segunda-feira, 18 de setembro de 2017

RELIGIOSIDADE. TEMA DEVE FAZER PARTE DA FORMAÇÃO DE ALUNOS

Carlos Adriano Ferraz*

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A história é conhecida: em uma tentativa de armar uma cilada para Jesus, lhe é colocada a questão: é lícito dar o tributo a César ou não? A essa questão, ele responde: "A César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Temos, aqui, a primeira defesa de um Estado laico, reiterada em outras passagens: "O meu reino não é deste mundo". Portanto, a separação entre religião e Estado (laicidade) sempre foi uma exigência da tradição cristã em geral e do catolicismo em particular. O Édito de Milão, a Querela das Investiduras, por exemplo, mostram o esforço dos cristãos para manter separados os planos secular e religioso. Essa reivindicação, tão na moda atualmente (e, inclusive, usada como slogan pelos partidários do politicamente correto), já é conhecida dos cristãos há uns 2 mil anos. A Doutrina Social da Igreja e o Concílio Vaticano II, por exemplo, consideram a laicidade um "patrimônio da civilização", uma vez que ela assegura a liberdade religiosa e o diálogo (já observaram que democracia, liberdades, direitos etc. floresceram em culturas cristãs? Não foi por acaso).

O laicismo, por outro lado, coíbe a liberdade religiosa e conduz ao totalitarismo ideológico. Muito do debate que está ocorrendo agora, enquanto o STF discute sobre a matéria de ensino religioso nas escolas públicas, não repousa na laicidade (uma criação cristã), mas no laicismo, o qual é antirreligioso (e viola a separação entre Estado e religião). Aqui não se trata de separar Igreja e Estado, mas de banir a religião e a liberdade religiosa, o que inevitavelmente coibirá outras expressões da liberdade, afetando, pois, mesmo os não religiosos, que podem sustentar sua posição justamente porque vivem em uma sociedade alicerçada sobre valores oriundos da religião cristã, algo que lhes seria impossível, por exemplo, em culturas islâmicas. Calar a liberdade religiosa implica calar a própria consciência.

Assim, quando falamos do ensino religioso em escolas públicas, a questão central é: qual o sentido mesmo da religião (e de seu ensino)? Ora, a religião é uma das esferas que dão sentido à existência humana, a exemplo do que ocorre, também, com a experiência estética, com o conhecimento etc. E a educação tem, também, este papel: formar pessoas enquanto pessoas. Negar a elas qualquer uma dessas formas de realização é negar-lhes a atualização de sua natureza, pois é nessas disciplinas que elas se autoapreendem como pessoas. A rejeição do ensino religioso é tão temerária quanto o atual estado de empobrecimento da estética, do conhecimento etc. Não se trata de catequizar estudantes, mas, primeiramente, de mostrar-lhes as raí-zes cristãs de sua cultura, de seus valores, bem como, em segundo lugar, de lhes mostrar respostas às questões que todos (mesmo ateus) inevitavelmente se colocam, entre as quais: há um Deus? Estado totalitário algum afastará de nós as questões que apenas são respondidas pela religião. A busca pelas respostas às questões perenes fomentou a religião, a qual, mesmo para ateus, é fonte de reflexão sobre o sentido. Em suma, o ensino religioso é parte da formação que traz à luz nossa natureza inquiridora em uma incansável busca pelo sentido. Tal como não precisamos ser estetas para assistir a uma aula de estética e perceber o valor da beleza, também não precisamos ser religiosos para perceber o valor da religião e a necessidade de ela estar no quadro formativo de todos os estudantes.
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* CARLOS ADRIANO FERRAZ Professor, doutor ? Departamento e Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ferrazca@hotmail.com
Fonte:http://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel materia.jsp?cd=05b15a3bd85969833e55b3f05185dcb9 16/09/2017
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