Diogo Alves*
A verdadeira questão é como preparar os futuros líderes. Cerca de
50% da população mundial tem menos de 30 anos e esta é a geração que
tem de ser mais envolvida como parte da solução para os problemas
Muitas vezes dizemos que “o céu é o limite” para descrever que as
oportunidades são infinitas se lutarmos pela sua conquista. Este artigo
foi literalmente escrito no alto dos céus, num avião de volta do
Encontro Anual dos Global Shapers na Suíça. Durante quatro dias
verdadeiramente inspiradores, juntaram-se mais de 350 representantes das
várias cidades/hubs que fazem parte da comunidade dos Global Shapers do Fórum Económico Mundial.
O mote do evento foi “The time is now” e, de facto… “agora é o
momento”. Momento para refletirmos sobre o passado e começar a enfrentar
e desenhar um futuro que apresenta um conjunto de desafios nunca antes
vistos. Desde logo, desafios supranacionais e globais como a crise dos
refugiados, as alterações climáticas, modelos inovadores de educação ou a
revolução tecnológica e o seu impacto nas empresas, pessoas e governos.
Em artigos anteriores, outros Shapers já abordaram temas tão
importantes como a inovação científica e social, a igualdade de género
ou a educação. Neste artigo, gostaria de me focar nas várias lições que
retirei da minha participação como representante do hub de Lisboa na Suíça e falar de histórias que considero serem verdadeiramente inspiradoras e impactantes de liderança e mudança.
Comecemos então a viagem em Nicósia. Na capital do Chipre, os Shapers locais organizam e oferecem workshops
a centros de refugiados, ajudando-os a aceder a serviços públicos ou
apoiando-os na sua integração com aulas de ioga e meditação. De Nicósia
caminhemos até Manila, nas Filipinas, onde os Shapers da mesma cidade
reconheceram a necessidade de fazer algo face aos elevados índices de
poluição da atmosfera. Ainda na Ásia, em Katmandu, no Nepal, a
comunidade dos Shapers conseguiu apoio financeiro local e está neste
momento a trabalhar na construção de uma clínica e de uma escola que irá
albergar cerca de mil estudantes.
Do Nepal vamos até Ulan-Ude, na Rússia, onde a equipa dos Shapers
desenvolveu uma aplicação móvel para apoiar na identificação do
aparecimento de fogos e na rápida atuação dos bombeiros nestas
situações. Da Rússia, partimos para o Gana onde a comunidade dos Shapers
do hub da cidade de Ho está a apoiar a introdução de
dispositivos de realidade virtual em escolas locais. Para além disso,
estão também a trabalhar num projeto de tratamento de água potável,
devido à poluição na região.
Podia continuar a transmitir os inúmeros e extraordinários
exemplos que tive a oportunidade de conhecer, mas gostaria de realçar
três elementos transversais a todos: liderança, sentido de comunidade e
impacto.
Falando da primeira, o professor Klaus Schwab, fundador e
presidente-executivo do Fórum Económico Mundial, definiu liderança com
uma analogia simples, em seis dimensões: corpo, cérebro, alma, coração,
músculos e nervos. Por um lado, um líder tem de estar em boa forma
física e mental, alicerçando-se num sistema e conjunto de valores que o
unam à sua comunidade ou equipa. Por outro lado, um bom líder
caracteriza-se pela sua paixão e a capacidade de transformar a sua visão
em ação, nunca esquecendo que terá de se adaptar e ser bastante
flexível durante o seu caminho.
Atualmente, e em muitos casos, existe um descrédito face a muitos dos
líderes dos nossos tempos. Contudo, a verdadeira questão não é só e
apenas como lidamos com as lideranças atuais, mas sobretudo como
preparamos as lideranças futuras. Cerca de 50% da população mundial (3,5
mil milhões de pessoas) tem menos de 30 anos e esta é a geração que tem
de ser progressivamente mais envolvida como parte da solução para
problemas locais, nacionais e globais. Com o objetivo de enfrentar este
problema, também os Global Shapers de Lisboa decidiram agir, através de
iniciativas como o Leadership Summit Lisbon
que co-organizamos. A conferência irá decorrer no dia 26 de Setembro em
Lisboa e debruçar-se-á sobre a partilha de diversos exemplos de
liderança nas mais diversas áreas, do mundo dos negócios às artes ou até
mesmo ao humor.
Da liderança passamos ao sentido de comunidade. E até pode parecer
fácil escrever ou falar sobre o assunto — difícil é agir. A realidade é
que, em todas as iniciativas acima referidas, há denominadores comuns
que devem ser práticas do dia-a-dia de todos os cidadãos. Desde logo, o
sentimento de inclusão dos outros, seja qual for a sua raça, credo,
género ou nacionalidade, bem como o reconhecimento da necessidade de
atuar sobre problemas que nos tocam a todos, procurando soluções
inovadoras. Um exemplo prático disto mesmo é o Global Dignity Day, no qual vários dos nossos hubs
a nível mundial intervém junto de crianças desfavorecidas, debatendo o
real sentido da dignidade humana. Em Portugal, já o fazemos desde 2013,
tendo recentemente conseguido uma parceria com a Secretaria de Estado da
Cidadania e Igualdade, o que permitirá o alargamento da iniciativa que
terá agora impacto junto de cerca de cinco mil crianças e jovens
estudantes no nosso país.
Criar impacto significa respeitar as aprendizagens do
passado, viver ao máximo o presente e criar mecanismos para, em
comunidade, construir um futuro melhor.
Sendo jovem, acredito que é sempre necessário fazer mais. É preciso
ajudar a potenciar projetos de impacto social e ambiental. É preciso
procurar soluções inovadoras para os problemas globais. É preciso
reconverter, reforçar e, no limite, modificar mentalidades e
competências neste mundo de rápido desenvolvimento económico, social e
tecnológico em que vivemos. É preciso deixar uma marca em quem nos
rodeia e em nós mesmos. É preciso agir. Agora é o momento.
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* Cronista
Fonte: http://observador.pt/opiniao/agora-e-o-momento/
Imagem da Internet
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