Educação: Para autor de "Pai rico, pai pobre",
os jogos são fundamentais
O best seller Robert Kiyosaki:
"Os ricos compram ativos, os pobres, passivos.
É difícil para a maioria das pessoas
ver as distinções entre as duas classes"
O americano Robert Kiyosaki é um fenômeno literário mundial. Desde 1997, quando começou a escrever livros sobre educação financeira, vendeu mais de 27 milhões de exemplares. O sucesso não se ateve ao mercado americano: seus livros já foram traduzidos em 50 idiomas e são vendidos em 100 países, o que o torna o escritor de negócios mais bem-sucedido da história. Investidor, empresário, palestrante e autor de best sellers, Kiyosaki, nascido em 1947 no Havaí, se aposentou aos 47 anos, em 1994, e desde então continua seguindo o mandamento que o levou a ficar rico: não trabalhar pelo dinheiro, mas fazer o dinheiro trabalhar para você.
Autor de "Pai rico, pai pobre" (Campus Elsevier), que vendeu mais de 16 milhões de exemplares no mundo, ele diz no livro que, quando criança, recebeu os ensinamentos sobre finanças de dois pais. O pobre era seu verdadeiro pai, que o ensinou a estudar, conseguir um diploma e ser bem-sucedido em uma carreira segura. Já o rico - pai de um amigo e vizinho seu na década de 50 - mostrou que, para obter riqueza, era preciso seguir um caminho diferente: era fundamental ter educação financeira e buscar a independência por meio de investimentos em ativos, como ações ou imóveis.
Ambos foram influentes e realizados em suas carreiras, mas enquanto o pai pobre acumulava dívidas no fim do ano, o rico aumentava o patrimônio pessoal e o da família. "O pai pobre dizia para eu trabalhar para ser empregado em uma boa empresa. O pai rico dizia para eu ganhar dinheiro para comprar uma empresa", diz. Com a regra em mãos, ele vem ganhando dinheiro há anos. De seu escritório em Phoenix, Kiyosaki falou ao Valor pelo telefone:
Valor: Seus livros buscam enfatizar a importância de adquirir educação financeira e buscar a independência econômica. Por que as escolas não ensinam crianças e jovens a lidar com o dinheiro?
Robert Kiyosaki: As escolas não dão orientação sobre educação financeira porque, no fundo, o sistema quer que os alunos estejam sob controle. As escolas e o governo querem que os alunos trabalhem em um emprego e tenham uma carreira sólida, que paguem impostos e contribuam para a seguridade social. Ou seja, a pessoa é criada com a cabeça de alguém que vai trabalhar pelo dinheiro e pagar impostos para o governo.
Valor: Se as escolas não ensinam, qual a melhor forma de ensinar aos filhos educação financeira?
Kiyosaki: Os pais têm de estimular a mente de crianças e jovens de modo lúdico, com jogos que façam elas pensarem em modos de ganhar dinheiro para comprar as coisas de que gostam. Esses jogos passam a fazer com que os filhos comecem a perceber que eles podem fazer dinheiro por eles próprios. É isso que eu chamo de fazer o dinheiro trabalhar para você - e assim eles podem adquirir a independência financeira. É fundamental que as crianças aprendam sobre dinheiro errando. Só com os erros elas aprenderão. Nas escolas, o erro é recriminado. Na educação financeira, pode-se aprender a partir dos erros. Jogos podem fazer muito mais para os filhos do que ficar falando horas sobre o tema. Mas é preciso ter em mente que as crianças busquem aprender formas de ganhar dinheiro por elas próprias, para satisfazer seus gostos e vontades.
Valor: Os pais devem dar mesada aos filhos? Como estabelecer esse valor?
Kiyosaki: Meu pai nunca me deu nada. Nunca tive mesada. Isso eu acho que foi muito bom. Por quê? Porque me obrigou a criar formas de eu mesmo ir atrás do dinheiro. Quando meus amigos na escola tinham vários brinquedos, eu me senti triste, me senti o mais pobre da turma. Aí me ensinaram que eu tinha de pensar por mim mesmo, fazer o dinheiro trabalhar para mim. Com um amigo, montamos um negócio em que abrimos uma biblioteca de gibis para as crianças do bairro. Comecei a fazer a minha própria mesada.
Valor: Qual deve ser a atitude dos pais em relação aos desejos dos filhos? Devemos impedi-los de comprar coisas caras ou devemos dar liberdade a eles para escolher?
Kiyosaki: No meu livro "Pai rico, pai pobre", há uma história interessante. O filho de um amigo estava gastando demais e, aos 16 anos, queria um carro, porque todos os amigos dele tinham um. Meu amigo me perguntou o que eu achava. Disse que, se ele desse o dinheiro, no curto prazo poderia ser bom, mas o que seria ensinado no longo prazo? Perguntei se ele não podia pensar em uma forma de o filho ter o carro e ao mesmo tempo ser incentivado a aprender alguma coisa. Dois meses depois, voltamos a nos encontrar. O pai começou a jogar com ele um jogo de tabuleiro financeiro, fez uma assinatura para o filho de um jornal de economia e deu US$ 3 mil em dinheiro para o filho, com uma condição: ele não poderia comprar o carro direto, mas deveria usá-lo para comprar e vender ações até que conseguisse US$ 6 mil, dinheiro suficiente para o carro e para uma poupança para a faculdade. Ainda faltavam US$ 2 mil para ele conseguir seu objetivo, mas meu amigo obteve uma coisa muito mais importante: o filho começou a se interessar pelo mercado e em fazer seu próprio dinheiro.
Valor: O que é mais importante para os filhos aprenderem - a poupar para o futuro ou a não ser escravo do dinheiro?
Kiyosaki: Eu costumo dizer nos meus livros que as pessoas que poupam dinheiro, na verdade, não são exemplos, são, na verdade, fracassadas. A questão não é trabalhar quarenta anos em um lugar, ser empregado e ficar poupando. Elas irão trabalhar pelo dinheiro, terão dificuldades e, quando chegar na hora de se aposentar, poderão ter dificuldades para receber o dinheiro, porque o sistema de seguridade nacional é um problema em dezenas de países. A questão, então, é investir sabiamente o dinheiro, ter educação financeira para obter independência financeira.
Valor: Ensinar a diferença do "caro" e do "barato", ou seja, o valor das coisas para os filhos, pode ajudá-los a organizar as finanças na vida adulta?
Kiyosaki: A educação financeira pode mostrar uma coisa muito mais importante. Ela pode mostrar a diferença entre ativos e passivos. Os ricos compram ativos, os pobres, passivos. Parece simples distinguir uma coisa da outra, mas é muito difícil para a maioria das pessoas ver as distinções entre as duas classes. Uma casa hipotecada não é um ativo, é um passivo, assim como dívidas no cartão de crédito e um financiamento de um carro. Não se pode confundir as coisas, para não enfrentar problemas financeiros. Investir em ativos é uma forma de ter um fluxo constante de recursos, aplicando dinheiro em imóveis, ações, certificados de recebíveis. Os filhos têm desejos, querem comprar tudo, mas é preciso mostrar que, para alcançar esses bens, é necessário ter ativos que possam garantir um fluxo de caixa estável e que assegure que a aquisição desses bens desejáveis não se transforme em dor de cabeça. Ou seja, os ativos compram supérfluos. Essa é uma das regras importantes que devem ser reforçadas. É fundamental ter consciência que é preciso ter ativos para alcançar os desejos.
_______________________________Reportagem por:Roberto Rockmann, para o Valor, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico online, 26/08/2010
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