Editor-executivo da revista Época, colunista e expert em relacionamentos, Ivan Martins lança seu segundo livro Um amor depois do outro.
O autor conversou por telefone com ZH para falar sobre o novo
trabalho, o tema de suas colunas, o amor nas redes sociais e as gaúchas.
Confira:
ZH – O que teus leitores podem esperar nesse segundo livro? Ivan
Martins – O primeiro livro era basicamente uma coletânea de
crônicas com seis colunas inéditas. Este livro continua sendo uma
coletânea. Eu até gostaria de fazer um livro com colunas inéditas, mas
notei que as pessoas gostam de ter impressos em um livro os textos que
leram na internet. A apropriação é diferente.
Esse livro tem 30 crônicas já publicadas na minha coluna e 20 novas
que não foram ao ar. É um pouco diferente, tem um autor mais maduro, já
faz quase seis anos que escrevo a coluna. As colunas refletem essa minha
mudança.
Como tu te tornaste colunista de relacionamentos? Foi
um acidente. Trabalhei em grandes jornais e em revistas como a Veja,
Época Negócios, Exame, Isto É Dinheiro. Há seis anos, quando fui ser
editor–executivo da Época, eu não queria mais saber de economia e acabei
coordenando a área de comportamento. Era um momento em que a revista
estava precisando de colunistas na internet, resolvi propor escrever
sobre relacionamento. Comecei de leve e o tempo deixou claro que havia
um encontro entre o meu desejo de escrever e a vontade das pessoas
lerem.
Depois desses seis anos, como não cair no lugar– comum e enjoar os leitores?
Não sei se consigo evitar o lugar–comum. Relacionamento é um tema perene, é um tema constante na minha vida e acho que na vida de todo mundo. Relacionamento não é um tema isolado, ele penetra a nossa vida. Quando a gente está bem ou mal em relação a isso, isso nos afeta o dia todo. Afeta nossa felicidade, nossa capacidade de dormir, sonhar. Para mim, não exige esforço em escrever sobre isso toda semana. Eu vou observando, conversando com as pessoas. Os temas se sugerem com muita frequência porque é um tema importante para nossa vida.
Não sei se consigo evitar o lugar–comum. Relacionamento é um tema perene, é um tema constante na minha vida e acho que na vida de todo mundo. Relacionamento não é um tema isolado, ele penetra a nossa vida. Quando a gente está bem ou mal em relação a isso, isso nos afeta o dia todo. Afeta nossa felicidade, nossa capacidade de dormir, sonhar. Para mim, não exige esforço em escrever sobre isso toda semana. Eu vou observando, conversando com as pessoas. Os temas se sugerem com muita frequência porque é um tema importante para nossa vida.
Quando eu tinha 20 anos, achava que aos 40 eu não estaria mais
preocupado com isso. Com 40, eu não fazia outra coisa a não ser ficar
preocupado com isso. Acho que até os 80 vou ser assim.
Qual é o perfil do teu leitor? Tu te preocupas com isso na hora de escrever?Os
meus leitores são basicamente leitoras. A cada 10, seis são mulheres.
Mulheres jovens e de meia idade. São pessoas para quem essa questão do
sentimentos é importante. Pode ser momentaneamente, porque a pessoa
passou por um término e está mobilizada por esse assunto. E tem outras
que têm um interesse perene pelo tema.
As moças mais jovens estão nesse momento da vida em que esse assunto se coloca de maneira muito forte. E os homens também.
Achas o leitor de internet diferente dos demais? Basicamente,
a coluna nasceu na internet. Minha experiência é com esse leitor que se
comunica, que elogia. Eu acho que esse leitor é muito importante, essa
proximidade com o autor é algo que gosto muito. Essa sensação de contato
me alimenta com ideias, sentimentos e estímulos.
