sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Re-ge(ne)ração: a geração azul

José Eustáquio Diniz Alves*

Imagem: Stockxpert

[EcoDebate] As gerações passadas – nossos ascendentes – ajudaram a construir o mundo atual. Muitas conquistas se devem ao esforço de nossos antepassados, não só em termos de linguagem, cultura, grandes monumentos, infraestrutura, etc. Por exemplo, a mortalidade infantil, no mundo, atingia 152 crianças que morriam antes de completar um ano, para cada mil nascidos vivos, em 1950. Em 2010, a mortalidade infantil mundial tinha caído para 47 por mil e para menos de 20 por mil (2%) no Brasil. No planeta, a esperança de vida ao nascer estava abaixo de 30 anos, em 1900, passou para 46 anos, em 1950, e chegou a 68 anos, em 2010. No Brasil, as pessoas chegam, em média, a mais de 70 anos. De modo geral, as pessoas vivem mais e melhor, atualmente, do que no passado.

Contudo, as gerações passadas deixaram uma “herança maldita” em termos ambientais, pois, para melhorar as condições sociais e fazer a economia crescer, destruíram as florestas, poluíram o ar, os rios, os lagos e os oceanos e aqueceram o planeta ameaçando a biodiversidade e a sobrevivência de todas as espécies de seres vivos.

A pegada ecológica global já ultrapassa 30% a capacidade de autoregeneração da Terra.

Desta forma, o desafio das novas gerações é aumentar a qualidade de vida do ser humano, ao mesmo tempo em que garante a sobrevivência dos demais seres vivos e implemente uma faxina no planeta para garantir a recuperação do que foi destruído e depauperado. A palavra chave é regeneração, que possui as seguintes acepções, segundo o Houaiss:

1)Formação ou produção, em segunda instância, do que estava parcial ou totalmente destruído; reconstituição, restauração;

2)Modo de reprodução das árvores da floresta;

3)Reconstituição, por um organismo vivo, das partes de que foi acidentalmente amputado;

4)Segunda vida, segundo nascimento; revivificação, refortalecimento.

As gerações atuais e os jovens vão ter que cuidar da regeneração do meio ambiente. Vão ter que lutar contra os interesses econômicos de corporações que não respeitam a natureza e contra as elites que possuem um consumo desregrado. Evidentemente, as novas gerações vão ter que cuidar do verde, pois a destruição do verde e a acidez da água está tornando o Planeta desbotado e marrom. Se nada for feito, o nosso futuro será o mesmo de Marte, o planeta vermelho.

Para manter a Terra azul é preciso salvar o oxigênio e reduzir o gás carbônico. É preciso cuidar da água, evitando o desperdício e mudando o estilo de vida. A água não é para usar e sujar, mas sim para conservar e garantir a vida. Os rios, os lagos, as fontes e os aquíferos não podem ser tratados como uma grande cisterna que podemos sacar do seu conteúdo à vontade. A água potável precisa ser preservada e cultivada como um tesouro, pois sem ela não há biodiversidade. É no azul da água em geral e nos oceanos que está a última fronteira da vida e a maior diversidade de espécies do planeta.

A biosfera – e a biodiversidade existente nela – possibilita a vida de todos os seres. A biosfera é uma aguarela, com predominância do azul, tendo o oxigênio como matéria-prima. As novas gerações humanas – para sobreviverem – precisam ter a nobreza de cuidar deste azul, em todas as suas tonalidades: azul-celeste, azul-marinho, azul-esverdeado, azul-claro, azul-escuro, etc. A palavra-de-ordem do século XXI é REGENERAÇÃO e a sua implementação, no presente e no futuro, está nas mãos da daqueles que, além de descarbonizar, deve contribuir para oxigenar o Planeta: a geração azul.
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*José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate, 13/08/2010

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