quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Quando o vice é um trapalhão

Mauro Santayana*

Enganam-se os que desprezam os programas de propaganda eleitoral pela televisão. Se é certo que eles pouco influem para que os eleitores de opinião formada mudem seus votos, é também certo que são importantes para a conquista dos indecisos. A imagem dos candidatos, com o seu olhar, os seus gestos e o tom de sua voz, podem transferir a mensagem de confiança ou de repulsa. É também certo que os candidatos só conseguem obter a simpatia daqueles telespectadores que – pela sua origem de classe e sua história de vida, suas crenças e sua inteligência – com eles se identifiquem. E, a menos que o candidato seja excepcional ator, ele acaba se revelando nos dias intensos de proselitismo eletrônico.

O primeiro dia do programa foi mais ou menos equilibrado, mas os principais protagonistas ainda se encontram um pouco cambaleantes. Dilma e Serra se empenharam em usar a emoção como envoltório de seu recado. Serra buscou, na origem familiar, sua vinculação com a classe trabalhadora, ao relembrar o trabalho modesto de feirante de seu pai e a frequência à escola pública. Dilma buscou o mesmo efeito, ao recordar sua infância e adolescência em Minas, a ação política contra a ditadura, e sua atividade na prefeitura de Porto Alegre e no governo gaúcho. De certa forma, saíram-se bem.

Serra está correndo o risco de se transformar em homem de um só tema, o tema da saúde. Ainda que ele possa orgulhar-se do que fez quando ministro da Saúde, convém-lhe entender que é candidato à Presidência da República, e não ao retorno ao cargo que ocupou no governo Fernando Henrique.

Uma coisa parece certa: os candidatos serão mais conhecidos do grande eleitorado a partir de agora. As pesquisas, sendo anteriores a essa presença diária nos meios de comunicação, provavelmente serão alteradas, até o pleito. Ainda assim, elas não são infalíveis. Temos assistido a mudanças rápidas do ânimo do eleitorado, diante de fatores inesperados. Ao apresentar em seu programa uma senhora ressentida e alugada, Fernando Collor derrotou Lula, no segundo turno, em 1989. Grande parte do eleitorado feminino, naquele momento, deixou-se iludir pela farsa, e mudou seu voto.

José Serra cometeu muitos erros em sua postulação. Como já anotamos, neste espaço, nada indica que ele fatalmente perderia as prévias regionais de seu partido para Aécio Neves, se elas se realizassem, o que ele não permitiu. Além desse grave equívoco, Serra cometeu outro, o de pressionar o mineiro para candidatar-se a vice-presidente. Com a clara recusa de Aécio, ele teve tempo bastante para procurar um candidato a vice que lhe trouxesse votos, e não que os subtraísse. Era elementar que ele fosse ao Nordeste, como tem sido da tradição brasileira, em busca de seu vice, e ali havia, tanto em seu partido quanto nos partidos aliados, nomes respeitáveis. No último momento, foi escolher, na lista de deputados federais pelo Rio de Janeiro, um político desconhecido, provocador, de atitudes fascistas, absolutamente indesejável para ocupar, eventualmente, a suprema magistratura do país.

Ainda agora, em debate com Michel Temer, ele se revelou o que é, ao acusar Dilma Rousseff de partidária das Farc e de estimuladora de invasão de terras. Os quatro candidatos à Presidência (Dilma, Serra, Marina e Plínio) vieram da esquerda. Mas esse Indio da Costa parece desconhecer a origem ideológica de Serra.

Ou ele dispensa esse Indio (ainda há tempo) ou não sairá do lugar.
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*Jornalista
Fonte:JB online, 17/-8/2010

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