Entrevista com Rita Marchetti*
"A rede já está englobada nas atividades cotidianas dos
sacerdotes e das comunidades paroquiais". Os interlocutores não são
apenas os paroquianos, mas também aqueles que vivem no território. Um
alvo privilegiado são os jovens, também aqueles que nunca são vistos. A
rede "inova a paróquia e o modo pelo qual os sacerdotes exercem o seu
ministério...".
Igreja e internet:
um binômio que continua catalisando a atenção de estudiosos,
pesquisadores, especialistas em comunicação e não só... Passado o tempo
da "dúvida hamlética" – "apocalípticos ou integrados"? – já é uma
convicção generalizada que "a Igreja captou as potencialidades da rede
desde o início, em continuidade com a longa tradição de comunicação da
qual ela é portadora".
Uma confirmação de tudo isso é o livro La Chiesa in Internet. La sfida dei media digitali [A Igreja na internet. O desafio das mídias digitais] (Ed. Carocci, 2015), de Rita Marchetti, professora do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Perúgia.
No texto, ela dá conta de uma realidade eclesial difusamente
conectada. O livro foi apresentado nessa quinta-feira, 7 de maio, na Universidade de Perúgia, em um encontro promovido em colaboração com a Associação de Webmasters Católicos Italianos (WeCa).
Eis a entrevista.
Como descrever a presença da Igreja na internet?
Difusa, plural e plurissituada nas diversas redes sociais e mídias
sociais. A Igreja "é viva e tem inúmeros canais de comunicação" – dizia o
cardeal Martini
–, que, cada vez mais, hoje, aproveitam as oportunidades oferecidas
pela internet e pelas mídias digitais em geral. É uma presença plural,
porque os diversos rostos da Igreja, das paróquias às associações,
passando pelos movimentos, estão na internet. Plurissituada, porque cada
um desses rostos coloca ao lado do site institucional uma página e um
perfil no Facebook, uma conta no Twitter ou no Instagram, ou ainda tem um canal no YouTube.
Quais são os principais desafios postos pelas mídias digitais?
As mídias digitais podem ser uma grande oportunidade, contanto que se
conheçam os seus mecanismos e as lógicas que regulam as trocas
comunicativas que nelas ocorrem. Elas são um desafio porque forçam as
instituições a rever as lógicas e as modalidades de interação e relação
com os seus interlocutores.
Quando se fala de Igreja e internet, o pensamento logo vai
para os órgãos oficiais: a conta no Twitter do papa, sites e blogs
institucionais etc. Mas o que acontece "no pequeno", no tecido
paroquial?
A rede já está englobada nas atividades cotidianas dos sacerdotes e
das comunidades paroquiais. Informar e informar-se, organizar as
atividades e os encontros offline, oferecer assistência espiritual,
dialogar com aqueles que já vivem uma experiência de fé, entrar em
contato com aqueles que estão distantes da Igreja: são muitos e diversos
os usos da rede feitos pelos sacerdotes . A presença em ambientes web
abertos e não exclusivamente católicos confirma, além disso, o desejo de
buscar novas modalidades para manter e renovar a proximidade aos fiéis.
É evidente que cresceu o conhecimentos das diferentes possibilidades
oferecidas pelos diferentes ambientes web por parte da Igreja paroquial,
provavelmente fruto da experiência direta e do contato com os próprios
interlocutores. Embora a paróquia não tenha um site, isso não significa
que o sacerdote renuncie à rede: ele utiliza outros ambientes online
para organizar as atividades na paróquia (por exemplo, Messenger ou WhatsApp), diversificando os instrumentos em função com o alvo que pretende alcançar e ao objetivo pré-fixado.
O mundo eclesial na rede, portanto, é uma realidade
extremamente rica. Com quem a Igreja online se comunica? Que tipo de
relações podem ser instauradas?
Acima de tudo, com os interlocutores de sempre: os paroquianos que já
frequentam a paróquia. São eles o alvo privilegiado. Os amigos e os
seguidores dos padres na rede, porém, não são apenas os paroquianos que
vivem no território da paróquia. Os sacerdotes interagem com "gente da
paróquia", imigrantes ou pessoas que vivem em outros lugares em relação
às fronteiras da paróquia de pertença. O território não delimita mais as
fronteiras da comunidade religiosa que o pároco lidera. Os
interlocutores dos padres na rede também são os paroquianos que não vão à
missa aos domingos, nem na paróquia do pároco específico, nem em
outras. Um alvo privilegiado, além disso, sem dúvida, são os jovens. A
internet é útil para falar tanto com aqueles que já frequentam a
paróquia, quanto com aqueles que "nunca são vistos"; ela possibilita
novas formas de proximidade que modificam a rede relacional dos
sacerdotes; inova a paróquia e o modo pelo qual os sacerdotes exercem o
seu ministério... Na era das redes digitais, os interlocutores dos
párocos são os digital neighbours ("vizinhos digitais").
Passaram-se quase 20 anos desde os primeiros congressos
promovidos pela Igreja italiana sobre esses temas. Se quiséssemos
sintetizar o caminho feito até aqui e os desafios futuros...
As mídias digitais já são há muito tempo um âmbito central de atenção
por parte da Igreja, tendo reconhecido com clarividência, como sempre
aconteceu na história da relação entre Igreja e comunicação, que elas
são centrais na experiência cotidiana das pessoas às quais a Igreja se
dirige. Parece-me que houve e continua havendo uma atenção para as
mídias digitais como ocasião para "sair" para fora. É difícil sintetizar
os desafios futuros. Estou certa de que a Igreja, fortalecida com a sua
longa tradição de comunicação, saberá responder às mudanças repentinas
impostas pelo panorama midiático contemporâneo. Acredito, no entanto,
que o principal desafio é o da formação e da aquisição das chamadas
competências digitais por parte daqueles que operam principalmente em
contato com os jovens.
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*Rita Marchetti, professora da Universidade de Perúgia, na Itália.
A reportagem é de Vincenzo Corrado, publicada pelo Servizio di Informazione Religiosa (SIR), 06-05-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU online, 08/05/2015
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