Leonardo Boff*
André Trigueiro é possuído duas paixões: a causa ambiental e a
prevenção do suicídio. No fundo é movido por um único grande amor: o
amor apaixonado pela vida, seja da natureza ou seja do ser humano sob
risco.
O amor pela natureza se materializa por seu programa, talvez o melhor da televisão nacional, transmitido pela GloboNews com o título Cidades e Soluções.
O amor pelo ser humano sob risco de suicídio se mostra por sua
atuação no Centro de Valorização da Vida (CVV) do Rio de Janeiro e por
este esplêndido livro cujo título diz tudo: Viver é a melhor Opção.
Não conheço na literatura acessível, texto mais minucioso, analítico,
inspirador e sustentador do amor e da esperança pela vida que este de
André Trigueiro.
Antes de mais nada, se comporta como um consciencioso jornalista
investigador: recolhe, nas fontes mais seguras, os principais dados
atinentes ao suicídio no Brasil e no mundo. Em seguida, analisa os
fatores e as causas que levam as pessoas a buscarem a própria morte. Por
fim, sugere e propõe caminhos de acompanhamento e de superação desta
terrível tentação de alguém buscar a seu próprio auto-extermínio. Como
uma espécie de adendo, mas sem qualquer propósito de proselitismo, expõe
didaticamente a visão espírita do suicídio, como ela o ajudou
pessoalmente a ser mais humano e espiritual e como o suicida vem tratado
pela doutrina.
Primeiramente quebra o tabu e o silêncio que cercam o fenômeno
mundial do suicídio. Prevenção se faz com informação. Falar do suicídio
como falamos da AIDS ajuda a eventuais suicidas a evitarem este
caminho. Mas não basta falar. Trata-se de falar, como o demonstra em seu
próprio texto, com sumo respeito, imbuído de compreensão e compaixão,
evitando qualquer dramatização e espetacularização excessiva.
Os dados nos obrigam a falar do suicídio, pois sua grande ocorrência
se transformou num problema de saúde pública, raramente inserido nos
planos sanitários dos governos. Os últimos dados acessíveis da
Organização Mundial da Saúde (OMS) são de 2012. Aí se diz: são cerca de
804 mil casos por ano, o que vem dar, um suicida a cada 40 segundos e
ainda a cada dois segundos uma tentativa de suicídio.
No Brasil são 11.821 casos por ano o que equivale a 32 por dia
especialmente na Amazônia, na Paraíba, na Bahia e no Rio Grande do Sul.
Numa perspectiva global, depois dos acidentes de trânsito é o
suicídio a causa principal de mortalidade, cobrindo todas as idades, mas
afetando principalmente os jovens entre 15-29 anos que representam 8,5%
das mortes no mundo.
Este fato desafia a inteligência humana: como é possível que um ser
chamado à vida, o dom mais precioso que existe no universo, pode buscar a
eliminação da própria vida? Aqui se faz necessária uma realista
compreensão da condição humana, feita de luz e de sombras, de sucessos e
de fracassos, de esperança e de desespero. Este dado não é um defeito
de nossa natureza, mas a constituição de nosso próprio ser, mortal,
finito, imperfeito e sempre a caminho da perfeição. Há inúmeros fatores
que levam as pessoas a buscar o suicídio: o predomínio da dimensão de
sombra, transtornos psicológicos, doenças incapacitantes, profundas
decepções na vida e graves e prolongadas depressões. Mas mais que tudo, a
perda do sentido da vida que suscita nas pessoas vulneráveis o impulso
de desaparecer. Não raro, tirar a própria vida é uma forma de buscar um
sentido que lhe é negado nesta vida. Dai nosso profundo respeito face a
quem toma tal decisão, não por covardia, mas por amor a uma vida
supostamente melhor e mais cheia de propósito.
Mas André Trigueiro sustenta com determinação e profunda esperança, a tese: “na maioria absoluta dos casos os suicídios são preveníveis”.
É neste contexto que Trigueiro detalha os vários caminhos
especialmente desenvolvidos pelo grupo Samaritanos em Londres e pelo
Centro de Valorização da Vida (CVV), ambos de origem espírita mas sem
qualquer disposição de conquistar as pessoas para esse caminho
espiritual. Estas duas instituições maiores (só os 70 postos no Brasil
atendem por ano, na média 800 mil ligações por telefone ou internet)
são as que diretamente se dedicam à prevenção do suicídio, compostas por
voluntários. Os valores que os inspiram são profundamente humanísticos e
ético-espirituais: a compreensão, a acolhida, a escuta, a fraternidade,
a cooperação, o crescimento interior e o exercício da vida plena.
Só o que reforça a vida pode salvar a vida sob risco. De fato, “viver é a melhor opção”.
É mérito de André Trigueiro não apenas nos transmitir essa mensagem
de esperança e de amor, mas também de vivê-la concretamente em sua
própria vida.
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* Teólogo. Filósofo. Escritor.
Fonte: site do autor.
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