domingo, 26 de setembro de 2010

O fim da divisão entre ‘on’ e ‘off-line’

Entrevista, mobilidade
Foto: Divulgação

Aos 39 anos, Ricardo Cavallini acaba de lançar seu quarto livro: Mobilize (download gratuito), em coautoria com Léo Xavier e Alon Sochaczewski. Trata-se de um desafio pessoal. Isso porque na obra o vice-presidente de convergência da agência Fischer+Fala! e seus parceiros se impõem a tarefa de mostrar qual o real impacto dos dispositivos móveis na publicidade e também na vida de cidadãos do mundo – e especialmente do Brasil. Diz o publicitário no texto: “Vivemos num país onde há mais acesso à telefonia móvel do que à rede de esgoto ou água tratada”. Por mais chocante que pareça a informação, ela reflete a grande penetração dos dispositivos móveis no país. O Brasil de 192 milhões de habitantes fechou o mês de agosto com o registro de 189,5 milhões de linhas de celulares, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Na entrevista a seguir, Cavallini comenta os reflexos da geolocalização, da realidade aumentada e da mobilidade sobre nossas vidas. E prevê: “No futuro, não teremos mais divisão entre mundo on-line e off-line”.

A rede 4G – próxima e mais rápida geração de transmissão de dados e voz com dispositivos móveis – já deu os primeiros passos nos Estados Unidos. Ainda não há data certa para a tecnologia aportar no Brasil, mas já é possível antever seus benefícios ao país?
O 4G pode acelerar a curva de adoção de banda larga no Brasil. E, com certeza, irá superar o número de pessoas que acessam a internet em residências. Teremos ainda mais pessoas conectadas. Consequentemente, o valor da rede aumenta exponencialmente. O que contribuiu com o pensamento de que, no futuro, não teremos mais divisão entre mundo on-line e off-line.

Então, será esse o cenário que nos aguarda?
No futuro próximo, estaremos conectados o tempo todo. Os objetos à nossa volta vão se comunicar entre eles, o que permite acabar com a ideia de dividir tarefas nos mundos on-line e off-line. E essa transição começa a acontecer no Brasil. Em um dos meus livros, O Onipresente, eu cito um exemplo retirado do cotidiano de um adolescente, que diz: “Eu vou estudar, depois irei à natação e depois ao Orkut”.


Os recursos de geolocalização, que permitem relacionar usuários de redes de comunicação e lugares do planeta, está se popularizando. Isso poderá colocar a privacidade em xeque?
A privacidade é algo complexo. Hoje, é um conceito subjetivo. Vamos pensar nas redes sociais. Grande parte dos brasileiros é adepta desses sites para se relacionar: quer ver e ser vista. O que eu considero como invasão de privacidade é, geralmente, o que cadastrados no Facebook ou Orkut fazem – revelando e buscando muitas informações pessoais. Mas isso tende a acabar. É um processo de amadurecimento. O cenário será exatamente igual ao ocorrido no início da estabilização da economia, com acesso ao crédito: muitos brasileiros se endividaram além da conta. Hoje, as pessoas lidam com isso de uma forma mais madura – já se programam, não entram em vários financiamentos. É a velha evolução natural do ser humano.

Qual é a sua opinião sobre o uso crescente da realidade aumentada?
Como em toda tecnologia, há o período de exagero em torno do recurso. Perde-se a relevância. Ao passar a febre, fica a sensação de que a funcionalidade não existe mais. Mas assim como o QR Code (código de barras bidimensional capaz de armazenar diversas informações, como textos e links), a realidade aumentada traz benefícios reais, como o já conhecido sistema usado pelas emissoras de TV em jogos de futebol para indicar, por meio de linhas virtuais, se um jogador está impedido ou não. Cabe aos profissionais da comunicação tornar os recursos relevantes. É importante lembrar algo de que muita gente se esquece: a realidade aumentada é um recurso antigo, usado há muitos anos no visor dos capacetes de pilotos de caça americanos: imagens projetadas ali ajudam os militares a controlar a aeronave.
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Fonte: http://veja.abril.com.br/25/09/2010

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