POEMA
Bruno Tolentino*
A Via Crucis foi uma selvageria,
a Crucifixão uma brutalidade;
mas em três, quatro horas, acabou a agonia,
baixou a eternidade.
Eu vivo aqui, crucificada noite e dia,
carrego da manhã à tarde
o meu lenho de opróbrio e a noite me excrucia,
lenta, fria, covarde.
Ah, como eu preferia
que me crucificassem de uma vez, sem o alarde
de algum terceiro dia!
Mas toca-me seguir nessa monotonia,
a agonia de alçar-me do catre
e abrir de novo os braços, vazia.
"Via Crucis", poema de "As Horas de Katharina"
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Por:VINICIUS TORRES FREIRECOLUNISTA DA FOLHA
Record reedita "As Horas de Katharina", do poeta Bruno Tolentino (1940-2007), prêmio Jabuti de 1995 Fonte: Folha online, 21/08/2010
Foto: A Via Crucis de Lucio Fontana
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