velhos para o equilíbrio da sociedade.
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*Professor da FEA (USP), IPT e membro da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças (ABDL)
*Publicado: 18/08/2010 por Revista Espaço Acadêmico em colunista da REA
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