John L. Allen Jr.*
Os católicos norte-americanos são um grupo heterogêneo, mas uma coisa que a grande maioria compartilha é uma predisposição em favor da juventude. Dos tradicionalistas mais incondicionais até os liberais mais vanguardistas, quando os católicos vão a um encontro composto por cabeças com cabelos desproporcionalmente grisalhos, eles se queixam e lamentam, enquanto uma sala cheia de crianças alegra os corações.
Levando em consideração os dados demográficos ocidentais destes dias, os católicos terão que repensar essa inclinação, ou terão que se resignar a se queixar e a se lamentar muito.
Um lembrete disso veio no início de agosto, com a publicação do "World Population Data Sheet" de 2010 pelo Population Reference Bureau, de Washington. Ele confirmou uma realidade já bem documentada, de que hoje os países ricos estão envelhecendo mais rapidamente do que qualquer sociedade anterior da história humana.
Na Europa, no Canadá e nas sociedades asiáticas desenvolvidas como o Japão, Hong Kong, Taiwan e Singapura, isso é o resultado do aumento da longevidade e dos baixíssimos índices de natalidade. Nos Estados Unidos (onde as taxas de natalidade permanecem um pouco elevadas), o envelhecimento também é impulsionado pelo fato de os "baby boomers" [nascidos no período pós-Segunda Guerra Mundial] estarem chegando aos seus anos dourados.
Alguns fatos servem de exemplo:
Pela primeira vez na história, o número de pessoas na terra com 65 anos ou mais irá ultrapassar em breve o número de crianças menores de 5 anos.
Cerca de 40 milhões de norte-americanos hoje têm mais de 65 anos, taxa maior do que a soma das populações de Nova York, Londres e Moscou. Em 2050, o total de pessoas com mais de 65 anos vai subir para mais de 80 milhões.
A cada oito segundos nos Estados Unidos, hoje, um "baby boomer" completa 65 anos.
Essas tendências fazem com que os intelectualoides da política se preocupem com a forma como o Ocidente vai pagar as pensões e os tratamentos de saúde, especialmente porque a proporção entre trabalhadores e aposentados reduziu de 4/1 (o nível que os analistas dizem ser o ideal) para 3/1 (o projeção para os Estados Unidos em 2050), ou para 2/1 (Canadá e Europa), ou mesmo para 1/1 (Japão). Os católicos também devem se preocupar porque, quando as redes de segurança pública se romperem, e os tratamentos de saúde para idosos não estiverem disponíveis na família, as comunidades de fé serão pressionadas a pisar nessa brecha.
No entanto, visto através de olhos católicos norte-americanos, o "grayby boom" [o crescimento do número de idosos] deveria ser uma fonte de estímulo, assim como de ansiedade, porque, independentemente das tensões sociais que isso possa criar, o rápido envelhecimento também preanuncia um renascimento religioso potencialmente massivo.
Aqui está o porquê: o grupo de pessoas com mais de 65 anos é, em qualquer medida, o segmento mais religioso da população norte-americana. Um recente estudo do Pew Forum descobriu que apenas 27% dos adultos dos EUA entre 18-34 anos se descrevem como "religiosos", ao contrário de robustos 47% das pessoas com 65 anos ou mais. Uma pesquisa da U.S News and World Report/PBS Religion and Ethics Newsweekly de 2002 concluiu que 60% das pessoas com mais de 65 anos participam de serviços religiosos pelo menos uma vez por semana, comparados a apenas 34% das pessoas com 25-34 anos.
Na verdade, completar 65 anos não torna ningém religioso magicamente. A atual safra de idosos norte-americanos é mais religiosa, em parte, porque foi assim que eles foram criados, e ainda não está claro como serão as futuras gerações. No entanto, também é um consistente achado sociológico o fato de que alguém ligeiramente aberto à religião aos 35 anos seja muito mais ativamente religioso aos 65 anos. Os pesquisadores dizem que o incremento na oração e na participação de serviços religiosos entre essas pessoas começa no início dos 30 anos e aumenta à medida que envelhecem.
Em outras palavras, o "principal mercado" da religião nos Estados Unidos, o segmento da população mais inclinado tanto a crer quanto a pertencer, está prestes a explodir.
O recente livro de Linda Nazareth, "The Leisure Economy: How Changing Demographics, Economics, and Generational Attitudes Will Reshape Our Lives and Our Industries" [A economia do lazer: Como a demografia, a economia e as atitudes geracional em mudança irão remodelar nossas vidas e nossas indústrias], esboça as implicações comerciais do rápido envelhecimento da população, argumentando que as empresas que atendem pessoas com tempo livre em mãos vão se dar bem ao longo da próxima metade do século. Ela indica a American Time Use Survey, que relata que um norte-americano adulto, com idade entre 45-54 anos, tem uma média de 4,5 horas de "tempo de lazer" a cada dia, ou seja, um tempo do dia que não é economicamente produtivo, enquanto aqueles que têm 65 anos ou mais desfrutam 7,3 horas de lazer. Faça as contas: como a população de mais de 65 anos vai aumentar de 34,7 milhões para a 75,9 milhões até 2050, isso é um extra de 115 milhões de horas de tempo de lazer que estarão esperando pela sociedade norte-americana todos os dias.
Além disso, as melhorias na saúde em geral significam que os idosos podem aproveitar melhor o seu tempo de lazer. Três em cada quatro pessoas com idades entre 65 e 74 anos nos Estados Unidos, e duas em cada três pessoas com mais de 75 anos dizem que sua saúde é "boa a excelente". Elas também têm os meios para isso: a empresa de publicidade Martino & Binzer, especializada em "marketing maduro", estima que os norte-americanos com mais de 55 anos possuem 1,5 trilhão de dólares para despesas arbitrárias.
Uma questão evangélica definidora para o catolicismo nos EUA é, portanto, a seguinte: qual parte daqueles 115 milhões de horas de tempo extra a Igreja Católica irá capturar para suas cozinhas solidárias, seus grupos de oração, seus programas de formação de fé de adultos e assim por diante? Será que a população idosa do país em crescimento se sentirá bem-vinda nas sedes católicas, ou será irá fazer suas atividades religiosas em algum outro lugar?
A resposta depende da habilidade da Igreja de fomentar uma consciência amigável para com os "grisalhos".
As paróquias, por exemplo, podem garantir que suas estruturas sejam acessíveis a pessoas com deficiência, e que programas de transporte estejam disponíveis para os idosos. Atividades dirigidas a jovens adultos geralmente começam às 19h ou até mais tarde, porque, teoricamente, nessa hora, os participantes já voltaram do trabalho, cuidaram dos filhos e jantaram. Os idosos, porém, podem se sentir mais confortáveis com eventos que comecem no início da tarde.
Nada disso significa que o catolicismo deve abandonar os jovens, mas implica sim numa mudança copernicana nas atitudes com relação aos "grisalhos". Se alguém inventasse um programa para atrair milhões de católicos afastados para uma prática mais ativa da fé, isso seria saudado como uma das maiores histórias de sucesso evangélico de todos os tempos. Hoje, os dados demográficos do envelhecimento da população estão, até certo ponto, fazendo o trabalho totalmente sozinhos – se a Igreja Católica nos EUA tiver a imaginação pastoral para fazer com que os fiéis idosos se sintam como parte dela.
_________________________________* A análise é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 16-08-2010.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU online, 20/08/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário