A economia criativa gera riqueza da educação à indústria
Foto Internet Cris Smith
Ex-ministro britânico diz que indústria cultural precisa de gerentes profissionais, crédito descomplicado, além de espaços comaluguéis baratos para jovens criadores
Como ministro da Cultura no primeiro governo de Tony Blair (1997-2001), Chris Smith, 59, popularizou o termo "economia criativa", dando status de indústria ao trabalho de milhares de criadores do Reino Unido.
"Em um ambiente favorável para as artes visuais e performáticas, surgem talentos para a indústria do cinema, da TV, da publicidade, do design e da arquitetura, que prosperam, gerando riqueza e empregos", diz.
Em sua gestão, ele garantiu incentivos fiscais para que todos os museus públicos deixassem de cobrar ingressos e conseguiu financiar diversos projetos com dinheiro da loteria.
Ele criou uma fundação que forma líderes e administradores para a cultura. Lorde Smith falou com a Folha por telefone, de Londres.
Educação e espaço
O sistema educativo deve se preocupar em desenvolver a criatividade no ensino médio e nas universidades, não só no ensino básico.
As cidades precisam garantir a existência de áreas que reúnam espaços com aluguéis baratos para quem estiver começando.
Velhos armazéns e fábricas, divididos em estúdios, podem ser uma bênção para jovens com vontade de começar um negócio.
O mundo das finanças precisa reconhecer a importância da economia criativa e oferecer financiamento, a um nível bem modesto. Sem acesso a crédito, muitos não conseguirão decolar.
Profissionalização
O setor precisa ser profissionalizado. Estágios e bolsas são fundamentais para formar museólogos, gerentes, produtores -e as universidades e os colégios técnicos precisam ser parte disso.
Muitos artistas são caóticos, então é bom ter administradores por perto.
Eventos "maiores que a vida", como a Bienal [de São Paulo], são um grande empurrão para a economia criativa. Funcionam como grande vitrine de talento, exibindo o trabalho de gente que merece decolar e ser notada. Inspiram milhares a colocar a cultura em seu cotidiano.
Doações
Os museus em todo o mundo têm um problema crônico de não ter orçamento para renovar suas coleções.
Vários países oferecem deduções fiscais, e os EUA estão muito à frente nessa área. Vale estudar como eles estimulam seus milionários a doar e contribuir com os museus.
Mas também se deve persuadir artistas a doar seus trabalhos, em vida ou após a morte. A Tate [galeria em Londres] tem garantido doações de artistas contemporâneos, como Chris Ofili. No Reino Unido, a loteria financia a aquisição de papéis antigos, manuscritos e antiguidades.
Lobby
É essencial que grandes empresas e capitães da indústria e dos negócios participem e se engajem no mundo da indústria criativa. Governos vão prestar muito mais atenção a um banqueiro ou a um industrial que advogue sobre as artes do que a um artista.
O ex-presidente da BP lorde John Browne virou o presidente do conselho de administração da Tate. Precisamos de mais gente assim.
Dinheiro público
Dinheiro público sempre será parte do sustento do mundo da arte, mas parte dela não precisa de subsídio público, como arquitetura, publicidade, design, música e cinema comerciais.
O ideal é financiar a indústria criativa de forma variada: dinheiro público e privado, mais filantropia e venda de ingressos e produtos. Em tempos de cortes no orçamento, ter fundos variados é mais seguro.
Frivolidade
Sempre haverá críticas de que investimentos em arte são frívolos para um governo. Temos que responder enfatizando a enorme oportunidade econômica gerada por um setor criativo forte.
A cultura deve ser incentivada não só pelo valor estético, que é importantíssimo, mas também pela contribuição ao PIB. A indústria criativa representa 7% do PIB britânico e cresce mais do que o restante da economia.
RAIO-X
Lorde Chris Smith
de Finsbury, 59
- Ministro da Cultura de Tony Blair (1997-2001)
- Criador do programa Clore para formação de líderes culturais
- Membro do conselho do Royal National Theater e presidente do Escritório de Regulamentação da Publicidade e da Agência do Meio Ambiente do Reino Unido
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RAIO-X
Lorde Chris Smith
de Finsbury, 59
- Ministro da Cultura de Tony Blair (1997-2001)
- Criador do programa Clore para formação de líderes culturais
- Membro do conselho do Royal National Theater e presidente do Escritório de Regulamentação da Publicidade e da Agência do Meio Ambiente do Reino Unido
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Reportagem por: RAUL JUSTE LORES EDITOR DE MERCADO
Fonte: Folha online, 19/09/2010
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