Na internet, convivem duas vertentes: uma do meme, que é efêmero, que
você dá o clique e esquece, e outra é a da constância, da proximidade,
do leitor sentir que o autor fala para ele, próximo a ele e isso gera
vínculo intelectual e emocional. Às vezes, quando eu atraso a coluna por
algum motivo, os leitores me cobram.
Quais assuntos geram mais repercussão nas tuas colunas? Ainda
temos uma cultura muito machista. As mulheres não são inteiramente
respeitadas. Elas andam na rua e não se sentem protegidas. Falta
respeito. Quando escrevo sobre isso, sempre repercute.
Outra coisa que percebi é que as meninas gostam de ter caras
sensíveis do seu lado. Gostam de um homem cuidadoso, amoroso e sensível,
que vê a mulher como uma igual. Tem muitos homens que não se
identificam com essa cultura machista de homem predador. Eu não me
identifico e, quando escrevo sobre isso, tem eco, muitos homens me
enviam e-mails dizendo que se sentem igual. Esse papel masculino antigo
já não combina com muita gente. Você pode ser homem, viril, hetero de um
jeito que não é aquele antigo.
O terceiro ponto que noto é que as pessoas gostam de romance, gostam
de estar apaixonadas. Nossa vida é permeada por essa ideia de amor.
Quando eu escrevo algo muito romântico, as pessoas reagem muito
positivamente. Não queremos uma vida sem intensidade.
Como tu vê o amor na era das redes sociais? É um
paradoxo insolúvel. Abrimos uma caixinha dos nossos sentimentos e
liberdades pessoais. Temos uma inconstância afetiva. Queremos romance
mas também queremos conhecer outras pessoas, queremos explorar nossa
liberdade sexual tão recentemente conquistada na história. Sentimos tudo
isso e ao mesmo tempo temos uma cultura que está nos livros, nos filmes
e nas novelas que diz que precisamos encontrar nossa alma gêmea, nosso
grande amor. Não temos como solucionar isso, temos que conviver com essa
contradição. Nesse meu novo livro, procuro refletir sobre isso.
O mercado se aproveita desse paradoxo e lança serviços e aplicativos,
que têm utilidade. Para muitas pessoas, que têm dificuldades emocionais
e sociais, esses mecanismos ajudam na hora de entrar em contato com o
outro. Muitos deles promovem encontros verdadeiros e geram
relacionamentos muito bacanas.
Tu não acreditas num grande amor? A gente talvez
não consiga mais ter um grande amor na nossa vida, vamos viver vários
amores, cada um deles adequado a um momento da nossa existência. Alguns
terão a sorte de encontrar alguém aos 16 anos e passar o resto da vida
ao lado dessa pessoa. Para a maioria, isso não será assim. A maioria irá
experimentar vários relacionamentos, sucessivos amores.
É assim que eu vivo. Eu falo com franqueza. Eu não encontrei um amor
para a minha vida inteira, eu tenho tido a sorte de encontrar diferentes
amores e tenho sido feliz assim. Essa é a minha experiência, as pessoas
podem ter outra. O subtítulo do meu livro diz "um amor depois do
outro", é a vida antes e depois de ser feliz para sempre. Existe um
depois.
Se você acha que encontrou uma alma gêmea para a vida toda, abraça e
vive isso. Se lá na frente vier a ficar desapontado, não desmorone, pois
isso faz parte do processo. É entender que outro amor perfeito vai vir
de novo em outro momento da sua vida. Minha experiência sugere que é
possível viver bem assim, sabendo que talvez as coisas não sejam
definitivas.
O que achas da mulher gaúcha? Já me relacionei
com uma gaúcha, não vou entrar em detalhes. Eu noto nas gaúchas que
conheço, uma certa firmeza de propósito, uma clareza de atitude. Acho
isso muito legal. É diferente, é uma mulher mais fechada que a paulista,
de acesso mais difícil, mas não menos emotiva. É uma atitude mais
reservada que vem da cultura de vocês. Mas minha experiência não é
vasta, hein (risos).
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Por Filipe Martins
Fonte: ZH online, 05/05/2015
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