quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A conveniência das “nuvens”



Congresso internacional discute como governos,
empresas e pessoas físicas podem se beneficiar
do conceito de cloud computing,
que elimina a necessidade de que cada órgão ou
 residência tenha um enorme servidor ou
 disco rígido para armazenar informações

Processadores robustos, memória de sobra e programas sempre atualizados são requisitos mínimos para se manter um centro computacional de qualidade. Não é preciso, contudo, ter essa estrutura na sua empresa para garantir que tudo funcione bem, principalmente se as máquinas forem necessárias só de vez em quando. É possível acionar o processamento com um clique, pela internet, conforme a demanda — e, o melhor, pagando apenas pelo que for usado. A chamada computação em nuvem(1) é uma solução que tem conquistado cada vez mais adeptos — e que promete maior eficiência, otimização de recursos e economia de energia elétrica.

A ideia é, basicamente, dividir o processamento em vários discos rígidos (o que deixaria tudo mais rápido) e aproveitar a capacidade de computadores ociosos. Cada pessoa, entidade ou órgão público poderia acessar serviços diversos por meio da internet, em vez de instalá-los nas máquinas. “Não será preciso ter um supercomputador em cada prefeitura: as administrações poderão controlar tudo através de uma grande nuvem de governo, por exemplo. Isso é legal para o meio ambiente, para redução de custos com equipamentos e manutenção, para diminuir a produção de lixo”, enumera a professora Karin Breitman, coordenadora do Programa de Engenharia de Computação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ).

Karin estará esta semana em Brasília, no III Congresso Internacional de Software Livre e Governo Eletrônico (Consegi), que terá como tema principal a computação em nuvem. “Nosso objetivo é tentar prover mais rapidamente a entrega de serviços para a população”, diz José Maria Leocádio, coordenador estratégico de tecnologia do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). O governo estuda a implantação de uma grande nuvem governamental que irá abrigar uma série de serviços.

Para se ter uma ideia do impacto da computação em nuvem, imagine que muitas empresas e entidades utilizam recursos de informática de forma sazonal, ou seja, têm uma grande demanda por máquinas potentes apenas em um período do ano. É o caso, por exemplo, da Receita Federal, durante a entrega das declarações anuais do imposto de renda. “É um momento de pico, ainda mais porque a maior parte das pessoas manda a declaração na última hora. Aí, a Receita acaba comprando milhares de máquinas para dar conta de uma demanda que vai durar uns 10 dias”, comenta a professora Karin.

Isso também pode ocorrer com empresas privadas. A coordenadora do Programa de Engenharia de Computação da PUC/RJ desenvolveu na nuvem uma alternativa para o recebimento dos vídeos de candidatos à próxima edição do Big Brother Brasil, da TV Globo. Na época das inscrições, a emissora recebe cerca de 500 minutos de vídeos por dia. “Eles têm um centro com 30 servidores, cada um no valor de cerca de US$ 30 mil. Com a nuvem, o sistema todo ficará por cerca de US$ 25 mil”, conta Karin.

Possibilidades

Hoje, já há empresas que “alugam” nuvens. Elas oferecem três tipos de serviços: de infraestrutura, de plataforma e de software. No primeiro caso, é possível adquirir máquinas e sistemas conforme a necessidade. “Se seu negócio precisa de dois computadores e você está sem dinheiro, você pode recorrer a uma nuvem”, aponta o analista de sistemas do Serpro Giuseppe Romagnoli.

As empresas também oferecem aplicações para o desenvolvimento de outros produtos. Um bom exemplo são as plataformas de criação de blogs, com diversas ferramentas que permitem ao usuário o desenvolvimento de uma página personalizada. O Google é uma das principais companhias que oferecem serviços em nuvem de forma gratuita: além da plataforma Blogger, há uma infinidade de sofwares — o Gmail (de correspondência eletrônica), o Google Docs (de editoração de textos), o Picasa (de compartilhamento de imagens) e por aí vai. As redes sociais também são serviços em nuvem, uma vez que tudo está espalhado por milhares de servidores em todo o mundo.

É preciso, porém, acertar detalhes sobre segurança dos sistemas. “O principal problema a ser enfrentado é a confiabilidade dos usuários. Eles não acham legal confiar apenas no provedor”, afirma a especialista em segurança Paola Juarez. Por isso, é comum ver pessoas salvando documentos no Google Docs, por exemplo, e também em um pen drive. Paola acredita que o primeiro passo para levar essa segurança aos internautas seria definir em lei como devem ser os contratos. “As empresas precisam saber o que pode ser feito em uma nuvem e o que acontece caso haja perda de informações”, destaca ela.

Toda essa mudança depende, ainda, da concretização do Plano Nacional de Banda Larga(2) — uma vez que a internet será muito mais utilizada — e da padronização de alguns sistemas. Uma das características da computação em nuvem é a elasticidade: quanto maior a demanda, maior a capacidade de atendê-la, muitas vezes, transbordando para outra nuvem. Assim, as nuvens precisam ser compatíveis. Há, ainda, a possibilidade de implantação de nuvens privadas. “Um banco, por exemplo, pode ter o cloud com dados e estruturas individualizadas, capazes de melhorar o atendimento aos clientes”, lembra Romagnoli.

1 - Ideia antiga

O cientista da computação norte-americano John McCarthy formulou o conceito de cloud computing em 1961. Na época, ele afirmou que iria acontecer com a informática o mesmo que aconteceu com a eletricidade. Ao invés de as pessoas terem geradores (no caso, discos rígidos de computadores) em suas casas, elas pagariam pela quantidade de energia elétrica utilizada.

2 - Meta ambiciosa

O Plano Nacional de Banda Larga foi lançado em maio deste ano. Um dos objetivos é levar a banda larga para 40 milhões de domicílios. A ideia é que a velocidade seja de 512kbps (kilobits por segundo) e que custe, em média, R$ 15 por mês.

Mais com menos

Entenda o que é a computação em nuvem e por que ela pode ser uma boa alternativa na hora de racionalizar os recursos de informática:

A maioria dos serviços de computação dependem de uma infinidade de servidores espalhados por todo o mundo: máquinas com grandes capacidades de processamento e memória, que guardam dados de forma centralizada.

Esse modelo tradicional de computação é, porém, pouco inteligente quando se trata de racionalização de recursos. Isso porque cada lugar precisa de uma estrutura própria de hardware e de software para garantir que tudo chegue à tela do computador dos usuários.

A computação em nuvem propõe que os dados fiquem distribuídos em vários servidores e sejam acessados pela internet, conforme a demanda. Com isso, o sistema consegue estar sempre aproveitando máquinas que poderiam ficar ociosas no modelo tradicional. Distribuir as informações em vários discos também é mais seguro. Se houver algum problema em um servidor, não há o risco de toda a rede ser afetada.

Um bom exemplo de computação em nuvem são os serviços de webmail. Toda a correspondência eletrônica fica guardada em nuvens, não no computador dos usuários. A ideia é que essa lógica funcione para outras coisas: sistemas de gestão, editores de texto (a exemplo do Google Docs), produção de slides, etc.

Assim, mais pessoas poderiam se beneficiar de um único servidor, responsável por cada grande nuvem de dados. Os especialistas agora discutem como garantir a segurança das informações e como padronizar as nuvens para que elas se comuniquem entre si.
________________________
Reportagem: Carolina Vicentin
Fonte: Correio Braziliense online, 18/08/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário