domingo, 1 de maio de 2011

Cirurgia plástica

Médicos avaliam o que separa
o saudável do excessivo

Emanuelle Bezerra*
Monalisa na imagem original e nos padrões de beleza atuais

Uma apologia ao equilíbrio. É como os autores do livro Os Mistérios da Vaidade Humana definem a obra. Charles Sá e Natale Gontijo utilizam a experiência de seus consultórios para tentar traçar a linha tênue que separa o saudável do excessivo em termos de cirurgia plástica.
Muitas pessoas procuram a cirurgia estética por associar a beleza ao alcance do sucesso e da felicidade. De fato, pesquisas já comprovaram que a pessoa com uma boa aparência é mais bem aceita tanto socialmente, quanto profissionalmente. Mas é exatamente essa a preocupação dos doutores: a transformação do corpo em prol do que agrada aos outros. Além disso, muitos pacientes têm uma expectativa acima dos resultados reais que a cirurgia pode trazer. O que gera maior frustração com a própria imagem.
Os médicos ressaltam que antes de indicar uma cirurgia é preciso refletir, entender qual é a busca da pessoa. Se a felicidade que ela quer está baseada na idealização da imagem perfeita ou se é uma necessidade de corrigir ou modelar aquilo que a deixa insatisfeita e, de algum modo, infeliz. “A beleza deve ser pensada como uma questão de saúde. A própria organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como o bem estar físico e psíquico do ser humano. Isso mostra que um corpo saudável é prejudicado se a pessoa está psicologicamente abalada. O que a gente busca mostrar no livro é que cada um precisa viver bem com a sua condição anatômica, estética. Claro pode tentar melhorá-la, mas não tentar mudá-la, descaracterizá-la”, resume Natale.
Essa busca por se sentir melhor com sua imagem e com isso ter uma vida plena fez com que Iara da Costa, de 42 anos, procurasse aos 37 um cirurgião plástico. Após fazer quatro cirurgias descobriu o quanto se escondia por não se sentir à vontade com sua imagem. “Eu não tirava fotos, eu não me arrumava, eu procurava passar despercebida. Eu me abstinha de pequenas coisas porque tinha vergonha do meu nariz. Comprava calças masculinas por conta do culote. Tinha que mandar fazer vestidos, pois era magra em cima e avantajada no quadril e nas pernas. Essas coisas me enclausuravam”, conta.
“A moda passa e as
cicatrizes ficam”
Iara diz que suas cirurgias são funcionais e que mesmo assim, sofreu muito preconceito por ter assumido que algo em seu corpo a incomodava. “Não me importo com a visão dos outros, tanto que fiz todas as cirurgias. Mas, o estigma que colocam quando dizem algo a meu respeito que eu não sou, me importa. Eu não sou fútil, eu só quis melhorar. Viver melhor comigo mesma, resolver minhas questões”. Ela diz ainda que muita gente pensa que ela exagerou no número de cirurgias — fez orelhas, pálpebras, nariz e o culote– e que, por isso, a julgam como uma pessoa extremamente vaidosa.
O Brasil é um país recordista em número de cirurgias, e os autores atribuem a isso a instabilidade emocional e o sentimento de inadequação que os padrões, muitas vezes irreais, impostos pela sociedade provocam. Iara concorda que esse foi um dos motivos para fazer as operações. “Eu estava fora da normalidade e mesmo sendo adulta não me sentia bem. Mas para mim a cirurgia é algo pessoal e é preciso estar bem resolvida para fazer uma”.
O Dr. Charles Sá ressalta ainda o status que uma cirurgia traz e diz que hoje em dia se tornou moda transformar o corpo por meio de intervenções cirúrgicas. “A moda passa e as cicatrizes ficam”, enfatiza. Sá diz também que a cirurgia deve deixar a pessoa com uma aparência natural, evitando os estigmas e os excessos por questões de modismo ou imposições sociais. Ele critica a padronização, uma vez que cada pessoa tem uma anatomia, e rejeita a função consumista da busca pela beleza. “A mídia tem um papel importante, pois coloca um padrão de beleza inatingível para desestabilizar emocionalmente as pessoas. Esse padrão de beleza será perseguido e essa busca gerará consumo que terá um papel terapêutico temporário”, finaliza.
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* Jornalista.

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