Hoje a humanidade está mais ameaçada que antes
A presidente do Conselho Mundial da Paz, a ativista brasileira Socorro Gomes, esteve entre 3 e 9 de agosto no Japão, participando dos eventos que rememoraram os 65 anos do maior crime de guerra cometido no século 20, quando os Estados Unidos lançaram bombas atômicas contra Hiroshima e Nagasaki, cidades que tinham peso militar nulo, às vésperas do fim da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945.
Entrevistada pelo Vermelho, Socorro afirma que 2010 é um ano especial para a paz, em que além de rememorar os 65 anos do crime contra o Japão, também foi realizada mais uma conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear, instrumento que poderia ser uma ferramenta importante da luta pela Paz.
Vermelho: O ano de 2010 marca os 65 anos do uso da arma atômica contra um país, ao mesmo tempo que foi o ano de uma conferência que pretendia rever o Tratado de Não Proliferação Nuclear, houve algum progresso no rumo da paz em relação às armas nucleares?
Socorro Gomes: O ano de 2010 é um ano importante, ao mesmo tempo que se lembra os 65 anos de Hiroshima e Nagasáki a gente reflete sobre os objetivos que levaram os Estados Unidos a lançar as bombas contra essas cidades. O evento Hiroshima é muito claro: ali foi uma tentativa de impor o medo a povos e nações. Aquilo foi um teste dos Estados Unidos, se assumindo como potência mundial, pelo meio das armas.
Também foi o ano da revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Neste ano, mais uma vez, o Conselho Mundial da Paz chamou a atenção na Conferência sobre a verdadeira razão de existência do Tratado, que é a eliminação das armas. No entanto, mais uma vez, o que se viu na pauta foi apenas o assunto da não proliferação.
Esse assunto vai ao encontro aos interesses das potências nucleares. Ao mesmo tempo que os EUA foram responsáveis pelo genocídio de 1945, se nega, até hoje, a assumir o compromisso de não ser o primeiro a utilizar uma arma nuclear contra outra nação. Este é um compromisso básico que os Estados Unidos não assumem.
A conferência de revisão tratou de discutir os assuntos pautados pelas mesmas potências vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, que também detêm o monopólio sobre o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
E que papel cumpre a Otan nesse aspecto, em que o poder militar americano passa a ter um peso muito maior sobre seus aliados europeus?
A Otan, hoje é um outro instrumento de força do imperialismo americano, é um outro braço armado dos Estados Unidos, auxiliado por seus aliados europeus. Cerca de dois terços dos gastos militares atuais do planeta são dispendidos pela Otan.
Ainda este ano a organização realizará uma cúpula, em Portugal. Essa cúpula vai tentar, perante ao mundo, legitimar o conceito de uma Otan no papel de uma "polícia global". A Otan se converte em uma arma portentosa de guerra que procura ir além dos poderes da ONU, tentando legitimar seu papel de força de agressão, como nos Bálcãs e no Afeganistão. Ela não é uma força de defesa, mas sim de intimidação e agressão.
No dia 20 de novembro, dia de encerramento da cúpula, o Conselho Português Pela Paz realizará, com o CMP e mais de uma centena de organizações que lutam pela paz no mundo, uma grande manifestação contra a Otan em Lisboa. Essa manifestação poderá ser acompanhada no site português "Paz sim, Nato não".
Hoje a humanidade está mais ameaçada que antes. A América do Sul está cercada de bases militares do imperialismo, que assim procura barrar os processos de independência da região.
A luta pela paz tem de denunciar os fautores da guerra. A paz interessa a todos os trabalhadores do mundo.
Essa luta esteve presente no Fórum Social das Américas, do qual o CMP também participou?
Sim, o CMP participou ativamente do Fórum no evento promovido pela organização sobre a militarização do continente. Houve uma plenária grande, com muitos movimentos sociais se manifestando contra as bases estrangeiras nas Américas, contra as ameaças militares na nossa região. Vários presidentes compareceram ao Fórum, como Lugo, do Paraguai, o Evo Morales, da Bolívia e o Rafael Correa, do Equador. todos eles se manifestando contra a presença de bases militares estrangeiras.
Isso é um sinal de elevação das consciências e de unidade das forças que lutam pela paz no mundo. Nós, latino-americanos, temos muitas mazelas, muita miséria, mas para resolver isso precisamos de um mundo pacífico.
Como viu a decisão da Corte Suprema da Colômbia em desautorizar as bases americanas no país?
Como a Corte Suprema declarou ilegal a instalação de americanos em bases militares colombianas, a decisão definitiva deverá ser tomada pelo Congresso colombiano. Isso faz com que as forças progressistas, que lutam pela paz, ganhem tempo na questão, para dar continuidade à luta contra as bases, pressionando ainda mais o novo presidente do país nesse sentido.
A decisão demonstra também que o acordo é lesivo e inconstitucional para o país. Algo que Uribe tentou enfiar goela abaixo do povo colombiano.
_________________________________________Fonte: http://www.vermelho.org.br 23/08/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário