Crise amorosa, existencial, profissional. São inúmeras as razões que
levam as pessoas a procurar ajuda psicológica. Mas, no Rio Grande do
Sul, há ainda outro motivo: ser gaúcho.
O diagnóstico do mal-estar que está colocando os gaúchos no divã é o
ponto de partida de uma série de debates promovidos pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e a Associação Psicanalítica de Porto
Alegre.
O objetivo do projeto "NósOutros Gaúchos" é tentar entender as origens
da angústia que nem o bairrismo de seus moradores consegue mais
disfarçar. A visão dos "outros" sobre a cultura gaúcha também será
debatida.
No primeiro encontro, em Porto Alegre, foram discutidos dois dos
sintomas que, segundo o psicanalista Jaime Betts, provocam sofrimento na
população local: a exaltação e a falta de consenso sobre qualquer tipo
de assunto.
Eles podem parecer abstratos, mas Betts afirma que afetam a vida dos
indivíduos a ponto de levá-los a procurar psicoterapia. O hino do Rio
Grande do Sul, por exemplo, prega que as "façanhas" dos gaúchos sirvam
de modelo a toda Terra, enquanto no Twitter os locais se gabam ao falar
do Estado usando a hashtag #RSmelhoremtudo ao lado.
"A exaltação significa justamente o oposto: sentimento de inferioridade", explica Betts, diretor da associação.
Até mesmo o fato de não desgrudarem do chimarrão representa, segundo
Betts, a baixa autoestima coletiva, originada na própria história do
Estado. O mito do gaúcho herói se baseia na luta dos antepassados para
criar a República Farroupilha.
Na verdadeira Guerra dos Farrapos (1835-45), porém, os separatistas eram
minoria. "Com mais erudição, as pessoas percebem que essa identidade
não serve para nada, a não ser para gerar sofrimento", afirma o
historiador Tau Golin, da Universidade de Passo Fundo (UPF) e que
participou do primeiro encontro.
A falta de consenso em tudo afeta também relacionamentos. Segundo o
psicanalista Betts, o diálogo é difícil mesmo dentro das famílias.
Mas, se os fatos não convencem, o humor é a melhor saída. Há mais de 30
anos o personagem Analista de Bagé, do escritor Luis Fernando Verissimo,
satiriza o gaúcho "bagual". Em um de seus contos, ele diz ao paciente:
"Depressa que eu estou com a salinha cheia de louco".
ANALISTA DE BAGÉ
O Analista de Bagé, personagem criado nos anos 80 pelo escritor Luis Fernando Verissimo, falou com a Folha
por e-mail. As crônicas do consultório do psicanalista formado em
Paris, com especialização em Passo Fundo (RS), estão entre as preferidas
do autor.
Folha - Quais os principais problemas dos gaúchos que procuram seu consultório hoje?
Analista de Bagé - O que mais aparece é identidade sexual indefinida (ninguém mais sabe se é gay ou se é coisa passageira, tchê) e sentimento edipiano mal resolvido com relação à Dilma.
Analista de Bagé - O que mais aparece é identidade sexual indefinida (ninguém mais sabe se é gay ou se é coisa passageira, tchê) e sentimento edipiano mal resolvido com relação à Dilma.
Os gaúchos são mal compreendidos pelo resto do país ou há motivo para achá-los diferentes?
Nós é que não entendemos o Brasil, tchê. Está certo, vocês têm a desculpa de não serem gaúchos. Mas podiam pelo menos disfarçá.
Nós é que não entendemos o Brasil, tchê. Está certo, vocês têm a desculpa de não serem gaúchos. Mas podiam pelo menos disfarçá.
Como a psicanálise explica a cuia e a bomba de chimarrão?
A cuia representa o seio materno, mas a bomba não é um símbolo fálico, que ideia!
A cuia representa o seio materno, mas a bomba não é um símbolo fálico, que ideia!
O sr. continua vinculado à Sociedade Psicanalítica de Bagé, no CTG Rincão da Sublimação Consciente?
Fui expulso. Não teve nada a ver com minha oposição às ideias ortodoxas da Sociedade. É que fiz xixi na piscina.
Fui expulso. Não teve nada a ver com minha oposição às ideias ortodoxas da Sociedade. É que fiz xixi na piscina.
A terapia do joelhaço continua eficaz?
Continua, e já foi, inclusive, adotada em outros países.
Continua, e já foi, inclusive, adotada em outros países.
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Reportagem por AULA SPERB
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CAXIAS DO SUL (RS)
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CAXIAS DO SUL (RS)
Charge por Edgar Vasques/Reprodução
Fonte: Folha online, 17/05/2015
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