HÉLIO SCHWARTSMAN*
Nos EUA, estudos neurocientíficos apoiam a s
eparação de meninos e meninas nas classes
dos primeiros anos do ensino fundamental
Theo Marques/Folhapress
Durante o recreio, os alunos brincam na
escola do Bosque, em Curitiba (PR)
O tema é explosivo. De um lado, está nossa intuição moral de que homens e mulheres são -ou, pelo menos, deveriam ser- iguais e o desejo de reverter alguns milênios de opressão machista.
De outro, acumulam-se evidências científicas de que as diferenças biológicas entre machos e fêmeas vão muito além das anatômicas, afetando também a cognição.
Embora já tenhamos mais ou menos mapeado as áreas em que as diferenças se materializam com mais força, ainda não fomos capazes de transformar esses achados em princípios pedagógicos ou organizacionais de utilidade prática e disseminá-los.
Parte da dificuldade está no tabu que ainda cerca o tema, mesmo nos meios acadêmicos. Vale lembrar que uma das razões para a demissão de Larry Summers da reitoria de Harvard, em 2006, foi ele ter sugerido que o baixo número de mulheres em certos ramos da ciência poderia dever-se a diferenças naturais entre os sexos.
Gostemos ou não, hoje sabemos que os níveis de exposição pré-natal a hormônios sexuais afetam a forma como o cérebro de meninos e meninas se organiza.
CÉREBROS DIFERENTES
Nos últimos anos, surgiram vários livros explorando as diferenças entre gêneros e propondo soluções mais ou menos milagrosas para resolver o que identificam como "problema".
Um bom exemplar é "Why Gender Matters" (por que o gênero importa), do médico Leonard Sax, que faz uma defesa entusiasmada da separação por sexo nas escolas.
Sax é um conservador empedernido, daqueles que veem o sexo entre adolescentes como um mal em si e advogam pela palmada pedagógica (só para meninos). Ele também não hesita antes de exagerar no peso das evidências científicas, desde que isso sustente sua tese.
São pecados graves e que colocam o livro na prateleira das obras militantes, não na das científicas. Ainda assim, traz "insights" interessantes.
Para Sax, a piora das escolas tem origem no fato de que a sociedade se tornou cega para as diferenças de gênero. Sem respeitar características próprias de cada sexo, o sistema educacional acaba prejudicando os dois.
Um exemplo: meninas amadurecem as áreas do cérebro envolvidas na escrita um pouco antes que meninos. Como hoje a alfabetização tem início no jardim de infância (quando a maioria dos garotos ainda não está pronta), eles acabam experimentando insucesso escolar precocemente, o que muitas vezes os marca como maus alunos para o resto da vida.
De modo análogo, o autor sustenta que é possível despertar o interesse das meninas pela matemática, enfatizando suas aplicações práticas em vez de seu caráter abstrato. Esse método, entretanto, não tem muito apelo para os meninos. Classes separadas são a resposta, diz.
É possível que Sax tenha razão, embora não com a veemência que pretende.
Uma revisão das escolas que fazem a separação por gênero, realizada em 2005 pela Secretaria de Educação dos EUA, conclui que existe "algum apoio à premissa de que a separação pode ser útil", especialmente quando se tem em vista resultados acadêmicos de curto prazo.
Mas ao contrário do que os entusiastas esperavam, não foram observadas diferenças no que diz respeito a gravidez precoce, performance na faculdade e bullying.
De toda maneira, o número de escolas públicas nos EUA oferecendo classes separadas por sexo vem crescendo. Elas passaram de 11, em 2002, para 540, em 2009.
--------------- * ARTICULISTA DA FOLHA
Fonte:Folha online, 02/05/2011
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