Nara Rúbia Ribeiro*
As pessoas andam apressadas demais. Eu,
não. Gosto de ver a vida com a paciência de quem já visitou os
primórdios do mundo. Peço licença ao silêncio e cantarolo, vez ou outra,
alguma canção de Caymi. É incrível como toda pressa se esconde diante
da mansidão de Caymi, envergonhada: “Minha jangada vai sair pro mar”… E
ela sai, mesmo que o mar seja de utopias, de incertezas, mesmo que
ninguém me acompanhe. A propósito, esclareço que iniciei esta crônica
para dizer que não tenho pressa de amar.
Na
espera de que algo aconteça, perdemos, despercebidos, o acontecido. Eu
aprendi a fazer amor com o tempo. A enamorar-me dos ponteiros do
relógio. Aprendi com Drummond que amor é verbo intransitivo e amo sem
precisar de um outro específico, sem projetar nele as minhas frustrações
e carências, sem exigir carícias, sem mendigar atenção. E estou pronta e
viva a tudo o que do Universo recebo e diante dele eu me curso, em
gratidão.
Eis algumas razões da minha ausência de pressa…
1 – A minha solidão nunca está sozinha.
Tenho muitos eus. Estar sozinha comigo mesma faz com que seja possível esse diálogo entre as várias partes de mim, de sorte que eu venha a compreender-me de modo total e perene.
Tenho muitos eus. Estar sozinha comigo mesma faz com que seja possível esse diálogo entre as várias partes de mim, de sorte que eu venha a compreender-me de modo total e perene.
2 – A única história de amor que nos complementa é o amor próprio.
Ninguém se complementa no outro. Não raro, o que fazemos é nele projetar as nossas lacunas, fazendo-o escravo das nossas dores e álibi da nossa fraqueza, culpando-o por nossa carência infinita. Estar com o outro para dele algo receber é desconhecer as bases da afetividade mútua.
É necessário que nos amemos a ponto de cortejarmos, secretamente, a nossa própria companhia, enamorados de nós mesmos.
Ninguém se complementa no outro. Não raro, o que fazemos é nele projetar as nossas lacunas, fazendo-o escravo das nossas dores e álibi da nossa fraqueza, culpando-o por nossa carência infinita. Estar com o outro para dele algo receber é desconhecer as bases da afetividade mútua.
É necessário que nos amemos a ponto de cortejarmos, secretamente, a nossa própria companhia, enamorados de nós mesmos.
3 – Não é que eu tenha medo de amar. O que temo são desamores disfarçados de afeição.
As pessoas querem demasiadamente um amor. Mas poucos estão preparados para ver, no outro, a beleza do seu sorriso, a força de suas marcas de expressão, a grandeza das entrelinhas daquilo que ele fala.
As pessoas querem demasiadamente um amor. Mas poucos estão preparados para ver, no outro, a beleza do seu sorriso, a força de suas marcas de expressão, a grandeza das entrelinhas daquilo que ele fala.
O que se quer é a desesperada companhia, o prazer carnal, é ver-se aceito no outro. Raros são os que percebem que esse querer, em regra, faz do outro um objeto para a nossa pessoal realização, prova maior do nosso egoísmo.
4 – Passei por metamorfoses e amo como se “metamorfosse”
Já passei por muitas crises existenciais. Diversas tiveram por gatilho amores não correspondidos, relacionamentos desfeitos, términos mal alinhavados, coração retalhado, vastidões de vazios. Mas, após passar por tantas metamorfoses, a minha alma ama como se o amor fosse um fim em si mesmo. Como se eu me enamorasse de amar. Como se o meu mar de sentimentos metamorfosse.
Já passei por muitas crises existenciais. Diversas tiveram por gatilho amores não correspondidos, relacionamentos desfeitos, términos mal alinhavados, coração retalhado, vastidões de vazios. Mas, após passar por tantas metamorfoses, a minha alma ama como se o amor fosse um fim em si mesmo. Como se eu me enamorasse de amar. Como se o meu mar de sentimentos metamorfosse.
E a minha
jangada sempre sai pro mar… Esse é o trabalho da minha alma e, como
dizia Caymi, “um peixe bom” todos os dias “eu vou trazer”, afinal, a
vida só tem propósito para aquele que não espera por outro para
arquitetar o próprio viver.
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