sexta-feira, 22 de setembro de 2017

PODER, MEDO E RAZÃO

FRANKLIN CUNHA*

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O historiador italiano Guglielmo Ferrero, escreveu, em seu livro O Poder, sobre o medo paranoico que sofrem os ditadores. Contou que em pleno regime fascista, certo dia foi convocado pelo prefeito de Florença, em outros encontros risonho e gentil, agora com semblante negro e inquisitorial, que lhe entregou uma carta de Benito Mussolini, a qual entre outras admoestações dizia: "Lembro ao Signore Ferrero que a Revolução Francesa tratava seus inimigos de maneira muito diferente". Ao sair do Palácio Riccardi, Ferrero se perguntou que crime tinha cometido para que o ditador poderoso lhe mostrasse a guilhotina como término de sua carreira.

Tudo foi originado por um texto no qual Ferrero zombava das frustradas lutas pela liberdade, pela democracia e pelos direitos civis, as quais acabaram por entregar a Itália às mãos de um ditador. O referido texto foi parar num jornal de Nova York que a publicou com um tom levemente mordaz.

Na ocasião, a Itália desmoronava por todos os lados e, por isso, tinham sido conferidos plenos poderes a um ditador para que ele evitasse a definitiva debacle do país.

Então, no meio dos monstros que devia matar diariamente para cumprir sua hercúlea tarefa, o déspota deixava-se tomar pela paranoia provocada por algumas linhas perdidas num jornal de outro continente e por um opositor político incipiente e fraco.

Para Ferrero, os detentores do poder aspiram conservá-lo, os amedronta a lembrança de sua transitoriedade e que uma democracia só é legítima quando a possibilidade de sua renúncia e substituição preventiva é algo que pode se realizar quando os eleitos frustram as esperanças neles depositadas por seus eleitores.

Opinião semelhante tinha Isaiah Berlin. Dizia o filósofo britânico que a verdadeira democracia não se resume à eleição de candidatos nos quais confiamos, mas também na possibilidade de destituí- los no momento em que verificamos terem eles fraudado nossas justas e legítimas expectativas. "Ser liberal", afirmava Berlin, "não é somente aceitar opiniões divergentes, senão admitir também que são talvez nossos adversários os portadores da razão".

Nada, portanto, mais antiliberal e mesquinho do que retaliá-los com ações discriminatórias, ressentidas e com falsos juízos quando eles questionam e denunciam a precariedade legal e consensual dos detentores do poder, principalmente quando sobre eles pesam fortes acusações de arbitrariedades e de corrupção.
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Médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras franklincunha@terra.com.br
Fonte:  http://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=07470878bde1b126f2cc4b0f9d9b9798

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