Rodrigo Constantino*
O psicanalista Contardo Calligaris segue
em sua cruzada materialista e hedonista, usando seu espaço na Folha às
quintas-feiras para disseminar a busca desenfreada e irrefletida pelos
prazeres carnais. Na coluna de hoje, voltou ao clássico Confissões de Santo Agostinho para concluir:
Agora, que
eu saiba, não há outros casos de um relato mórbido grave que tenha tido
um sucesso comparável. Agostinho conseguiu mesmo transformar o asco
doentio por seu próprio tesão em condenação do desejo sexual numa
cultura inteira, por séculos.
As encruzilhadas da vida são curiosas. Agostinho inventou um deus que pudesse ajudá-lo a reprimir seu desejo carnal.
Eu, desde a
adolescência, deixei de acreditar no deus de Agostinho justamente
porque me parecia absurdo que ele se preocupasse em reprimir o desejo
carnal de quem quer que seja e especialmente o meu. Ou seja, ele chamou
deus para que o auxiliasse na luta contra seu próprio prazer. Eu achei
que realmente não precisava de um deus que fosse oposto a meus prazeres.
Alguém
dirá que por isso irei ao Inferno. Veremos. Por enquanto, o fato é que
Agostinho atormentou a vida de centenas de milhões. Eu, não.
Minha preocupação não é tanto com o
Inferno após a morte do autor, e sim com o inferno terrestre que ele
ajuda a criar com essa mensagem libertina e irresponsável. Sendo um
psicanalista, Calligaris deveria saber que até Freud, em Mal-estar na Cultura, reconhece que frear apetites é condição necessária para a vida em sociedade.
Ou seja, quem não quer recalcar nada
leva a vida de um animal, não de um ser civilizado. Calligaris só não
atormenta a vida de centenas de milhões pois não tem essa expressão
toda. Mas aquilo que ele representa, o “progressismo” pós-moderno, tem
sim atormentado a vida de centenas de milhões, ao prometer o paraíso com
a “libertação sexual”, enquanto os jovens vivem cada vez mais
inseguros, tomando antidepressivos, sentindo-se culpados ou vazios.
Não é tão trivial assim driblar a culpa
cristã. Ainda bem! É porque temos pulsão de vida também, não só de
morte. Eros e Tânatos. Por isso os tabus, o pudor, a vergonha, o
recalque. Porque a alternativa é “deixar a vida nos levar”, como bichos
instintivos, somente em busca de prazeres carnais e nada mais. Uma
completa miséria espiritual.
Na carta que escrevi
para meu filho Antonio, que acaba de nascer, uma espécie de testamento
ético, um guia moral para sobreviver nesse mundo pós-moderno, hedonista e
relativista, falei justamente isso:
Não dê vazão a todos os seus
apetites, filho. Você não é um bonobo, um cachorro, um animal irracional
qualquer. Você é um ser humano civilizado, e isso significa conter
emoções, saber controlá-las. Portanto, não é para achar bonitinho
qualquer porcaria só porque é “espontânea” ou “genuína”. O cocô que você
faz é espontâneo, é genuíno, mas certamente não é lindo, muito menos
uma obra de arte. Saiba separar o joio do trigo, julgar o que é certo ou
errado, lixo ou não. Evite vulgaridades mascaradas de “espontaneidade”.
Infelizmente, o que mais vemos por aí
são “intelectuais” e psis estimulando o comportamento irresponsável e
hedonista, o materialismo e a sexualização precoce, a ideia de que
seguir os instintos em busca dos prazeres da carne é o grande segredo da
felicidade.
Só não sabem explicar porque esses
libertinos parecem os mais infelizes de todos, em relacionamentos sempre
conturbados, dependendo de remédios, mergulhados em melancolia. Parece
que essa “libertação” toda não passou de uma nova forma de escravidão…
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* Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários
anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o
best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”.
Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/mais-santo-agostinho-menos-contardo-calligaris-quem-busca-prazeres-carnais-tera-miseria-espiritual/?utm_medium=feed&utm_source=feedpress.me&utm_campaign=Feed%3A+rconstantino
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